Re: ARLA/CLUSTER: Quantos Radioamadores? Quantas Associações? Quantos sócios?
Mariano Gonçalves
ct1xi sapo.pt
Segunda-Feira, 23 de Junho de 2008 - 20:31:52 WEST
Prezado Carlos Neves, CT3FQ
Os meus cumprimentos e obrigado por esclarecer os seus pontos de vista.
Permita-me, referir-lhe a si, alguns aspectos e experiências do passado
recente:
Não se nos afigura que as associações estejam a reivindicar
representatividade. Elas ocupam um papel essencial, diria mais, determinante
para a democracia e o pluralismo da nossa sociedade, que deveria ser mais
interventiva, mas tudo terá o seu tempo. Dado que estas coisas demoram
gerações.
Já que referiu como exemplo a REP, recordo que, qualquer organismo, pelo
facto de possuir 500 ou 550 associados, não significa que detenha o direito
de chamar a si nenhuma representatividade, quando os restantes cidadãos
nacionais, sejam eles do continente ou das regiões autónomas, não se querem
fazer representar nem filiar nesse organismo, e falamos de cerca de 5.500
amadores. A REP representará cerca de 10 a 12% dos amadores portugueses, a
maioria dos quais, também estão filiados nas outras associações portuguesas,
que são cerca de 19 e nunca as 260 que refere, que nunca terão existido
sequer depois do 25 de Abril de 1974.
No meu caso pessoal, não sou filiado da REP, porque não me revejo no
radioamadorismo desportivo e competitivo, nem no serviço de QSL e diplomas.
Legal e Constitucionalmente nada nos obriga a ter de filar na REP, ou onde
quer que seja, nem mesmo na IARU. A nossa Constituição confere-nos o direito
de escolha e o direito ao livre associativismo.
Por motivos conjunturais, fui, e infelizmente para mim e para o modelo
associativo que gostaria de implementar em Portugal, presidente da direcção
da REP, entre os anos de 1999 e 2001. Onde tradicionalmente a IARU mandava
cobrar de quota anual para a REP, o correspondente a cerca de 3.500
radioamadores portugueses, filiados na REP, e segundo critérios
estabelecidos pela própria IARU (Região1), com um índice de crescimento
anual de cerca de 1,5% ao ano.
No primeiro ano em que assumimos a direcção da REP, foi deliberado pela
direcção que a REP apenas pagaria de quota anual para a IARU, a quantia
correspondente ao efectivo número de associados que de facto contribuíam
para a sua liquidez e manutenção dos serviços de Bureau de QSL, e nesse ano
e seguintes (até 2001), foram pagos de quota à IARU apenas cerca de 575 do
número de associados efectivos, entre os mais de 1.750 até então registados
mas que deixaram de contribuir. É fácil de ver pelas receitas anuais, o
número efectivo de contribuintes portugueses para a IARU.
Do meu ponto de vista poderiam e deveria ser mais, caso existisse um
organismo federativo em Portugal, que incorporasse ou não as regiões
autónomas da Madeira e Açores, que do meu ponto de vista, deveriam ser
autonomamente representadas na IARU, como ocorre em outros países
democráticos, dado o estatuto de autonomia da Madeira e dos Açores, mas isso
são questões dos nossos compatriotas insulares que não nos dizem respeito, a
decisão e a opção é Vossa.
Por outro lado, é hoje absolutamente inegável que o Radioamadorismo em
Portugal tem vindo a evoluir, em termos de estruturas e de intervenção no
âmbito local e regional, graças justamente à criação de associações e clubes
de radioamadorismo. Onde em cada espaço associativo se tem vindo a
desenvolver temáticas, aptidões e competências de manifesto interesse e
utilidade pública, nos campos da ocupação dos tempos livres das crianças e
dos jovens, em termos de cultura e difusão de actividades e festas
populares, em termos desportivos, em termos de criação de redes e
infra-estruturas técnicas de serviço dos amadores e apoio à protecção civil
(embora em muitos casos, quer a administração local, quer a central não as
valorizem, por ignorância e ostracismo, mas isso são outros temas).
Nada mais no radioamadorismo é só a fonia e a telegrafia das faixas de HF,
como terá sido até aos anos de 1970.
Repare que, nos últimos 35 anos, todas as áreas temáticas e de
especialização técnica e até científica, desenvolvidas pelo Radioamadorismo
português, tiveram de nascer e crescer, todas elas sem excepções, fora da
intervenção da REP, que apenas se mantém activa no DX, no serviço de QSL,
nas taças e diplomas, sem nunca promover outros tipos de iniciativas,
inclusive na área da educação juvenil (crianças e jovens em idade escolar)
excluindo liminarmente esses projectos, sem nunca os ter sequer executado.
Por outro lado, é importante referir que os organismos privados de direito
colectivo (clubes e associações) são livres de focarem as suas actividades
naquilo que consideram essenciais para si mesma e os seus associados. Nada
obriga um clube de DX e expedições a ilhas e castelos, a terem de funcionar
para o público, sem com isso estarem dispostas a prestar qualquer serviço de
utilidade pública.
Mas ao invés disso, outros organismos, incluindo associações criaram
estatutos e planos de acção que potenciam os aspectos temáticos do
Radioamadorismo moderno, de forma colectiva, particularmente focados no
serviço e na utilidade pública, conferindo menos atenção aos aspectos
lúdicos e desportivos ou competitivos do radioamador. As opções são
infinitas, as áreas temáticas do radioamadorismo não tem limites, dependem
da competência e da capacidade de criação e orientação cívica dos seus
promotores.
Quanto às suas afirmações, entendo que não são justas, no seu conjunto,
poderão existir casos pontuais, que nem sequer poderão ser sustentáveis, e
com o tempo acabam por se esgotar.
Finalmente, eu mesmo e um vasto grupo de outros amadores tivemos de sair da
REP em Julho de 2001, enquanto sócios e para não sermos mais perseguidos.
Autonomizamos o nosso trabalho, que tinha antes sido integrado na REP em
1997, fundámos a AMRAD em 2001 e digo-lhe hoje, ainda bem que assim
aconteceu - ele há males que vem por bem.
Em conclusão:
A REP ficou em paz e progride como se sabe, com os seus meios e os seus
associados.
A AMRAD tem vindo a crescer, sendo uma pequena ONG dirigida para a educação
e o desenvolvimento, através de uma intervenção educativa, que se faz
centrada no próprio radioamadorismo, participando na educação e na cultura,
partilhando meios técnicos e recursos humanos com escolas do ensino básico e
secundário, centros de formação profissional, politécnicos e universidades
técnicas, mantém parcerias com organismos nacionais e estrangeiros.
A AMRAD é o espaço que em 2001 nos foi recusado criar dentro da própria REP
e de uma possível estrutura de valorização da IARU, mas isso são desígnios.
Consubstancia o moderno modelo associativo do Radioamadorismo contemporâneo,
não desportivo, mas técnico, que emerge um pouco por todo o mundo, inclusive
ao arrepio da IARU, em especial nos EUA e Canadá, na Europa e Japão.
O Radioamadorismo universal e contemporâneo está numa fase de reencontro e
não se esgota, tal como nunca se esgotarão as comunicações radioeléctricas,
que só agora começamos a descobrir e a entender.
Um abraço,
Mariano, CT1XI
----- Original Message -----
From: <ct3fq ct3team.com>
To: "Resumo Noticioso Electrónico ARLA" <cluster radio-amador.net>
Sent: Monday, June 23, 2008 6:29 PM
Subject: Re: ARLA/CLUSTER: Quantos Radioamadores? Quantas Associações?
Quantos sócios?
> Boa Tarde caro Mariano,
>
> A representatividade mede-se pelo nº de sócios. Por exemplo penso que a
> REP deve ter uns 1000 sócios dos 5500 que seriam possíveis, mas isso não
> invalida a representatividade da REP a nível nacional.
> O que está aqui em causa é provar que existem falsas associações a nível
> nacional. Acredita realmente que todas as 260 Associações de radioamadores
> existem para servir os radioamadores? Acredita também que a quantidade faz
> a qualidade?
> Claro que sei que estou a mexer com poderes instalados, e também sei que
> muitos dos presentes são membros de corpos dirigentes de Associações e que
> este tipo de perguntas incomoda.
> Mas afinal o que há a temer em mostrar os numeros? As associações de
> radioamadores são alguma forma secreta da maçonaria?
> Que diabo é tão secreto? O que temem as associações? A verdade?
>
> Um abraço
>
>
>
> Mariano Gonçalves wrote:
>
>> CT3FQ,
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