Re: ARLA/CLUSTER: Para Reflexão
José Luis Proença (CT2GZB)
ct2gzb netcabo.pt
Quarta-Feira, 2 de Abril de 2008 - 16:36:21 WEST
Colega Paulo Pinto e restantes colegas.
O seu mail foi muito lúcido e trouxe à baila temas para uma urgente reflexão, principalmente no que toca a associações.
O meu mail de título Hipocrisia foi mais no intuito de chamar a atenção para a injustiça criada pela entidade reguladora e não pelos colegas que são CT1 SEM morse e que continuam a ter o "privilégio" de usar todo o espectro sem ter feito a tal esforço individual para evoluir.
Quanto ao morse não tenho nada contra ele, aliás, acho que é o modo rei de todas as modalidades do nosso hobby.
A questão que se impõe é o de repor a legalidade por parte da entidade reguladora e nada mais que isso.
Como repor a legalidade? Isso terá que ser a própria a resolver.
Para a classe A tenho a humildade suficiente para dizer que nunca lá vou chegar visto que não tenho competência técnica para tal.
Já vi os exames e digo-vos que aquilo para mim é chinês.
Agora o amor que tenho pela rádio não vai haver entidade reguladora, colega ou seja lá quem for que me tire essa paixão por causa de classes X, Y ou Z.
73 de CT2GZB - José Luis.
----- Original Message -----
From: Paulo Pinto
To: cluster radio-amador.net
Sent: Wednesday, April 02, 2008 11:16 AM
Subject: ARLA/CLUSTER: Para Reflexão
Caros Colegas,
Li todos os comentários até agora sobre o tema das categorias (CT1's, CT2's, morse e afins) e gostaria de vos deixar alguns assuntos para uma reflexão séria.
Importa aqui saber para onde devemos caminhar e não resvalar para terrenos que nada tem a ver com a discussão do tema em si. É sabido que se torna impossível agradar a gregos e a troianos. O que a mim me parece correcto poderá não parecer ao meu vizinho, por muitas afinidades que tenhamos. Saber aproveitar a diferença de opinião para encontrar uma solução equilibrada é a virtude da diversidade. Não poucas vezes se assiste à generalização das questões ou à individualização das mesmas. Ou paga o justo pelo pecador ou então leva-se a opinião para campos que se identificam claramente com a guerra pessoal. Sou de opinião que qualquer desentendimento a nível pessoal, que os há, deve ser tratado em sede própria, ou seja, deve ficar no domínio exclusivo do privado.O que leva alguém a trazer estes problemas para a praça pública? Uma secreta esperança de arranjar adeptos para a sua causa, que actuam como uma espécie de defensores incondicionais da razão de alguém que conhecem há muitos anos, mas cujo teor do desentendimento desconhecem por completo. Chamo a isso a conivência por simpatia. Eu sou amigo do A e desconhecido do B. Numa discussão entre o A e o B eu tomarei partido do A, por simpatia. É uma tendência social, vista em todos os domínios que não apenas o radioamadorismo. É neste perigo que devemos evitar cair, sob pena de todos calarmos a nossa voz.
Importará reflectir sobre duas questões:
Primeiro, a valia técnica de cada radioamador.
Segundo, o perfil de comportamento cívico do mesmo.
Se na primeira questão é por demais evidente que existem diferentes níveis de conhecimento entre os amadores de rádio, na segunda, esses conhecimentos técnicos são inteiramente indissociáveis do comportamento de cada um. Isso coloca-nos uma primeira questão. Deverá a avaliação de um radioamador ser feita apenas com base na primeira? Como analogia, deverá um candidato a detentor de carta de condução efectuar um exame de teor psicotécnico? Bom. Parece-me inevitável que assim o seja.
Assim sendo, estará respondida a questão da falta de ética de operação, dos atropelos e da falta de respeito, da utilização indevida de frequências, da vaidade e do narcisismo, das fraudes nos concursos (o único fidedigno será o WRC).
Fica então claro que devemos dividir claramente a questão técnica da questão do comportamento. Parece-me consensual.
1) Sou a favor da distinção de categorias apenas como forma de incentivar a aprendizagem e a evolução. Parece-me producente e teoricamente certo que se incentive a aprendizagem. Essa distinção faz-se hoje sentir na utilização do espectro, no acesso a segmentos secundários e na potência de emissão. Infelizmente, essa distinção é mais divisora do que aglutinadora. Em vez de nos gladiarmos sobre a importância psicológica, social e de estupidez mesquinha de ser detentor de uma categoria melhor do que a tua, devemos encontrar soluções para que a valência técnica de cada um de nós seja cada vez maior. Traduzindo isto em miúdos, as classes de amador deverão servir para servir objectivos de incentivo pessoal e não de estatuto social. É tudo uma questão de postura. Quanto a isso não podemos esperar que todos sejamos iguais.
2) A obrigatoriedade do exame de morse não me parece um aspecto que deva estar ligado à utilização do espectro. Cabe ao radioamador decidir se pretende aprende-lo, sem que isso o possa penalizar. Das vantagens e desvantagens do morse não falarei, pois parto do princípio que qualquer radioamador esclarecido as saberá.
3) O que eu acho fundamental:
Neste momento parecem-me existir questões mais fundamentais do que discutir privilégios.
Para onde caminha o radioamadorismo?
O que divide as associações e o que as une?
Estaremos nós a matar o nosso hobby?
O que isso da Protecção Civil?
Quantos de nós estarão preparados para agir em caso de emergência?
A quem respondemos?
Onde existe um plano nacional digital?
Para que usamos o APRS?
Que planos existem nas associações para se prestar formação técnica aos seus associados?
Onde se nota que o interesse colectivo se sobrepõe ao interesse pessoal?
O que retiramos como aprendizagem da competição e do DX?
Onde existem grupos de estudo de propagação?
Quem estuda os log's de um concurso e os extrapola para questões de índole técnica?
Não querendo cair no erro que descrevi no início, o de generalizar, pois conheço casos particulares de empenho nestas questões, parece-me que deveriam ser discutidas numa plataforma alargada. Será tão difícil colocarmo-nos de acordo no essencial? Temo que seja.
Vivemos todos voltados para dentro. Os que tentam fazer algo, esbarram com resistências e desistem. Não estão para se chatear, como dizem. E enquanto vamos estando todos para não nos chatearmos, a letargia continua. Também é verdade que se dissermos algo que vai contra a opinião de alguém, estamos a ser acusados de qualquer coisa que não corresponde à nossa intenção.
O radioamadorismo é cada vez mais individualista, apesar do número de associações.
Talvez estas questões não tenham solução. Talvez daqui a 50 anos o radioamadorismo acabe ou fique restrito a um grupo de nostálgicos que utilizarão um pequeno segmento algures entre o VHF e UHF.
Não me reconheço como imaculado ou iluminado. São apenas algumas questões que vou discutindo com alguns amigos e que achei ser boa altura de colocar num âmbito mais alargado.
73
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CT1ETE, Paulo Pinto
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