ARLA/CLUSTER: Nave extraterrestre? "É um artigo válido e legítimo", diz o astrónomo Rui Agostinho sobre o trabalho de Avi Loeb sobre o Oumuamua

João Costa > CT1FBF ct1fbf gmail.com
Quinta-Feira, 21 de Março de 2019 - 13:19:55 WET


O problema do misterioso objeto espacial baptizado de Oumuamua (uma palavra
havaiana que significa "um mensageiro de longe que chega primeiro" )
(formalmente designado 1I/'Oumuamua, anteriormente Cometa C/2017 U1
(PANSTARRS) e posteriormente Asteróide A/2017 U1) começou logo na
trajectória hiperbólica de aproximação ao Sol. Todos os cálculos apontaram
para uma origem extra-Sistema Solar, não que seja caso único, mas contam-se
pelos dedos os casos documentados até hoje. A alta excentricidade do
'Oumuamua" de 1,20, a mais alta do que a de qualquer objeto já observado no
Sistema Solar, indicava que ele nunca esteve gravitacionalmente ligado ao
Sistema Solar e é sem duvida um objeto interestelar devido também à sua
alta velocidade de entrada.

No entanto, o mais estranho era o que estava para vir, contrário a tudo o
que é conhecido, o objecto ao se afastar do Sol e sem qualquer influencia
gravitacional alem de Júpiter, este não perdeu velocidade mas antes ganhou
aceleração numa trajectória para fora do sistema solar. Até hoje, e com os
dados disponíveis, não foi possível explicar o seu estranho movimento.

"Por exemplo, num cometa, quanto mais longe do Sol, menor a aceleração e
menor a velocidade. No caso do Oumuamua, aconteceu o contrário, aumentou a
velocidade e a aceleração à medida que se afastava", nota Rui Agostinho.

João Costa (CT1FBF)


Conceção artística do Oumuamua

European Southern Observatory/M. Kornmesser


Nave extraterrestre? O Investigador do Instituto de Astrofísica reconhece
"interesse científico" na tese do astrónomo americano sobre o Oumuamua, um
misterioso objeto espacial detetado em 2017. "Às vezes as teorias demoram
muito tempo a serem comprovadas"

SARA SÃ, Jornalista da Visão

A referência a uma nave extraterrestre surge apenas duas vezes, ao longo de
um artigo científico cheio de contas e cálculos complicados: na última
linha da introdução e no penúltimo parágrafo do texto. No entanto, todo o
bruá em torno do trabalho do astrónomo da Universidade de Harvard, Avi
Loeb, publicado na revista científica Astrophysical Journal Letters, tem
origem neste comentário lateral.

"A hipótese de se tratar de um objeto produzido por extraterrestres é
meramente especulativa. E o autor sabe disso", sublinha o astrónomo do
Instituto de Astrofísica e Ciências do Espaço, Rui Agostinho. Mas isto não
retira valor ao artigo, defende o Diretor do Observatório Astronómico de
Lisboa. "Está bem escrito, bem analisado e levanta questões pertinentes."

Publicado em novembro do ano passado, numa revista que se apresenta como
uma publicação "expresso", destinada a divulgar "investigação relevante e
original", o trabalho descreve o movimento do Oumuamua, um objeto detetado
por telescópio do Havai, em 2017.

Até hoje, e com os dados disponíveis, não foi possível explicar o seu
movimento. E é por isso que Avi Loeb se dedicou a estudá-lo, para tentar
justificar o seu comportamento, contrário a tudo o que é conhecido. "Num
objeto distante do Sol [neste caso, para lá da órbita de Júpiter] a força
gravítica diminui com a distância à estrela. Por exemplo, num cometa,
quanto mais longe do Sol, menor a aceleração e menor a velocidade. No caso
do Oumuamua, acontece o contrário, aumenta a velocidade e a aceleração à
medida que se afasta", nota Rui Agostinho.

Uma possível explicação para este fenómeno, avança o astrónomo de Harvard,
é a pressão de radiação. Um tipo de força devida à radiação solar e que é
tanto maior quanto maior a área de exposição à luz. Tudo está sujeito a
esta força, até nós. Mas em objetos de grande massa relativamente à área de
exposição o efeito é indetetável. No objeto agora descrito poderá, no
entanto, existir um efeito de "vela", em que existe uma grande área
superficial para uma espessura muito pequena.

"Pela órbita do objeto, verificamos que não está preso à órbita do Sol,
está a ir-se embora", reforça Rui Agostinho. Por outro lado, não é nova a
sugestão de se usar a pressão de radiação para fazer mover uma nave. "Esta
ideia de se usar uma sonda com uma vela, para ser empurrada, já é velha",
refere o astrónomo português.

Mas, como sublinha o professor de Física, "às vezes as teorias demoram
muito tempo até serem comprovadas". E este mistério é bem provável que
permaneça, quem sabe se para todo o sempre. "O objeto está a afastar-se,
portanto é cada vez mais difícil recolher informação, nomeadamente sobre a
sua trajetória inicial e as forças gravíticas a que está sujeito."

Parece que vamos ter de viver com a dúvida.
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