ARLA/CLUSTER: Re: Top band urbana, ou a arte de fazer omoletas sem ovos.

João Costa > CT1FBF ct1fbf gmail.com
Sábado, 1 de Setembro de 2012 - 08:07:39 WEST


Ao longo da minha existência de quase 50 anos já fui apelidado de
diversas maneira, algumas mesmo nada abonatórias, agora ao fim deste
anos todos ser tratado como  " um miúdo mais traquina do que eu, o
ilustre e insigne João Costa (CT1FBF), resolve experimentar se o ferro
de engomar está mesmo quente," foi a primeira e quiça não a ultima.

Não contente ainda me põe um  " gato doméstico (ou gato urbano - Felis
silvestris
catus), a minúscula cria que o João Costa levou à caça foi um pachorrento
Munchkin, um gato de pernas curtas e corpo alongado, de temperamento dócil,
sociável e amável... " na mão.

Eis o que um proprietario de uma simples  "antena da couve-galega", tem de ler.

Meu Caro Miguel, parabéns pelo teu brilhante texto, que narra bem,
qual Fernão Mendes Pinto esta nossa "Peregrinação" pela banda dos
160m.

João Costa (CT1FBF)

*********************************************************************************

Em 1 de setembro de 2012 01:39, Miguel Andrade <ct1etl  gmail.com> escreveu:

> Na nossa sociedade podemos passar uma vida inteira a imporem-nos limites.
> A palavra "não" é porventura aquela que um bebé/criança mais ouve quando
> inicia a sua "exploração do mundo". Nem sei como é que a primeira palavra
> proferida costuma habitualmente ser «mamã».

> "Não" porque é perigoso, "não" porque faz mal, "não" porque é proibido,
> "não" porque não fica bem, "não" porque não vais conseguir, "não" porque
> vais cair e "não"... simplesmente «porque não»!

> De tanto ouvir a palavra "não" por vezes convencemo-nos que... não.
> Quiçá sem bases científicas ou sequer uma daquelas conversas em frequência
> que o garantisse (até com base em algum mito urbano), estava completamente
> dominado por mais um "não". Não era possível um contacto na faixa dos 160
> metros para escassos 9 quilómetros de distância em ambiente urbano... usando
> antenas ineficazes.

> Assim o desmentiam o tremendo e sempre presente ruído provocado por fontes
> "poluidoras" de origem humana no sinal recebido na faixa dos 160 metros.
> Esta tragédia é infelizmente abundante hoje em dia até já nos menores
> centros urbanos, pelo que os insignificantes sinais, em teoria previsíveis
> devido ao uso de antenas infrutuosas e muito pouco eficientes, seriam
> completamente aniquilados.

> "¡No pasarán!" era o lema do derrotismo.

> E com este "não" a somar à experiência com o sinal obtido habitualmente nas
> mesmas circunstâncias entre as nossas estações, tanto nos 40 metros como nos
> 80 metros... era impensável conceber sequer um ensaio, daqueles que os
> miúdos traquinas fazem quando as mães lhes explicam que não devem tocar no
> ferro de alisar a roupa (engomar) porque está muito quente.

> Eis senão quando, um miúdo mais traquina do que eu, o ilustre e insigne João
> Costa (CT1FBF), resolve experimentar se o ferro de engomar está mesmo
> quente, ou se tudo não passa de uma história inventado pelos "adultos".
> É natural que utilizando 2 antenas em condições aceitáveis, instaladas à
> devida altura... o teste nos 160 metros era o mesmo que espalmar a mão
> inteira num ferro de passar a roupa desligado há várias horas.

> Contudo não era este o caso.
> A nossa experiência foi mais equivalente a espetar o dedo na base do ferro
> com este a funcionar há várias horas.
> Acredito que, nas circunstâncias em que íamos fazer o teste, devem todos
> concordar comigo ao escrever que nos era exigida uma grande dose de
> coragem... ou muita fé e inocência.

> Entenda-se o conceito de antenas em condições aceitáveis como termos
> instalado previamente cada um a sua antena dipolo, com 1/4 de onda em cada
> ramal (antena de meia-onda ou Hertz).

> Só que para esse efeito, era necessário dispor de quase 85 metros e uma
> altura de pelo menos uns 40 metros em relação ao solo.
> E o que é isso numa cidade onde há prédios de 15 e mais pisos uns ao lados
> dos outros?

> Está-se mesmo a ver que o único obstáculo são as malditas Assembleias-gerais
> de condomínio, essa infernal invenção de mentes diabólicas com o intuito
> principal de criarem úlceras nervosas e doenças bem piores aos
> Radioamadores.

> Pois fiquem sabendo que, no caso destes 2 intrépidos aventureiros até nem
> era esse o problema principal... ou melhor; os problemas principais.
> Os nossos principais obstáculos eram mesmo os irmãos "altura & espaço".
> Sim, porque essa possibilidade de se viver em zonas da cidade com
> "arranha-céus" é quase sempre fino... e caro.

> Dada a nossa miserável sorte optámos por seguir a via da sabedoria popular e
> usamos como lema, para espetarmos o dedo no ferro quente, «quem não tem cão
> caça com gato».

> Podíamos para o efeito ter escolhido uma chita, o felino mais aparentado dos
> canídeos que se conhece, para irmos à caça.
> E porque não domesticar um leão?

> Não (outra vez a maldita palavra), como somos rapaziada que gosta de
> desafios, fomos à caça do elefante com gatinhos domésticos (sim porque o
> cumprimento de onda nos 160 metros é o elefante das faixas de frequência que
> nos estão naturalmente atribuídas pelo QNAF).

> De entre as 250 raças de gato doméstico (ou gato urbano - Felis silvestris
> catus), a minúscula cria que o João Costa levou à caça foi um pachorrento
> Munchkin, um gato de pernas curtas e corpo alongado, de temperamento dócil,
> sociável e amável... mas pouco eficaz nos saltos devido às diminutas
> dimensões das suas pernas, as quais que chegam a medir apenas um terço do
> tamanho observado nas outras raças.

> O meu filhote seria um Bobtail Japonês acabado de desmamar, pequeno e
> magricela gatinho que, quando for adulto, se caracterizará um dia por
> possuir uma pequena cauda, medindo apenas entre oito e dez centímetros
> quando esticada. Revelou-se no entanto um bichinho cheio de genica com uma
> boa musculatura e vontade de fincar os finos dentes de leite no primeiro
> elefante que tivesse o azar de passar ao largo.

> Tecnicamente estamos a falar de um condutor eléctrico multifilar com cerca
> de 16 metros, lançado varanda fora para cima das árvores plantadas na via
> pública. É a chamada "antena da couve-galega", como o seu proprietário
> orgulhosamente a apelida quando a estação CT1FBF está no ar.
> Do meu lado, estamos a falar de um vulgar condutor eléctrico unifilar de 1
> m/m protegido com capa de pvc e medindo, de uma ponta à outra,
> aproximadamente uns 38 metros bem distribuídos por um "design" completamente
> inédito.

> Imaginem um "L" deitado, sendo que a parte menor da lera corresponde à
> secção "vertical" da antena e a maior à secção horizontal. O problema é que
> a chamada secção vertical não é na realidade lá muito aprumada. Os primeiros
> 3 metros são de facto verticais (e muito encostadinhos à parede do prédio),
> mas a seguir, embora seguindo a mesma rota rumo ao cotovelo principal, dá-se
> um desvio em direcção à posição horizontal num ângulo de 50º. A porção maior
> é de facto praticamente horizontal (está ligeiramente elevada a meio,
> formando quase um "V" invertido mas muito aberto), só que tem ainda a
> particularidade de possuir um outro cotovelo, aí por volta dos 20 metros,
> voltando para trás de novo, a cerca de 40 cm de distância da outra metade do
> ramal, com se fosse uma das metades de um dipolo dobrado (enfim, o terraço
> só tem 20 metros de comprimento, o que queriam que eu tivesse feito?).
> Ficou perceptível o desenho?

> Ambos os sistemas irradiantes (se é que podem ter esse nome), são acoplados
> por sintonizadores ligados por sua vez por um cabo coaxial ao equipamento
> emissor/receptor.

> No caso da minha estação, uma ponta da famosa antena "emaranhado CT1ETL"
> liga directamente no sintonizador manual MFJ-969 (o qual está mesmo
> encostado à janela para se divertir com as vistas e não morrer de tédio
> quando não está em operação). O contrapeso é formado por um outro condutor
> eléctrico unifilar, que repousa dentro da parede, esquecido por algum
> electricista amnésico ao deixar uma das tomadas só com um condutor
> (provavelmente num dia em que quis largar a obra à hora certa ou em que se
> lhe acabou a matéria prima). Curiosamente o ditoso "fio do esquecimento"
> sintoniza em 1.740 KHz!?!?!

> Não dá para escutar as estações de Ondas Médias, pois o ruído captado é
> ensurdecedor, mas é um óptimo "plano de terra" ou contrapeso.
> Só para que conste, a fantástica antena da minha estação tem o magnífico
> rendimento de... 20%!!!!

> É no entanto imbatível na captação de tudo o que não interessa ao comum
> Radioamador e Radioescuta, tendo apresentado sinas de "ruído branco" e
> outros muito indesejáveis na ordem de 9+10, espeialmente entre as 22:15 e as
> 22:45... com atenuador ligado. A partir daí a "contaminação" decai a olhos
> vistos até a um portentoso sinal de 7, durante a madrugada, voltado a
> crescer assim que começa a actividade humana de novo.

> Mesmo nestas condições, lá estivemos mais de 1 hora em confortável e amena
> "cavaqueira", sintonizados em 1.840 KHz.

> Se o meu drama era o incómodo das interferências, posso afiançar-vos que
> escuto melhor a estação CT1FBF do João Costa em 160 metros do que em
> qualquer outra banda abaixo dos 30 MHz. Até agora foi mesmo a forma mais
> eficiente de comunicação via rádio entre as nossas estações excepto, claro
> está, através das estações repetidoras de VHF e UHF ou da Internet.
> O sinal é extremamente cómodo e claro.

> Infelizmente em amplitude modulada é que nem pensar.
> Embora seja bem escutado do outro lado, só recebo uma sinfonia desastrosa de
> ruídos diabólicos e ensurdecedores.

> A terminar o nosso QSO, fomos brindados com a presença do nosso colega José
> Manuel Albuquerque, a transmitir com o indicativo CT1AOZ através de uma
> antena cortada para a faixa dos 80 metros. Apesar de se situar a mais de 39
> quilómetros de distância, ali para os lados de Torres Vedras (mais
> propriamente no Varatojo), comunicámos ambos com sinais fortes e claros, com
> uma nitidez que faria qualquer velhinha corar de vergonha.
> Para vos incentivar a perderem a timidez, aqui ficam mais alguns dados para
> aferirem a possibilidade de se juntem ao «mito urbano dos 160».

> A distância coberta é curta mas em terreno pouco favorável, mesmo para a
> onda de superfície de um comprimento físico tão elevado.

> Segundo o meu amigo "Google Earth", as nossas antenas distam rigorosamente
> 8.930 metros uma da outra, mas o percurso em linha recta é algo problemático
> e sinuoso (senão não tinha piada).

> Para além dos edifícios próximos fica situado entre nós um dos pontos mais
> elevados da cidade de Lisboa -  Monsanto - plantado mesmo no sitio mais
> errado para nos entupir o azimute.
> A minha antena está situada numa altitude próxima dos 99 metros do nível
> médio das águas do mar e a do João a cerca de 28 metros do mesmo parâmetro.
> O primeiro obstáculo é logo um prédio situado do outro lado da rua, 25
> metros mais alto do que o meu.

> A onda de superfície tem ainda que transpor muito outros edifícios, alguns
> ainda mais elevados, antes de chegar a Monsanto, onde a quota máxima se
> situa nos 178 metros no ponto mais alto da linha recta traçada entre as 2
> antenas, isto é 79 metros acima da minha antena e 150 metros acima da antena
> da estação CT1FBF, ou seja, quase 1 cumprimento de onda à frequência em que
> estamos a trabalhar.

> Como se não bastasse, do lado do João, há um obstáculo geográfico cuja quota
> mais alta atinge os 65 metros acima do nível médio das águas do mar (fora a
> altura dos prédios que aí estão edificados, isto é, um obstáculo com mais 37
> metros de altura situado a relativamente pouca distância.
> Depois de tudo o que para trás ficou escrito, penso que podemos chegar à
> conclusão que caçámos o elefante.

> Mais testes se seguirão nas próximas semanas, pelo quem estiver interessado
> em participar é só fazer-se presente nos 1.840 KHz.

> Falta-nos essa estação de referência que dá pelo indicativo CT2JWK, a única
> estação que consegui receber com sinal de 9+60 até hoje (com atenuador) na
> "top band".

> Se quiserem agendar algum QSO aproveitem este tópico... e até breve!
>
>
> 73's de Miguel Andrade ( CT1ETL )
> IM58js - 38º44'57" N/009º11'26" W
> CQ Zone 14 ********* ITU Zone 37
> endereço em/adress in www.qrz.com/db/CT1ETL
>
>




Mais informações acerca da lista CLUSTER