ARLA/CLUSTER: Falhas no incndio no concelho da Sert

Joo Paulo Saraiva A.E. CT1EBZ joaosaraiva112 gmail.com
Segunda-Feira, 23 de Outubro de 2017 - 12:35:42 WEST


*Falhas no incêndio no concelho da Sertã*
Tivemos a oportunidade de constatar “in loco” o que abaixo descrevemos, e
concluir que quatro meses após a tragédia de Pedrogão Grande, no essencial
nada mudou. Não, seguramente não foi feito tudo o que podia ter sido feito
fazer para proteger e socorrer.
1. O Posto de Comando não monitorizou as radiocomunicações dos cidadãos,
nem CB (citizen band), nem PMR446, o que fez com que não tivessem acesso ao
que vigias florestais e outros cidadãos relatavam em canal 2 PMR446, na
frequência de 446.01875MHz, e os operacionais da APROSOC tal como previsto
em toda a Europa comunitária e demais países do mundo em 27.065MHz, na
Banda do Cidadão, mas que Portugal não cumpre, não monitoriza, não quer
saber, e por isso deixa morrer e arder. Só assim se explica a ausência de
resposta por esses canais.
2. Sem acesso à informação direta dos cidadãos, e sem equipas de
reconhecimento e avaliação de situação em número suficiente, apesar de todo
o louvável esforço dos bombeiros no local e seus elementos de comando e
chefia, a informação não chegou em tempo útil, tendo por isso sido perdidas
oportunidades de salvar algumas casas.
3. O incêndio chegou a estar dominado pelos Bombeiros durante a noite,
contudo devido à escassez de Bombeiros e meios no terreno para combater,
fazer e consolidar o rescaldo, bem como inexistência de militares para essa
missão, com os primeiros raios de sol e sopros de vento da manhã de 2ª
feira dia 16 o incêndio voltou a lavrar com grande intensidade, o que
poderia ter sido possível evitar com a presença de militares no reforço da
ação dos bombeiros.
4. Os serviços municipais de proteção civil, bem como os gabinetes
municipais de proteção civil da região não possuem redes de
radiocomunicações de proteção civil (REPC-Rede Estratégica de Proteção
Civil, e Rede Municipal de Proteção Civil), dificultando assim a gestão das
operações de proteção civil.
5. Uma vez mais, não foram empregues meios aéreos tripulados ou não
tripulados para a observação privilegiada do teatro de operações (apesar de
quase todas as forças de segurança e forças armadas disporem destes meios),
fator decisivo para que muitas habitações não tivessem sido poupadas,
porque o posto de comando de operações e meios no terreno desconheciam a
realidade da extensão do incêndio, suas frentes, e novos focos de incêndio
resultantes de projeções.
6. Não foram usados os telemóveis, telefones fixos, ou órgãos de
comunicação social para fazer chegar à população avisos contendo a
informação do risco expectável, as recomendações de autoproteção, ou mesmo
as interdições, nada, as pessoas ficaram entregues a si próprias.
7. A localização do posto de comando não possibilitava a observação mais
privilegiada de toda a zona afetada, e não houve sequer um posto avançado
no cabeço junto ao Hotel da Montanha, local escolhido e bem pelos órgãos de
comunicação social para a observação e captação de imagens nas primeiras
horas.
8. Não se observaram redes alternativas de radiocomunicação preparadas para
a eventualidade do SIRESP e telemóveis falharem.
9. Vários cabos de telecomunicações arderam, e muitas pessoas ficaram sem
comunicações, mas nem por isso se adotaram formas alternativas e comunicar
com a população.
10. Ouvimos o desespero legítimo de um comandante de Bombeiros dizer que
também queria mais meios, mas tinha ali tudo o que conseguia
disponibilizar.
11. Ouvimos e demos resposta a pedidos de socorro, e apelos feitos nas
redes sociais, feitos em frequências de radioamadores, nomeadamente da zona
de Seia, de Oliveira de Hospital, e outras, em muitos casos cercadas pelas
chamas e que não tinham outra forma de comunicar, nenhum serviço de
proteção civil os escutou, apesar de muitos deles terem equipamentos de
radioamador, tal como a própria ANPC na sede, nos Comandos Distritais de
Operações de Socorro, e em Viaturas de Comando e Comunicações, mas que em
muitos casos nem sequer foram ligados.
12. Não foi mobilizado para o local qualquer dispositivo de emergência
pré-hospitalar do INEM, forças armadas, ou mesmo de empresas de ambulâncias
privadas com essa capacidade. Só mesmo por acaso o desfecho não foi mais
trágico ainda.
13. Não foi sequer solicitado à Autoridade Nacional de Comunicações que
monitorizasse os pedidos de socorro e outras informações relevantes através
das bandas de uso livre usadas pelos cidadãos, nem aquela autoridade tomou
aparentemente tal iniciativa.
Cumpre-nos fazer um elogio público aos Bombeiros que ali operaram no
combate às chamas, bem como aos militares da Guarda Nacional Republicana.
Não auto elogiamos o nosso próprio trabalho neste Teatro de Operações, até
porque o entendemos singelo.
Cumpre-nos igualmente lamentar a aparente falta de competência dos autarcas
na gestão do nível local de proteção civil, em muitos casos próprio de um
país de terceiro mundo, e do Governo central na falta de estratégia para o
nível local da proteção civil, teimando manter a quebra na cadeia de
comando do nível distrital para o nível municipal.
Para nós, enquanto houver gente a pedir ajuda por um qualquer legal meio de
comunicação, nas respetivas frequências de emergência, e outras em que seja
expectável, e do outro lado ninguém responder, haverá para nós sempre
alguém responsável pelo que a essas potenciais vítimas acontecer.
Desejamos com este contributo, contribuir tão somente para a identificação
de aspetos a corrigir, no sentido de efetiva correção, porque a proteção
civil não é o que somos, é o que fazemos.

-- 
Melhores Cumprimentos,

*João Paulo Saraiva* Amaral da  Encarnação (CT1EBZ)

Telefone Móvel: *910 910 112*
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