ARLA/CLUSTER: Perdoem-me o desabafo.

David Quental (CT1DRB) ct1drb72 gmail.com
Sábado, 25 de Maio de 2019 - 12:13:52 WEST


Os melhores cumprimentos aos caros colegas.
Desde já aviso que este texto será um bocado longo e como tal não é aconselhável a colegas que não gostem de ler.
Na altura em que eu era sócio da REP cheguei a conviver com alguns dos seus presidentes de direcção e um deles chegou a afirmar que não gostava de concursos (até aqui tudo bem) e que os colegas que participavam nos ditos concursos eram cuspidores de microfones (e aqui estragava a pintura toda).
É óbvio que quem está neste hobby não é obrigado a gostar do que eu gosto como eu não sou obrigado a gostar do que os outros gostam, mas...há mínimos.
Desde que consegui vencer a batalha com o condomínio, já lá vão alguns anos (mais precisamente em abril de 2012, como o tempo passa), que consegui instalar antenas, bem modestas por sinal, que permitem que eu faça alguma actividade e desde essa altura até agora já fiz cerca de 17215 qso’s.
Bem entendido que alguns destes qso’s foram em portátil mas mesmo assim, apesar das minhas modestas condições, fico muito satisfeito com os números de acima pois muitos deles são devido aos diversos concursos em que eu participo.
No entanto, uma coisa que salta à vista são as várias vezes em que sou campeão pelo nosso país, precisamente porque não há mais colegas portugueses, nos ditos concursos.
A verdade é esta, se participo em concursos em Espanha há espanhóis a participarem, o mesmo se passa em França, Holanda, Bélgica, Alemanha, Suiça, Itália, Austria, República Checa, Polónia, Eslováquia, Croácia, Hungria, Roménia, Russia, Brasil, etc. Para falar a verdade não me lembro de nenhum concurso em que tenha participado em que os respectivos naturais não se façam presente a não ser, claro está, em concursos nacionais portugueses.
Este contra-ciclo, demonstrado pelos exemplos acima, causa alguns constrangimentos. Se por um lado para quem participa, porque não há mais concorrência nacional, obtém boas classificações por outro lado há organizadores estrangeiros que se queixam da quase nula participação dos colegas portugueses e um deles, muito recentemente, pediu-me que divulga-se um dos últimos concursos em que participei.
Talvez porque não desse o meu melhor, e mais uma vez, a participação de colegas portugueses foi outra vez baixa.
O caso mais engraçado, e talvez o mais triste, é haver concursos patrocinados pelos colegas espanhóis em que o âmbito é peninsular e nem mesmo assim há participantes portugueses.
Aqui convém ser justo, nos concursos em VHF, UHF e 1,2GHz patrocinados pelos colegas espanhois, tem havido bastante participação portuguesa e algumas honrosas classificações. No entanto, em HF e principalmente em CW, a participação é quase nula.
Não quero dizer que não respeite as decisões individuais de cada um (a isso somos obrigados como cidadãos a viver num país democrático), mas, pensemos um bocado, será que é o melhor comportamento ?
Voltemos ao inicio do meu texto. O tal presidente da REP, apesar de todo o respeito que merece a opinião dele acerca dos concursos, deixou de ter razão quando disse que quem participa eram cuspidores de microfones (não me lembro qual o nome que ele atribuía a quem fazia CW). Além de demonstrar alguma falta de respeito demonstrou igualmente uma enorme ignorância.
Quando se participa num concurso há um sem número de áreas que temos de considerar:
1) que tipo de concurso vamos participar;
2) que tipo de antena iremos utilizar;
3) quais as melhores estratégias para fazer mais pontos ou multiplicadores;
4) que potência iremos utilizar;
5) que software iremos utilizar;
6) se se vai participar sozinho ou em equipa;
7) caso vá participar em equipa decidir que tipo de material cada um dos elementos irá disponibilizar;
8) coisas tão simples como adquirir viagens de avião se vai participar num concurso no estrangeiro ou num ponto mais afastado;
9) saber operar com a propagação, ou a falta dela;
10) saber utilizar os meios ao nosso alcance para aumentar a rentabilidade.
E com certeza há muitos mais pontos que se podem considerar e talvez mais importantes dos que eu aqui enumerei.
O que quero dizer é muito simples, tudo o que provoque, no bom sentido, tráfego nas nossas bandas é sempre positivo seja em concursos como em actividades de outro tipo.
Igualmente há quem critique a atitude dos nossos colegas espanhóis que enchem os 40 metros com actividades e concursos durante os fins de semana. Lamento não estar de acordo com quase todos os colegas portugueses, mas eles é que estão certos.
Também são levadas a cabo activações nacionais igualmente interessantes com conteúdo histórico e, mais uma vez, a participação portuguesa é muito baixa. Sei de fonte segura que há colegas espanhóis que agradecem este tipo de activações o que é sempre bom de ouvir.
Por isso pergunto, aonde estão os cerca de 6000 radioamadores portugueses ?
Nas bandas de radioamadores não devem estar.
Outro pormenor que me deixa algo triste é o seguinte:
como todos sabem o facto de ser radioamador hoje em dia poderá levar, de acordo com as possibilidades de cada um, a um empate de capital considerável e mesmo levar vários colegas a fazerem sacrifícios para adquirem os seus equipamentos e respectivos materiais associados. É para mim algo estranho saber de colegas que fizeram consideráveis esforços monetários para depois não fazerem qualquer tipo de actividade. A esta atitude, perdoem-me os colegas, chama-se esbanjar.
É lógico que cada um faz aquilo que bem entender da sua propriedade, mas qual a lógica de ter um rádio, que transmite e recebe, para depois não o usar ? Se não quer usar para transmitir mais vale comprar um receptor. Se nem mesmo assim quer ser um SWL nem vale a pena comprar qualquer tipo de equipamento.
Sem querer alongar este meu extenso texto quero deixar no ar as seguintes perguntas:
será que vale a pena comprar equipamentos para o VHF, UHF ou 1,2 Ghz, como o IC-9700 por exemplo ?
Ou comprar mais material adicional para depois não ser usado por falta de actividade no VHF, UHF e nos 1,2 Ghz ?
Com os melhores 73/88.

CT1DRB
David Quental

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