Re: ARLA/CLUSTER: Porque querem os galegos ver televisão (e ouvir radio) portuguesa ?

Gomes ct1hix sapo.pt
Segunda-Feira, 6 de Janeiro de 2020 - 10:50:28 WET


Bom dia

Bom dia

Na minha opinião,  esta exigência não passa de mais uma forma dos 
nacionalistas galegos enfrentarem Espanha, politiquices que os pacóvios 
dos jornalistas portugueses tratam de dar eco. Como se as ondas 
eletromagnéticas tivessem fronteiras!
Na verdade quem invadiu Portugal sem necessidade de acordo foi a TDT 
Espanhola entregando dezenas de canais grátis enquanto que em Portugal a 
TDT se tornou um negocio de milhões para alguns.
A TV portuguesa é deprimente....

73, Gomes op: CT1HIX
https://ct1hix.net/

Às 06:43 de 06/01/20, João Costa > CT1FBF escreveu:
>
> Nas complicadas negociações para a formação do novo governo espanhol, 
> um dos vários acordos assinados tem uma cláusula curiosa: o BNG (Bloco 
> Nacionalista Galego) exigiu em troca do seu voto a favor de Pedro 
> Sánchez, que as televisões (e as rádios) portuguesas começassem a ser 
> transmitidas na Galiza. Este pedido não é novidade: a transmissão das 
> nossas televisões lá por cima está prevista na Lei Paz-Andrade (em 
> galego: «Lei nº 1/2014, do 24 de marzo, para o aproveitamento da 
> lingua portuguesa e vínculos coa lusofonia»), aprovada em 2014 pelo 
> Parlamento da Galiza — por unanimidade! Todos os partidos, da esquerda 
> à direita, concordaram: querem ver televisão portuguesa na Galiza e 
> querem o ensino do português nas escolas galegas. O certo é que a lei 
> não teve muitos efeitos — o que o acordo assinado pelo BNG e o PSOE 
> prevê é a aplicação das normas já aprovadas (o acordo prevê, na sua 
> versão em galego, «).
>
> Talvez estes pedidos surpreendam muitos portugueses. Mas são naturais. 
> O galego e o português estão tão próximos que, na Galiza, há uma 
> antiga discussão sobre se são ou não a mesma língua. Sejam ou não, o 
> certo é que um galego compreende um português sem grandes dificuldades 
> (principalmente, diga-se, se o português falar um sotaque do Norte). 
> Incentivar o ensino do português e a transmissão das nossas televisões 
> na Galiza permite aos galegos aproveitar a sua própria língua para 
> comunicar com todos os falantes de português, que ainda são uns quantos.
>
> Para nós, é uma surpresa. Mas não devia ser: a nossa língua tem origem 
> no que já se falava no noroeste da Península no momento em que Afonso 
> Henriques se tornou rei de Portugal. Era uma língua que não se chamava 
> português (os falantes chamar-lhe-iam «linguagem») e que se falava no 
> que é hoje a Galiza e o Norte de Portugal.
>
> Se andarmos uns quantos séculos para a frente e chegarmos aos anos 80 
> do século XX, o que vemos? Em Portugal, a língua é chamada, há 
> séculos, português e é a língua nacional e oficial para lá de qualquer 
> dúvida (além de ser falada noutros países). Na Galiza, a população 
> continua a falar uma língua que descende da língua que já era falada 
> na época de Afonso Henriques, mas o castelhano foi usado como língua 
> oficial durante séculos. Entre o que se fala em Portugal e a Galiza 
> há, agora, tanto tempo depois, várias diferenças, tanto na fonética, 
> como no vocabulário. Mas o mais extraordinário, tendo em conta o tempo 
> que passou desde que apareceu a nossa fronteira a norte (uma das 
> fronteiras mais antigas do mundo!), é a proximidade entre o que se 
> fala na Galiza e em Portugal.
>
> Pois bem, quando a Galiza ganha autonomia, nos anos 80, a língua 
> torna-se oficial, em conjunto com o castelhano. Perante a proximidade 
> entre galego e português, revelaram-se duas tendências: uma delas 
> assume o galego como uma língua separada do português, defendendo uma 
> ortografia com «ñ» e «ll». Outra tendência defende que o galego deve 
> procurar integrar-se no mundo de língua portuguesa, defendendo uma 
> ortografia com «nh» e «lh». A questão, claro, é mais complexa: há 
> também questões vocabulares e sintácticas (e muitas divisões dentro de 
> cada tendência).
>
> Nos anos 80, ganhou a tendência do «ñ» e do «ll» e é essa a ortografia 
> oficial, usada pelo governo da região, presente nas placas das ruas, 
> ensinada nas escolas. A outra tendência (chamada «reintegracionista») 
> não desapareceu e ainda hoje está activa em muitos meios galegos. Nos 
> últimos tempos, parece haver uma aproximação entre os dois campos. A 
> Real Academia Galega, que defende a ortografia oficial, escolheu 
> Ricardo Carvalho Calero, escritor e académico galego falecido em 1990, 
> o grande nome do reintegracionismo, como nome a homenagear no Dia das 
> Letras Galegas de 2020 — na Galiza, esta é uma honra como poucas. 
> Deixo um vídeo em que, nos anos 80, Carvalho Calero discute «o porvir 
> da língua». É fácil ver como as palavras que Carvalho Calero estão 
> muito próximas das nossas palavras. Basta reparar que diz «a língua» e 
> não «la lengua»…
>
> Para nós, em Portugal, as discussões entre galegos são difíceis de 
> acompanhar. Para muitos portugueses, a dificuldade começa em ouvir o 
> galego. Não só ouvimos muito castelhano quando vamos à Galiza (nas 
> últimas quatro décadas, o uso do galego diminuiu de forma marcada, 
> principalmente nas cidades), como sentimos a estranheza da fonética 
> bastante diferente da nossa. Mas não há que enganar: se não estamos 
> perante a nossa língua, estamos perante a mais próxima das línguas. 
> Tão próxima que há muitos galegos que querem ouvir as nossas 
> televisões… É um espanto — que ainda se torna maior se pensarmos que 
> até a saudade é (também) galega! Sim, também os galegos se afadigaram 
> a discutir a saudade como sentimento muito seu, propalando a sua 
> mítica intraduzibilidade. Enfim, seja ou não intraduzível, o certo é 
> que a palavra existe: em português — e em galego!
>
> Marco Neves | Escreve sobre línguas e outras viagens na página Certas 
> Palavras. É autor da Gramática para Todos — O Português na Ponta da 
> Língua.
>
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