ARLA/CLUSTER: Resposta ao Francisco Costa (CT1EAT) sobre a proposta.

João Gonçalves Costa joao.a.costa ctt.pt
Quinta-Feira, 24 de Janeiro de 2008 - 19:41:28 WET


Caríssimo Francisco Costa (CT1EAT),

Como sempre, li com a devida atenção esta tua resposta / proposta e agradeço-te o teu contributo.

Concordando em muitos pontos, em especial do preambulo, gostaria de esclarecer e justificar algumas opções por mim tomadas concretamente.

Algo que convêm salientar é que este trabalho não é "O REGULAMENTO" antes uma simples e despretensiosa proposta para colocar alguma ordem na casa. Talvez não saibas, mas a maioria dos concursos em Portugal ou a sua totalidade tinham e teem, na minha opinião, normas nos regulamentos totalmente desactualizadas e desenquadrados internacionalmente, mesmo ao nível mínimo de iniciados.

Neste caso, não se trata de ter mais ou menos ambição, mas pelo menos tentar, que as pessoas que organizam os eventos o façam de uma forma mais racional e actual, tendo algo onde se basear.

Obviamente que, o teu nível de exigência e ambição já ultrapassou este estágio, mas como se lê nos objectivos: " Incentivar a iniciação aos concursos aos Amadores de Rádio principiantes....."

Alias, todos os concursos nacionais aos níveis actuais são uma iniciação, e uns concorrentes, mais rapidamente que outros, que desejem evoluir e ter outras ambições e desafios, passam para o Campeonato do MAF, onde as coisas são bastante diferentes e onde o grau de exigência técnica, de conhecimentos, e de equipamentos, é muito mais elevado.

Não é a primeira vez que apresento ás associações promotoras de concurso em Portugal, nesta área, propostas para a modificação dos seus regulamento. Anteriormente, apresentei normas muito parecidas com as tuas propostas, no entanto e ao contrário desta vez, não obtive qualquer reacção positiva e basicamente tudo ficou na mesma.

Partindo destas premissas, que alguns consideram pouco ambiciosas e que eu particularmente acho no nosso panorama actual português realistas, objectivas e facilmente aplicáveis, umas mais que outras, elaborei este trabalho. Obviamente, que desta vez escutei com mais atenção não só as pessoas que realizam o esforço continuado e anual da organização, que devem ser sempre valorizado e apoiado, como defini o perfil tipo do concorrente português destes eventos.

Portugal, tem alguns aspectos suigeneres e que nem as organizações, nem os concorrentes típicos, estão dispostos a abdicar, por muito menos competitivas que se possam tornem as coisas.

Assim sendo, vamos ao pormenor:

" 2) Sáb./Dom. 13-13 UTC "
Não existe qualquer tradição em Portugal, nesta área, de concursos de 24H. Particularmente e principalmente para estações "portáteis", que são aquelas que mais animam estes eventos, é algo violento e com a possibilidades de reais e graves implicações na sua segurança pessoal e material. Por outro lado, e como bem sabes certamente, em VHF e UHF em média por tropo, os melhores contactos realizam-se ao nascer e ao pôr do Sol, isto a um nível de +- 500 Km. Assim, pessoalmente considero que o Sábado é o melhor dia para os concursos com horários entre as 14H e as 22H UTC, com possibilidade de ser estendido ao Domingo entre as 7H e as 12H UTC

" 4) Estação Fixa/Portátil, Mono Banda/Multi banda, Mono/Multi operador (esta última apenas em multi banda)"
Sendo os dois primeiros pares exequíveis e aplicáveis não me parece que o segundo o seja rapidamente, pois se á algo que muitos querem manter é um sistema que não existe, isto é, continuarem a ser mono operadores de estações multi. Daí eu referir que, isto implicaria um corte radical com aquilo que se passa actualmente, onde são todos mono operadores mas utilizam a/as mesma/as antena/as e o mesmo/os rádio/os no mesmo sitio. Assim, optei pela formula minimalista da Categoria única para estações fixas, móveis ou portáteis, (todos contra todos).

"6) FM/SSB (eventualmente CW)"
Penso que já respondi a este item, desde á muitas dezenas de anos que se tenta em Portugal, sem sucesso, implementar a banda lateral e o morse nos concursos nacionais em VHF e UHF, inclusive recorrendose ás bonificações. No entanto, a sua utilização têm sido quase que residual ou inexistente. Inclusive, muitos dos concorrentes nacionais sentem-se constrangidos, pois acham uma concorrência "desleal" quando a maioria em concurso dispõem unicamente de equipamentos com FM.

"7) 1 QSO por banda/modo. Report RS, Num, QTH Loc e/ou Abrev. Distrito."
Todas já se encontram na proposta(não o modo)não me parece importante a opção QTH Loc e/ou Abrev. Distrito excepto para outros fins. Alias, como sabes e nesta área utiliza-se predominantemente o QTH Loc.

"9) Mults: QTH loc e/ou Distritos;  Pont. Final por banda= pontos x mults

Multi Banda= Pont. Final banda 1 + Pont. Final banda 2 + Pont. Final banda 3

Bónus= + 100 pontos ao ODX (único no concurso)."

São opções de pontuação. Se num concurso com SSB e destinado á longa distancia faz muito sentido a existência de multiplicadores, nos concursos de caris tipicamente nacional em FM, 10 quadriculas + 1 no melhor dos cenário, não me pareceu importante.

"10) Logs só em suporte electrónico, formato Cabrillo"
Pois, isto implicaria excluir os colegas que não têm computador ou quem lhes possa fazer os log´s em formato electrónico e é algo, que todas as Associações por mim contactadas, descartaram linearmente. Penso que, como em grande parte da Europa desenvolvida, esta opção terá de ser tomada mais cedo ou mais tarde, só não o sendo devido ainda ao numero de participantes nos concursos nacionais.

Assim, em conclusão, e do meu ponto de vista, o aumento para já do grau de exigência e complexidade não é compatível com os "churrascos" e as amenas "sardinhadas" que são os concursos nacionais na sua essência. Alias, quando digo "churrascos" e "sardinhadas" não é só uma figura de estilo, mas antes uma realidade concreta e objectiva de grande confraternização e que ninguém está disposto seriamente a abandonar em favor de uma maior competitividade.

Obviamente, que neste panorama, impor ou criar outras exigências era o mesmo que falar chinês, penso eu. O que servia tentar compilar um regulamento ambicioso e colocar a fasquia dos concursos um pouco mais elevada, se o mesmo iria simplesmente para "delete" das mensagens. Já o tentei noutra vezes e a resposta foi o "caixote do lixo", assim, este ano, tento algo mais realista e objectivo, e menos idealista e desenquadrado da nossa realidade nacional.

Repara, isto não é nem por sombras um regulamento que eu gostava de criar para o Portugal do futuro, é o possível, neste momento e dentro do nosso contexto, não passa ao nível europeu e mundial de uma SIMPLES proposta de enquadramento para concursos de iniciados nesta área.

O grande problema de Portugal, a todos os níveis, a começar pelo político e económico, é não ter uma "classe média"; ou somos uns "pobres" ou então "muito ricos" e o mesmo se passa no nosso radioamadorismo. Ou estamos ao nível "TOP 10" mundial ou "Down 100"; o nível médio é quase inexistente.

Durante muitos anos fartei-me de escrever, falar e idealizar uma realidade europeia e mundial e acabei muitas vezes  por ser o único na fazer CQ na Serra para o MAF e o IARU. Pelo menos, nos últimos anos temos melhorado bastante neste aspecto ao nível Ibérico e hoje já podemos disputar "taco a taco" com os espanhóis nesta área, mas continuamos a ter um enorme deficit nos níveis intermédios.

Por ultimo, quanto ao CT1FBF ser "Award Manager" de algo, não será este certamente, hihihi.

Um abraço meu Amigo, espero sempre contar contigo e com as tuas criticas construtivas e sugestões.

João Costa
CT1FBF

PS- Que me desculpe o David Quental (CT1DRB) por utilizar muitas das frases que escrevi para uma resposta que lhe foi dada pessoalmente.



-----Original Message-----
From: Francisco Costa, CT1EAT [mailto:listas_ct1eat  sapo.pt]
Sent: quarta-feira, 23 de Janeiro de 2008 22:19
To: Resumo Noticioso Electrónico ARLA
Cc: João Gonçalves Costa
Subject: Re: ARLA/CLUSTER: Proposta para Regulamento base para ConcursosNacionais de FM

Caro João



Parabéns pela iniciativa de propor um regulamento para os concursos nacionais de VHF e UHF. Como já alguns fizeram, também vou dar a minha opinião, mas antes gostaria de abordar algumas questões prévias.



Qual o objectivo de um concurso?

Além do aspecto competitivo, inerente a qualquer concurso, em qualquer actividade, os concursos de radioamadores acima de 30 MHz são muitas vezes usados, para estimular a actividade em bandas e/ou modos menos usados (por ex. 435 e 1250 MHz), para "activar" quadriculas com pouca actividade (para o diploma VUCC), para estabelecer recordes de distancia, para ensaiar novo software e hardware (rádios, antenas, amplificadores, etc.), simultaneamente testar a sua robustez e fiabilidade, etc.

Portanto, ao menos em teoria, em função dos objectivos que mais importa promover, os organizadores ajustam os regulamentos dos concursos.



Como deve ser diferenciada a participação?

Desde logo operar apenas em VHF não é o mesmo que operar em 2 ou 3 bandas. E também não é o mesmo operar no conforto do lar, que carregar com a tralha toda e montá-la sob chuva ou calor. Também é muito diferente fazer tudo só, ou reunir um grupo de amigos e operar o concurso em conjunto. É por este motivo que as categorias dos regulamentos dos concursos diferenciam estes aspectos para, tanto quanto possível, exista um principio antigo chamado "igualdade de armas", isto é, para que um combate seja leal, é fundamental que o resultado dependa apenas das capacidades dos intervenientes, e não dos instrumentos que dispõem.

Além dos factores de diferenciação que referi outros, porventura com menor influência no resultado, pode ser invocado. É o caso da potência, do uso do packet cluster, telemóvel, etc.



Como deve ser contabilizado o resultado?

A resposta parece evidente: ao maior esforço deve corresponder um maior resultado. Mas como é medido o resultado? Pelo número de contactos (por banda)? Pela (maior) distância entre cada correspondente? Pela maior variedade de áreas contactadas? (Em HF é usual usar os DXCC, Zonas CQ/ITU, IOTA, etc. Acima de VHF é normalmente usado a "Main Square" XXyy. Mas pode ser usada outra divisão, por ex. o Distrito.). Eu acho que o resultado final deve ser um misto de tudo isto, e todos estes parâmetros devem ter influência no resultado final.



Como deve ser premiado o resultado?

Naturalmente por cada categoria/banda, de acordo com a disponibilidade financeira dos organizadores. Mas, no mínimo, com a impressão de um diploma.



Dito isto, e para não me alongar mais, tendo em conta os princípios supra abordados e a realidade nacional, eis as alterações que proponho (os números são referentes ao projecto original):



2) Sáb./Dom. 13-13 UTC



4) Estação Fixa/Portátil, Mono Banda/Multi banda, Mono/Multi operador (esta última apenas em multi banda)



6) FM/SSB (eventualmente CW)



7) 1 QSO por banda/modo. Report RS, Num, QTH Loc e/ou Abrev. Distrito.



9) Mults: QTH loc e/ou Distritos;  Pont. Final por banda= pontos x mults

Multi Banda= Pont. Final banda 1 + Pont. Final banda 2 + Pont. Final banda 3

Bónus= + 100 pontos ao ODX (único no concurso).



10) Logs só em suporte electrónico, formato Cabrillo



Por último, embora não sendo associado da ARLA, proponho que essa associação institua um diploma para quem confirmar todos os QTH Loc em Portugal Continental (e/ou ilhas), ou em alternativa, confirmar todos os distritos (em 144, 435 e 1250 MHz), e que o CT1FBF seja o "Award Manager".



73 F.Costa, CT1EAT
www.qsl.net/ct1eat





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