ARLA/CLUSTER: Os americanos devem estar loucos...duas marcas de automóveis deixam de disponibilizar rádios AM/FM nos veículos dentro de dois anos e que as restantes marcas abandonem tal sistema dentro de 5 anos.

João Costa > CT1FBF ct1fbf gmail.com
Terça-Feira, 12 de Novembro de 2013 - 23:09:05 WET


Se a indústria automóvel está ligada à da radiodifusão há décadas, tal
deve-se à inclusão de receptores de rádio nos automóveis e veículos em
geral, os conhecidos auto-rádios. Dos antigos receptores a válvulas
que ocupavam bastante espaço dentro do carro até aos modernos
auto-rádios que lêem formatos como o MP3, a tecnologia evoluiu
significativamente; no entanto, os rádios não deixaram de ser...
rádios, isto é, continuam a receber as emissões electromagnéticas
"sentidas" pela antena, que são filtradas e amplificadas dentro do
aparelho e transmitidas electricamente aos altifalantes do carro.
Mas... e se os rádios dos futuros carros deixassem de receber emissões
radiofónicas em FM e Onda Média (e porventura emissões digitais)? A
acreditar no artigo "A cold, harsh reality for radio" [página Web em
inglês], da Radio Ink Magazine, os representantes do sector automóvel
americano prevêem que duas marcas de automóveis deixem de
disponibilizar rádios AM/FM nos veículos dentro de dois anos e que as
restantes marcas abandonem tal sistema dentro de 5 anos. A ideia-chave
na cabeça de quem constrói carros é que os consumidores jovens que
adquirem automóveis preferem ouvir música através de serviços como o
Spotify ou Pandora. Se querem ouvir rádio, podem optar pelo TuneIn ou
pelo iHeart - em qualquer dos casos, serviços baseados na Internet.

Se, em teoria, a ideia poderá satisfazer os mais acérrimos defensores
das novas tecnologias, a dependência da Internet para a escuta de
rádio levanta um conjunto sério de problemas. A começar pelas estações
de rádio, que deixam de competir entre si dentro da mesma região para
terem de enfrentar a concorrência de, quase literalmente, todo o
mundo. Por outro lado, Eric Rhoads, o autor do artigo mencionado,
alerta para o facto de boa parte dos compradores de automóveis nos
Estados Unidos serem pessoas menos jovens e mais apegadas à rádio.
Pessoas que preferem ouvir a rádio da sua região e para quem ouvir
rádio na Internet não é a mesma coisa - um factor que pode ser
desfavorável às marcas de automóveis se a ideia for avante. Outro
problema deriva da própria concepção do sistema: passando os
automóveis a comunicar com a Internet através das redes de telemóvel,
tal implica que, nos locais recônditos do território americano onde as
redes móveis falham, o ouvinte fique impossibilitado de escutar rádio.
Pode até acontecer que, ironicamente, o emissor FM mais próximo esteja
a umas centenas de metros mas não seja escutado no carro...

Não obstante a importância dos pontos anteriores, existe um quarto
argumento verdadeiramente preocupante: numa emergência real, em que os
condutores são aconselhados a acompanhar as emissões de rádio, confiar
numa estrutura de comunicações tão complexa que assegura a transmissão
dos dados desde o servidor ao fornecedor de acesso (ISP) contratado
pelo ouvinte, passando pela célula da rede de telemóveis ao qual o
ouvinte se encontra ligado e terminando na antena de telemóvel
instalada no carro é, se me permitem a analogia, como confiar no INEM
a partir do momento em que o serviço de emergência médica deixasse de
usar quaisquer helicópteros - se, em condições normais de circulação
rodoviária, as ambulâncias têm -em maior ou menor grau - de se
sujeitar às circunstâncias do trânsito, imagine-se uma situação em que
dezenas de acidentados têm de circular por uma estrada onde, além das
respectivas ambulâncias, circula uma quantidade elevada de veículos
não prioritários que acaba por causar engarrafamentos. Pior: e se uma
das estradas vitais para o escoamento dos pacientes estiver cortada? O
helicóptero pode ser mais caro e ter outros problemas, mas voa
(literalmente) por cima de quaisquer problemas de tráfego rodoviário.
Voltando à rádio, o que seria se a quantidade de ouvintes preocupados
com uma catástrofe em solo americano se ligasse à Internet numa altura
em que parte das infra-estruturas de dados estivesse destruída,
sujeitando-se ao congestionamento da rede global, para não falar de
zonas do país onde as células das redes móveis não resistissem à
calamidade? Com uma recepção de rádio por via hertziana, desde que as
antenas de radiodifusão não sejam afectadas, milhões de condutores
podem ter acesso instantâneo a informação em tempo real, uma vez que a
qualidade da transmissão não depende do número de ouvintes. Na
Internet, a largura de banda disponível no servidor tem de ser
partilhada pelos ouvintes - se demasiados ouvintes tentam acompanhar a
emissão, a rede não dá vazão a tantos pedidos e uma parte
significativa dos cibernautas simplesmente não consegue ouvir rádio
via Internet. Num país caracterizado por regiões frequentemente
sujeitas a furacões e onde já ocorreram ataques terroristas graves,
além de outras tragédias, depender da Internet numa situação de
emergência pode agravar ainda mais o sofrimento físico e psíquico das
populações, se estas ficarem impossibilitadas de escutar rádio no
intuito de recolher informação que, em última análise, pode salvar
vidas!

Último argumento, intimamente ligado ao quarto: uma célula de
telemóvel cobre uns escassos quilómetros. Um emissor FM de
média/elevada potência cobre dezenas até mais de uma centena de
quilómetros. Em caso de emergência, o emissor FM pode ser escutado em
áreas altamente desvastadas. As células da rede móvel, se não
colapsarem, podem ficar inoperacionais por perderem o contacto com
outras infra-estruturas. Se o comum do cidadão pudesse optar, qual dos
sistema preferiria, considerando a fiabilidade e eficiência?

Fonte: Mundo da Rádio



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