ARLA/CLUSTER: A boa educação dos "five nine"

João Gonçalves Costa joao.a.costa ctt.pt
Terça-Feira, 30 de Agosto de 2011 - 12:36:01 WEST


Caros Colegas,

Permitam-me algumas considerações em relação à questão levantada.

Em primeiro lugar, penso existir na sociedade - e consequentemente no espectro radioeléctrico - uma grande falta de ética e deontologia. Não será necessário dar exemplos do que afirmo, pois todos nós conhecemos sobejamente casos de atropelos, faltas de respeito e imoralidades nas mais diversas áreas da vida social. Em tempos, algo longínquos, estava convencido que a classe dos radioamadores formava um grupo de pessoas que pugnava pela diferença, constituindo-se como uma pleiade de indivíduos que nutrem respeito pelos seus pares e desenvolvem os seus projectos dentro do que são as suas apetências, enquadradas pela lei. Não sendo eu um radioamador antigo - e não podendo falar com conhecimento de causa dos anos anteriores aos 90 -, tenho vindo a verificar uma degradação do respeito e da camaradagem entre nós. Este comportamento é concomitante com a sociedade em geral, o que me sugere ser o radioamador do presente um reflexo do nosso sistema educacional e do nosso sistema de valores. Se, na pós-modernidade, a crise é mais de valores do que económica, o resultado só pode ser o descrito pelo colega Mourato.

Em segundo lugar, gostaria de abordar a questão da abordagem ao radioamadorismo. Ninguém discordará do colega António, CT1TE, e da paixão com que coloca a tónica no espírito de partilha técnica e de enriquecimento pessoal que outrora era apanágio das bandas, como ninguém discordará das vantagens de um concurso de DX, no que traz de desafiador para quem gosta de investigar sistemas radiantes ou padrões de propagação.

Por último, teço duas considerações finais.

A primeira tem a ver com a minha experiência pessoal. Tendo começado nas bandas amadoras por ser um amante da "caça" às novas entidades DXCC e dos concursos (não todos!), senti a necessidade de enriquecer os meus conhecimentos técnicos e poder desfrutar de algo que para mim é gratificante: a satisfação que o conhecimento proporciona. Entrando por determinada porta, cedo me apercebi da dimensão do que se me deparava. Aspirarei sempre a mais, ciente que as nossas capacidades permanecem, grosso modo, inexploradas.

A segunda tem a ver com o respeito de que falava no início. Não percebo porque é que as discussões têm que acabar sempre em desavenças entre os participantes. Saber discutir as diferentes opiniões com abertura suficiente para delas retirarmos novas ideias que nos façam questionar as nossas posições é algo que demonstra inteligência. Não estou a querer dizer que devemos entrar na lógica da relativização, onde tudo tem cabimento, pois dessa forma cada opinião tem o mesmo valor. Estou a querer dizer que não devemos prescindir das nossas mais profundas convicções, desde que tenhamos sabido "digerir" outras posturas, ideias e sugestões. Se tudo for efectuado dentro dos padrões éticos e do respeito mútuo, parece-me que estaremos no bom caminho para mudarmos alguma coisa. Reconheço ser necessária uma boa dose de paciência para lidar com algumas situações, mas, mais uma vez, sempre foi e será assim em toda a actividade do ser social. Daí resultarão, naturalmente, os grupos de afinidades. E se se estabelecerem pontes entre esses grupos, tanto melhor.

Gostava de ver uma sã convivência entre os que nutrem carinho pelo radioamadorismo e que estão no hobby com nobres interesses. Acho que é tempo de justificarmos os privilégios que nos são concedidos.

Com os meus melhores 73,
CT1ETE, Paulo Pinto
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Fonte: : ct-comunicacoes-e-tecnologias Em nome de CT1ETE Paulo Pinto

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