ARLA/CLUSTER: Incêndios em Portugal 2017: Pirocumulonimbo pode ser a explicação!?

João Costa > CT1FBF ct1fbf gmail.com
Terça-Feira, 31 de Outubro de 2017 - 12:23:28 WET


Pirocumulonimbo, a monstruosa e rara tempestade que se repetiu a 15 de outubro

Nunca tinha sido registado mais do que uma vez no mesmo ano e no mesmo
país. Mas pode ser o motor que explica como é que os incêndios de 15
de outubro foram tão poderosos. Chama-se pirocumulonimbo.

MIGUEL A. LOPES/LUSA
Autor

Os incêndios que deflagraram entre a Pampilhosa da Serra e a Sertã a
15 de outubro podem ter-se propagando mais rapidamente por causa de
uma tempestade semelhante àquela que agravou os fogos de Pedrógão
Grande em junho: o pirocumulonimbo, uma nuvem de dimensões gigantescas
que pode acontecer quando há interação de um incêndio com a atmosfera.
Mas este é um fenómeno raro, explicou ao Observador o investigador
Paulo Fernandes: nunca tinha sido registado duas vezes no mesmo país e
no mesmo ano. E pode ter servido de catalisador dos fogos na zona
centro do país.

Fenómenos como este ocorrem se um incêndio interage com a atmosfera
quando ela está muito instável, tal como aconteceu em Pedrogão Grande.
Quando a atmosfera oferece pouca resistência à subida do ar, uma
grande nuvem de desenvolvimento vertical pode atingir mais do que 10
quilómetros de altitude e com ela arrastar enormes quantidades de
energia libertadas pelo fogo. O pirocumulonimbo foi observado em
fotografias e dados atmosféricos recolhidos em Pedrogão Grande, onde
esta nuvem atingiu os 14 quilómetros de altitude e deu origem ao
downburst, os ventos de grande intensidade que se movem de cima para
baixo e depois se espalham em todas as direções ao chegar ao solo, ao
encontrar uma frente fria. Agora, Paulo Fernandes — perito da Comissão
Técnica Independente que estudaram os acontecimentos de junho — diz
que tudo se pode ter repetido na zona centro do país, quatro meses
depois.

Para que uma nuvem pirocumulonimbo aconteça não basta que haja um
incêndio e uma atmosfera instável. Conforme explicou Paulo Fernandes
ao Observador, é preciso uma grande quantidade de biomassa para arder
(que serve como combustível), um teor de humidade muito baixo, ventos
muito fortes e um terreno inclinado.

Todas essas condições estavam reunidas nos locais afetados pelos
incêndios a 15 de outubro: havia uma grande área florestal em chamas,
a vegetação estava muito seca por causa do calor, a humidade no ar
rondava os 15%, os terrenos eram inclinados e o furacão Ophelia havia
criado ventos fortes que chegaram a ultrapassar os 100 km/h de
velocidade.

O pirocumulonimbo não está na origem dos incêndios de 15 de outubro,
mas pode ter surgido em consequência deles e torná-los ainda mais
colossais: quando os fogos ficam à mercê de tempestades como estas
tornam-se “menos previsíveis, com maior capacidade de propagação e com
maior probabilidade de emitir projeções” que os expandam ainda mais,
descreve Paulo Fernandes.

Além disso, também tornam os incêndios mais turbulentos porque se
alimentam dos ventos vindos da tempestade e criam ainda mais correntes
de ar. Tudo isso coincide com os testemunhos que o investigador
recolheu nas regiões afetadas pelos fogos: por lá, a população fala de
ventos muito fortes, árvores com troncos largos partidas ao meio,
persianas arrancadas das janelas e enroladas a árvores a longas
distâncias e em raios no meio dos incêndios. No entanto, são precisos
mais estudos para chegar a conclusões sobre o que aconteceu nos
incêndios de há duas semanas.



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