ARLA/CLUSTER: Re: Top band urbana, ou a arte de fazer omoletas sem ovos.

Gomes ct1hix sapo.pt
Sábado, 1 de Setembro de 2012 - 17:47:47 WEST


Boas
Vocês vão me perdoar, mas é caso para dizer "que dois se juntaram..."
Gostei!

73 Gomes op: CT1HIX
www.ct1hix.webs.com

Em 01-09-2012 8:07, João Costa > CT1FBF escreveu:
> Ao longo da minha existência de quase 50 anos já fui apelidado de
> diversas maneira, algumas mesmo nada abonatórias, agora ao fim deste
> anos todos ser tratado como  " um miúdo mais traquina do que eu, o
> ilustre e insigne João Costa (CT1FBF), resolve experimentar se o ferro
> de engomar está mesmo quente," foi a primeira e quiça não a ultima.
>
> Não contente ainda me põe um  " gato doméstico (ou gato urbano - Felis
> silvestris
> catus), a minúscula cria que o João Costa levou à caça foi um pachorrento
> Munchkin, um gato de pernas curtas e corpo alongado, de temperamento dócil,
> sociável e amável... " na mão.
>
> Eis o que um proprietario de uma simples  "antena da couve-galega", tem de ler.
>
> Meu Caro Miguel, parabéns pelo teu brilhante texto, que narra bem,
> qual Fernão Mendes Pinto esta nossa "Peregrinação" pela banda dos
> 160m.
>
> João Costa (CT1FBF)
>
> *********************************************************************************
>
> Em 1 de setembro de 2012 01:39, Miguel Andrade <ct1etl  gmail.com> escreveu:
>
>> Na nossa sociedade podemos passar uma vida inteira a imporem-nos limites.
>> A palavra "não" é porventura aquela que um bebé/criança mais ouve quando
>> inicia a sua "exploração do mundo". Nem sei como é que a primeira palavra
>> proferida costuma habitualmente ser «mamã».
>> "Não" porque é perigoso, "não" porque faz mal, "não" porque é proibido,
>> "não" porque não fica bem, "não" porque não vais conseguir, "não" porque
>> vais cair e "não"... simplesmente «porque não»!
>> De tanto ouvir a palavra "não" por vezes convencemo-nos que... não.
>> Quiçá sem bases científicas ou sequer uma daquelas conversas em frequência
>> que o garantisse (até com base em algum mito urbano), estava completamente
>> dominado por mais um "não". Não era possível um contacto na faixa dos 160
>> metros para escassos 9 quilómetros de distância em ambiente urbano... usando
>> antenas ineficazes.
>> Assim o desmentiam o tremendo e sempre presente ruído provocado por fontes
>> "poluidoras" de origem humana no sinal recebido na faixa dos 160 metros.
>> Esta tragédia é infelizmente abundante hoje em dia até já nos menores
>> centros urbanos, pelo que os insignificantes sinais, em teoria previsíveis
>> devido ao uso de antenas infrutuosas e muito pouco eficientes, seriam
>> completamente aniquilados.
>> "¡No pasarán!" era o lema do derrotismo.
>> E com este "não" a somar à experiência com o sinal obtido habitualmente nas
>> mesmas circunstâncias entre as nossas estações, tanto nos 40 metros como nos
>> 80 metros... era impensável conceber sequer um ensaio, daqueles que os
>> miúdos traquinas fazem quando as mães lhes explicam que não devem tocar no
>> ferro de alisar a roupa (engomar) porque está muito quente.
>> Eis senão quando, um miúdo mais traquina do que eu, o ilustre e insigne João
>> Costa (CT1FBF), resolve experimentar se o ferro de engomar está mesmo
>> quente, ou se tudo não passa de uma história inventado pelos "adultos".
>> É natural que utilizando 2 antenas em condições aceitáveis, instaladas à
>> devida altura... o teste nos 160 metros era o mesmo que espalmar a mão
>> inteira num ferro de passar a roupa desligado há várias horas.
>> Contudo não era este o caso.
>> A nossa experiência foi mais equivalente a espetar o dedo na base do ferro
>> com este a funcionar há várias horas.
>> Acredito que, nas circunstâncias em que íamos fazer o teste, devem todos
>> concordar comigo ao escrever que nos era exigida uma grande dose de
>> coragem... ou muita fé e inocência.
>> Entenda-se o conceito de antenas em condições aceitáveis como termos
>> instalado previamente cada um a sua antena dipolo, com 1/4 de onda em cada
>> ramal (antena de meia-onda ou Hertz).
>> Só que para esse efeito, era necessário dispor de quase 85 metros e uma
>> altura de pelo menos uns 40 metros em relação ao solo.
>> E o que é isso numa cidade onde há prédios de 15 e mais pisos uns ao lados
>> dos outros?
>> Está-se mesmo a ver que o único obstáculo são as malditas Assembleias-gerais
>> de condomínio, essa infernal invenção de mentes diabólicas com o intuito
>> principal de criarem úlceras nervosas e doenças bem piores aos
>> Radioamadores.
>> Pois fiquem sabendo que, no caso destes 2 intrépidos aventureiros até nem
>> era esse o problema principal... ou melhor; os problemas principais.
>> Os nossos principais obstáculos eram mesmo os irmãos "altura & espaço".
>> Sim, porque essa possibilidade de se viver em zonas da cidade com
>> "arranha-céus" é quase sempre fino... e caro.
>> Dada a nossa miserável sorte optámos por seguir a via da sabedoria popular e
>> usamos como lema, para espetarmos o dedo no ferro quente, «quem não tem cão
>> caça com gato».
>> Podíamos para o efeito ter escolhido uma chita, o felino mais aparentado dos
>> canídeos que se conhece, para irmos à caça.
>> E porque não domesticar um leão?
>> Não (outra vez a maldita palavra), como somos rapaziada que gosta de
>> desafios, fomos à caça do elefante com gatinhos domésticos (sim porque o
>> cumprimento de onda nos 160 metros é o elefante das faixas de frequência que
>> nos estão naturalmente atribuídas pelo QNAF).
>> De entre as 250 raças de gato doméstico (ou gato urbano - Felis silvestris
>> catus), a minúscula cria que o João Costa levou à caça foi um pachorrento
>> Munchkin, um gato de pernas curtas e corpo alongado, de temperamento dócil,
>> sociável e amável... mas pouco eficaz nos saltos devido às diminutas
>> dimensões das suas pernas, as quais que chegam a medir apenas um terço do
>> tamanho observado nas outras raças.
>> O meu filhote seria um Bobtail Japonês acabado de desmamar, pequeno e
>> magricela gatinho que, quando for adulto, se caracterizará um dia por
>> possuir uma pequena cauda, medindo apenas entre oito e dez centímetros
>> quando esticada. Revelou-se no entanto um bichinho cheio de genica com uma
>> boa musculatura e vontade de fincar os finos dentes de leite no primeiro
>> elefante que tivesse o azar de passar ao largo.
>> Tecnicamente estamos a falar de um condutor eléctrico multifilar com cerca
>> de 16 metros, lançado varanda fora para cima das árvores plantadas na via
>> pública. É a chamada "antena da couve-galega", como o seu proprietário
>> orgulhosamente a apelida quando a estação CT1FBF está no ar.
>> Do meu lado, estamos a falar de um vulgar condutor eléctrico unifilar de 1
>> m/m protegido com capa de pvc e medindo, de uma ponta à outra,
>> aproximadamente uns 38 metros bem distribuídos por um "design" completamente
>> inédito.
>> Imaginem um "L" deitado, sendo que a parte menor da lera corresponde à
>> secção "vertical" da antena e a maior à secção horizontal. O problema é que
>> a chamada secção vertical não é na realidade lá muito aprumada. Os primeiros
>> 3 metros são de facto verticais (e muito encostadinhos à parede do prédio),
>> mas a seguir, embora seguindo a mesma rota rumo ao cotovelo principal, dá-se
>> um desvio em direcção à posição horizontal num ângulo de 50º. A porção maior
>> é de facto praticamente horizontal (está ligeiramente elevada a meio,
>> formando quase um "V" invertido mas muito aberto), só que tem ainda a
>> particularidade de possuir um outro cotovelo, aí por volta dos 20 metros,
>> voltando para trás de novo, a cerca de 40 cm de distância da outra metade do
>> ramal, com se fosse uma das metades de um dipolo dobrado (enfim, o terraço
>> só tem 20 metros de comprimento, o que queriam que eu tivesse feito?).
>> Ficou perceptível o desenho?
>> Ambos os sistemas irradiantes (se é que podem ter esse nome), são acoplados
>> por sintonizadores ligados por sua vez por um cabo coaxial ao equipamento
>> emissor/receptor.
>> No caso da minha estação, uma ponta da famosa antena "emaranhado CT1ETL"
>> liga directamente no sintonizador manual MFJ-969 (o qual está mesmo
>> encostado à janela para se divertir com as vistas e não morrer de tédio
>> quando não está em operação). O contrapeso é formado por um outro condutor
>> eléctrico unifilar, que repousa dentro da parede, esquecido por algum
>> electricista amnésico ao deixar uma das tomadas só com um condutor
>> (provavelmente num dia em que quis largar a obra à hora certa ou em que se
>> lhe acabou a matéria prima). Curiosamente o ditoso "fio do esquecimento"
>> sintoniza em 1.740 KHz!?!?!
>> Não dá para escutar as estações de Ondas Médias, pois o ruído captado é
>> ensurdecedor, mas é um óptimo "plano de terra" ou contrapeso.
>> Só para que conste, a fantástica antena da minha estação tem o magnífico
>> rendimento de... 20%!!!!
>> É no entanto imbatível na captação de tudo o que não interessa ao comum
>> Radioamador e Radioescuta, tendo apresentado sinas de "ruído branco" e
>> outros muito indesejáveis na ordem de 9+10, espeialmente entre as 22:15 e as
>> 22:45... com atenuador ligado. A partir daí a "contaminação" decai a olhos
>> vistos até a um portentoso sinal de 7, durante a madrugada, voltado a
>> crescer assim que começa a actividade humana de novo.
>> Mesmo nestas condições, lá estivemos mais de 1 hora em confortável e amena
>> "cavaqueira", sintonizados em 1.840 KHz.
>> Se o meu drama era o incómodo das interferências, posso afiançar-vos que
>> escuto melhor a estação CT1FBF do João Costa em 160 metros do que em
>> qualquer outra banda abaixo dos 30 MHz. Até agora foi mesmo a forma mais
>> eficiente de comunicação via rádio entre as nossas estações excepto, claro
>> está, através das estações repetidoras de VHF e UHF ou da Internet.
>> O sinal é extremamente cómodo e claro.
>> Infelizmente em amplitude modulada é que nem pensar.
>> Embora seja bem escutado do outro lado, só recebo uma sinfonia desastrosa de
>> ruídos diabólicos e ensurdecedores.
>> A terminar o nosso QSO, fomos brindados com a presença do nosso colega José
>> Manuel Albuquerque, a transmitir com o indicativo CT1AOZ através de uma
>> antena cortada para a faixa dos 80 metros. Apesar de se situar a mais de 39
>> quilómetros de distância, ali para os lados de Torres Vedras (mais
>> propriamente no Varatojo), comunicámos ambos com sinais fortes e claros, com
>> uma nitidez que faria qualquer velhinha corar de vergonha.
>> Para vos incentivar a perderem a timidez, aqui ficam mais alguns dados para
>> aferirem a possibilidade de se juntem ao «mito urbano dos 160».
>> A distância coberta é curta mas em terreno pouco favorável, mesmo para a
>> onda de superfície de um comprimento físico tão elevado.
>> Segundo o meu amigo "Google Earth", as nossas antenas distam rigorosamente
>> 8.930 metros uma da outra, mas o percurso em linha recta é algo problemático
>> e sinuoso (senão não tinha piada).
>> Para além dos edifícios próximos fica situado entre nós um dos pontos mais
>> elevados da cidade de Lisboa -  Monsanto - plantado mesmo no sitio mais
>> errado para nos entupir o azimute.
>> A minha antena está situada numa altitude próxima dos 99 metros do nível
>> médio das águas do mar e a do João a cerca de 28 metros do mesmo parâmetro.
>> O primeiro obstáculo é logo um prédio situado do outro lado da rua, 25
>> metros mais alto do que o meu.
>> A onda de superfície tem ainda que transpor muito outros edifícios, alguns
>> ainda mais elevados, antes de chegar a Monsanto, onde a quota máxima se
>> situa nos 178 metros no ponto mais alto da linha recta traçada entre as 2
>> antenas, isto é 79 metros acima da minha antena e 150 metros acima da antena
>> da estação CT1FBF, ou seja, quase 1 cumprimento de onda à frequência em que
>> estamos a trabalhar.
>> Como se não bastasse, do lado do João, há um obstáculo geográfico cuja quota
>> mais alta atinge os 65 metros acima do nível médio das águas do mar (fora a
>> altura dos prédios que aí estão edificados, isto é, um obstáculo com mais 37
>> metros de altura situado a relativamente pouca distância.
>> Depois de tudo o que para trás ficou escrito, penso que podemos chegar à
>> conclusão que caçámos o elefante.
>> Mais testes se seguirão nas próximas semanas, pelo quem estiver interessado
>> em participar é só fazer-se presente nos 1.840 KHz.
>> Falta-nos essa estação de referência que dá pelo indicativo CT2JWK, a única
>> estação que consegui receber com sinal de 9+60 até hoje (com atenuador) na
>> "top band".
>> Se quiserem agendar algum QSO aproveitem este tópico... e até breve!
>>
>>
>> 73's de Miguel Andrade ( CT1ETL )
>> IM58js - 38º44'57" N/009º11'26" W
>> CQ Zone 14 ********* ITU Zone 37
>> endereço em/adress in www.qrz.com/db/CT1ETL
>>
>>
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