ARLA/CLUSTER: O paraquedas é uma invenção renascentista que continua a dar muitas dores de cabeça.

João Costa > CT1FBF ct1fbf gmail.com
Segunda-Feira, 11 de Novembro de 2019 - 20:29:09 WET


   Eles são uma invenção renascentista, cumprem um papel fundamental na
exploração espacial hoje e ainda dão dores de cabeça para muita gente. Não
é intuitivo que paraquedas possam ser motivo de crise para projetos
espaciais, mas é exatamente esse o caso para diversos programas bilionários
em andamento.

Como ideia, eles existem desde a antiguidade. O primeiro design de fato
funcional conhecido foi gerado pelo gênio polímata Leonardo da Vinci, ao
redor de 1485. E ele ficaria surpreso de ver sua invenção hoje ajudando
humanos a chegarem a Marte ou a retornarem à Terra. Mas não sem
dificuldades.

Em abril, a SpaceX realizou um importante teste dos paraquedas a serem
instalados em sua cápsula tripulada Crew Dragon. A ideia era ver se três
dos quatro paraquedas poderiam realizar o pouso em segurança, caso um deles
falhasse. Não deu certo. Desde então, a empresa reformulou o sistema e, no
dia 31 de outubro, iniciou uma campanha intensa de testes para se
certificar de que estarão prontos para uso em uma missão tripulada no ano
que vem.

Em maio, a Agência Espacial Europeia testou os paraquedas que pretende usar
para levar à superfície de Marte, no começo de 2021, o jipe robótico
Rosalind Franklin, da missão ExoMars. Os dispositivos foram levados por
balão até a alta atmosfera, para simular as condições do rarefeito ar
marciano, e então testados. Mas falharam. O peso pendurado a eles desceu em
alta velocidade, e os paraquedas se rasgaram.

Modificações foram feitas, e um novo teste foi realizado em agosto. De
novo, uma falha. Os europeus decidiram se consultar com a Nasa, maior
especialista em pousos marcianos, e novos testes devem acontecer no começo
de 2020. Se falharem, a agência terá de adiar o envio do jipe até a próxima
janela de lançamento para Marte.

A Boeing realizou em 4 de novembro um teste de ejeção de sua cápsula
Starliner. O sistema de escape funcionou, mas apenas 2 dos 3 paraquedas se
abriram corretamente no retorno ao solo. A empresa identificou a falha: uma
conexão frouxa entre o paraquedas piloto (que abre primeiro e ajuda a puxar
o principal) impediu a abertura correta. Agora é corrigir para os próximos
voos.

Parece incrível que, depois de quase 600 anos, ainda seja tão difícil
contar com o desempenho de paraquedas. Eles funcionam bem no dia a dia para
saltadores e aviadores, mas se tornam um pesadelo no ambiente mais
desafiador de altas velocidades, atmosfera rarefeita e altas massas da
exploração espacial. Seu funcionamento é dificílimo de simular, exigindo
muitos testes (e falhas) para seu aperfeiçoamento. Séculos depois, pode-se
dizer que ainda são tanto ciência quanto arte.

Fonte: Folha de São Paulo
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