ARLA/CLUSTER: Um desabafo, para reflexão...

Riky hfvhfuhf gmail.com
Domingo, 8 de Março de 2009 - 04:10:08 WET


Cumprimentos a todos os estimados colegas utilizadores do ARLA/Cluster, bem
como das faixas hertzianas.
Antes de mais quero publicamente agradecer as amigáveis e calorosas palavras
de força dirigidas por colegas e Associações à minha pessoa aquando da
passagem de uma fase menos boa de saúde.
Um grande obrigado.
Caros colegas, apesar de aparentemente ter desaparecido do convívio amigável
e técnico do mundo radioamadoristico, tal aparência não se coaduna com a
realidade, mas sim e apenas de uma tomada de posição em prol da verdade do
radioamadorismo, como por exemplo a dos resultados dos concursos ( Concursos
com vencedores antecipados e que garantem à partida uma  posição de relevo
em relação às Associações congéneres e/ou pior ainda que ajudam em
interesses pessoais de imagem e capacidades para fins de subida na vida
laboral), só por isto me tornei num radioamador silencioso, mas sempre
sedento no conhecimento e desenvolvimento das radiocomunicações.
Espero pelo dia em que o fim desse protagonismo individual e/ou Associativo
dê lugar ao usufruto conjunto de uma área fundamental no desenvolvimento do
futuro, em que sempre somos os pioneiros mas que quando chegados à fase do
desenvolvimento e aplicação no terreno, logo somos espezinhados pelos
potentes grupos monetários (empresas) mostrando e lucrando com tudo o que
vamos aprendendo e desenvolvendo no mundo das comunicações em colaboração
com outros radioamadores nacionais e internacionais, amadores e
profissionais, e que sempre vemos ser retirado dos nossos berços sem
qualquer proveito ou reconhecimento público dele retirar.
Esta é a segunda vez que me dirijo a vós através do ARLA/Cluster, da
primeira para destapar o tema já atrás referido, agora para um pedido de
refleção de todos vós sobre uma noticia anteriormente divulgada por outros
colegas, mas que aparentemente passou ao lado deste ponto de encontro,
acerca da noticia da dependência de meios telefónicos por parte dos agentes
da ANPC.
Sendo um fiel leitor do A/C, tenho noção da posição quase que generalizada
dos radioamadores para com a ANPC, mas eis que, no meu ponto de vista,
surgiu a oportunidade de podermos levemente dar um "tau-tau" de luva branca
àqueles que teimosamente, além dos interesses monetarios, creem ou querem
fazer crer os poderosos do estado, que teem ou pensam terem adquirido ao
longo dos tempos a galinha dos ovos de ouro no que diz respeito às
comunicações de emergência autonomas, fiáveis e seguras, sem terem de se
preocupar em algum dia virem a precisar, ou quem sabe trabalhar sempre em
conjunto, com (como uma vez já ouvi sair da boca de um alto cargo da ANPC
"...quem? Esses gajos dos walkietalk..."), como dizia vir a trabalhar com os
radioamadores.
Pergunto: mas afinal quem são os amadores e os "profissionais"?
Não me querendo alongar mais na apresentação desta tese, apenas vou abaixo
transcrever um email que recebi de um nosso colega e que talvez coloque a
questão de uma forma mais politicamente correcta em alguns aspectos, e que
me parece de todo o interesse partilhar convosco.
Desde já vos peço desculpa por este testamento, mas volto a dizer que não
deveriamos perder esta oportunidade de marcar a nossa posição para com o
sucedido, apelo pois ás Associaçoes que nos representem nesta posição de
critica construtiva,
Os erros existem para isso mesmo, para reconhecer e admitir que há mais
soluções, mesmo que aparentemente banais ou de terceiro mundo.
73´s, cumprimentos deste vosso colega radioamador silencioso.
ARTUR CORREIA - CT2GPU

*Transcrevendo*:

Tenho ao longo de muitos anos criticado a forma como o sistema de proteção
civil se dotou de recursos de radiocomunicações, tendo mesmo chegado a
afirmar que era o cúmulo da ignorância em proteção civil, a recorrente
aquisição de sistemas desconexos e incompatíveis, que faziam de bons
sistemas, sistemas tidos por obsoletos, quando na realidade são eficientes.
Porém os portugueses sabem hoje que por de trás destas operações estão
"negociatas" e que a mudança de sistema raramente se prende com a
argumentação apresentada, mas sim com aquela que o grupo interessado no
negócio vende ao adquirente e ao país.

O sistema TETRA da MOTOROLA que constitui o SIRESP, não é mais de que um
telefone celular profissional. Tal como um telefone celular este equipamento
"SIRESP" pode conectar-se à internet, pode ser programado on-line, pode
estabelecer comunicações de grupo, e disponibiliza ligeiramente mais
potência de áudio que um telefone celular comum, o que mesmo assim se revela
insuficiente para os agentes de proteção civil a operar no terreno. Tal como
um telefone celular o rádio "SIRESP" conecta-se a uma estação
retransmissora, que por sua vez está interligada por linha telefónica da PT
a outra estação retransmissora, ou seja em caso de abalo sísmico será uma
das primeiras redes a deixar de funcionar, visto que as redes da VODAFONE,
OPTIMUS, e TMN, possuem algumas redundâncias rádio, bem como baterias na
fonte de alimentação que suportam o sistema a funcionar durante algumas
horas em caso de falha de energia.

No caso de agentes de proteção civil como os Bombeiros, Cruz Vermelha
Portuguesa, a hoje Autoridade Nacional de Proteção Civil, Forças Policiais e
outras, o curso histórico das radiocomunicações ficou marcado por diversas
incongruências que em muito condicionam a proficiência dos sistemas. Todos
estes agentes começaram por usar a célebre banda do cidadão (C.B.) tendo
posteriormente uns evoluído para a banda alta de VHF, outros para a banda
média de VHF, outros para a banda baixa de VHF e por fim outros para UHF, ou
seja cada um para uma banda o que impossibilitava a ligação entre si e
forçava então a que a ligação fosse feita com recursos à rede fixa da então
Companhia de Telefones de Lisboa e Porto (T.L.P.) entre outras. Com o
aparecimento da telefonia celular em Portugal na década de noventa esta
ligação entre agentes passou a ser efetuada por "telemóvel", face às
limitações dos sistemas de cada agente decorrentes de falta de manutenção ou
evolução na dimensão dos sistemas por forma a suprir as necessidades de
ampliação decorrentes do aumento de tráfego, no entanto é preciso dizer ao
país que estas redes sempre estiveram subaproveitadas, por causa de receios
decorrentes de condicionamentos regulamentares quanto ao seu uso. Assim e já
no final da década de noventa, alguns agentes iludidos por uma falsa
privacidade, e cobertura anunciada pelos operadores de Trunking, adquiriram
terminais de ligação a esta rede móvel de recursos partilhados que tal como
o SIRESP não serve as necessidades dos agentes de proteção civil, porque não
dispõe de prioridade, porque a cobertura é limitada, e porque não garante os
modos de operação próprios de uma rede de emergência.
 Alheios às potencialidades do sistema convencional (porque assim
interessava aos operadores privados de comunicações publicas) os agentes de
proteção civil foram então procurando soluções alternativas sob a ilusão de
que estavam a rumar em direção ao avanço tecnológico, quando de facto a
tecnologia era a mesma mas com funcionalidades diferentes e diferentes
opções.

Outro aspeto a considerar é que com exceção da ligação à internet, os
sistemas utilizados nas diversas bandas do espetro radioelétrico também
disponibiliza todas as outras funções que o SIRESP disponibiliza, incluindo
a multi-operabilidade por multiplexagem do canal e aqui estamos já a falar
de redes digitais nas bandas anteriormente usadas e que alguém considera
estarem superlotadas, o que é falso, pois a superlotação das bandas deixou
de existir quando os operadores das redes de telefonia celular passaram no
inicio desta década a oferecer produtos e serviços acessíveis a qualquer
empresa ou particular. Podemos ainda dizer que a atual rede de proteção
civil em banda alta tem um aproveitamento de cerca de 20%, decorrente da
incapacidade da ANPC gerir adequadamente a rede pela via da formação dos
agentes interlocutores.

Outra das lacunas das radiocomunicações em em especial no que respeita à
intervenção em graves acidentes ou mesmo numa catástrofe é o facto dos
diferentes agentes falarem "línguas" diferentes. Em meu entender a solução
passa por criar organismos especializados na formação em radiocomunicações,
com programas de formação aprovados pelos diferentes ministérios da tutela e
que comportem especialistas das áreas: militar, aeronáutica civil, marinha,
e proteção civil. Desta forma podem ser estabelecidos programas de formação
que visem preparar os formandos para a interoperabilidade das redes, para
que num qualquer teatro de operações todos os agentes independentemente das
fardas que envergam, se compreendam, deixando assim de co-existir a barreira
linguística operativa.

Em suma e em meu entender a solução ideal passaria por devolver à Sociedade
Lusa de Negócios o sistema TETRA, sob a alegação de ineficiência, qualidade
de áudio deplorável e inaplicabilidade para emergência e catástrofe. De
seguida com a verba arrecadada o estado português complementaria a rede de
banda alta de VHF a ser distribuída e interligada com outras redes de outros
agentes, conferindo à rede características próprias da necessidade de cada
agente nas suas comunicações internas, e de que é exemplo a necessidade de
confidencialidade, bem como poria a funcionar a funcionalidade de
transmissão de dados que embora exista na maioria dos equipamentos
convencionais, nunca foi convenientemente explorada, ou seja a sua
exploração nunca ultrapassou 4% das suas verdadeiras potencialidades
Paralelamente e reconhecendo a necessidade de por um lado existir uma rede
estratégica e por outro uma rede de catástrofe, seriam distribuídos a todos
os agentes de proteção civil e entidades com fins de apoio à emergência,
segurança, socorro, e solidariedade, equipamentos de HF (High Frequency)
também conhecidos por "equipamentos de onda curta" para que caso tudo falhe
(incluindo os satélites) a capacidade de comunicação está assegurada ao
nível estratégico, tático, e até de informação. Complementarmente como rede
de recurso e não como rede prioritária, uma rede de telefones de satélite,
sabendo-se que em caso de incidente continental ou global este sistema está
condicionado à vontade política dos países detentores das constelações de
satélites.

Para terminar gostaria de denunciar o facto de em Portugal existirem dois
especialistas em radiocomunicações internacionais de emergência e
catástrofe, porém apesar destes serem reconhecidos internacionalmente, e
como tal e outros países aproveitarem o seu saber, a ANPC ou o Governo nunca
os chamou a dar a sua opinião sobre sistemas de comunicação, em minha
convicção porque o que está em causa são outros valores que não os da
eficiência dos sistemas e defesa dos interesses do povo português.

Senhor Presidente da ANPC, Senhoras e Senhores Governantes: De nada adianta
a um país da nossa dimensão possuir uma rede digital multiplexada que
aumenta o número de vias de comunicação, quando a capacidade de recursos
humanos para receção nas centrais de emergência e despacho ficam aquém das
vias de comunicação possíveis de disponibilizar numa rede convencional,
reforçada com aplicações de transmissão de dados. Temos hoje equipamentos
capazes de assegurar simultaneamente a fonia em modo convencional e a
transmissão de dados (grafia) em modo digital. TETRA não é solução é
negociata, ter o TETRA ou o Telemóvel no SIRESP é o mesmo e no caso do
segundo a rede garante melhor qualidade de áudio e melhor cobertura podendo
semente servir de rede auxiliar de recurso.

Aparte: Provavelmente estranhou o texto, a forma aparentemente errática como
foi redigído, pois foi revisto de acordo com o novo acordo ortográfico
aprovado pela Assembleia da Républica.

Cumprimentos,
João - CT1 EBZ
-------------- próxima parte ----------
Um anexo em HTML foi limpo...
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