ARLA/CLUSTER: Para Reflexão

Paulo Pinto ct1ete gmail.com
Quarta-Feira, 2 de Abril de 2008 - 11:16:04 WEST


Caros Colegas,

Li todos os comentários até agora sobre o tema das categorias (CT1's, CT2's,
morse e afins) e gostaria de vos deixar alguns assuntos para uma reflexão
séria.

Importa aqui saber para onde devemos caminhar e não resvalar para terrenos
que nada tem a ver com a discussão do tema em si. É sabido que se torna
impossível agradar a gregos e a troianos. O que a mim me parece correcto
poderá não parecer ao meu vizinho, por muitas afinidades que tenhamos. Saber
aproveitar a diferença de opinião para encontrar uma solução equilibrada é a
virtude da diversidade. Não poucas vezes se assiste à generalização das
questões ou à individualização das mesmas. Ou paga o justo pelo pecador ou
então leva-se a opinião para campos que se identificam claramente com a
guerra pessoal. Sou de opinião que qualquer desentendimento a nível pessoal,
que os há, deve ser tratado em sede própria, ou seja, deve ficar no domínio
exclusivo do privado.O que leva alguém a trazer estes problemas para a praça
pública? Uma secreta esperança de arranjar adeptos para a sua causa, que
actuam como uma espécie de defensores incondicionais da razão de alguém que
conhecem há muitos anos, mas cujo teor do desentendimento desconhecem por
completo. Chamo a isso a conivência por simpatia. Eu sou amigo do A e
desconhecido do B. Numa discussão entre o A e o B eu tomarei partido do A,
por simpatia. É uma tendência social, vista em todos os domínios que não
apenas o radioamadorismo. É neste perigo que devemos evitar cair, sob pena
de todos calarmos a nossa voz.

Importará reflectir sobre duas questões:

Primeiro, a valia técnica de cada radioamador.
Segundo, o perfil de comportamento cívico do mesmo.

Se na primeira questão é por demais evidente que existem diferentes níveis
de conhecimento entre os amadores de rádio, na segunda, esses conhecimentos
técnicos são inteiramente indissociáveis do comportamento de cada um. Isso
coloca-nos uma primeira questão. Deverá a avaliação de um radioamador ser
feita apenas com base na primeira? Como analogia, deverá um candidato a
detentor de carta de condução efectuar um exame de teor psicotécnico? Bom.
Parece-me inevitável que assim o seja.

Assim sendo, estará respondida a questão da falta de ética de operação, dos
atropelos e da falta de respeito, da utilização indevida de frequências, da
vaidade e do narcisismo, das fraudes nos concursos (o único fidedigno será o
WRC).

Fica então claro que devemos dividir claramente a questão técnica da questão
do comportamento. Parece-me consensual.

1) Sou a favor da distinção de categorias apenas como forma de incentivar a
aprendizagem e a evolução. Parece-me producente e teoricamente certo que se
incentive a aprendizagem. Essa distinção faz-se hoje sentir na utilização do
espectro, no acesso a segmentos secundários e na potência de emissão.
Infelizmente, essa distinção é mais divisora do que aglutinadora. Em vez de
nos gladiarmos sobre a importância psicológica, social e de estupidez
mesquinha de ser detentor de uma categoria melhor do que a tua, devemos
encontrar soluções para que a valência técnica de cada um de nós seja cada
vez maior. Traduzindo isto em miúdos, as classes de amador deverão servir
para servir objectivos de incentivo pessoal e não de estatuto social. É tudo
uma questão de postura. Quanto a isso não podemos esperar que todos sejamos
iguais.

2) A obrigatoriedade do exame de morse não me parece um aspecto que deva
estar ligado à utilização do espectro. Cabe ao radioamador decidir se
pretende aprende-lo, sem que isso o possa penalizar. Das vantagens e
desvantagens do morse não falarei, pois parto do princípio que qualquer
radioamador esclarecido as saberá.


3) O que eu acho fundamental:

Neste momento parecem-me existir questões mais fundamentais do que discutir
privilégios.

Para onde caminha o radioamadorismo?
O que divide as associações e o que as une?
Estaremos nós a matar o nosso hobby?

O que isso da Protecção Civil?
Quantos de nós estarão preparados para agir em caso de emergência?
A quem respondemos?

Onde existe um plano nacional digital?
Para que usamos o APRS?

Que planos existem nas associações para se prestar formação técnica aos seus
associados?
Onde se nota que o interesse colectivo se sobrepõe ao interesse pessoal?
O que retiramos como aprendizagem da competição e do DX?
Onde existem grupos de estudo de propagação?
Quem estuda os log's de um concurso e os extrapola para questões de índole
técnica?

Não querendo cair no erro que descrevi no início, o de generalizar, pois
conheço casos particulares de empenho nestas questões, parece-me que
deveriam ser discutidas numa plataforma alargada. Será tão difícil
colocarmo-nos de acordo no essencial? Temo que seja.

Vivemos todos voltados para dentro. Os que tentam fazer algo, esbarram com
resistências e desistem. Não estão para se chatear, como dizem. E enquanto
vamos estando todos para não nos chatearmos, a letargia continua. Também é
verdade que se dissermos algo que vai contra a opinião de alguém, estamos a
ser acusados de qualquer coisa que não corresponde à nossa intenção.

O radioamadorismo é cada vez mais individualista, apesar do número de
associações.

Talvez estas questões não tenham solução. Talvez daqui a 50 anos o
radioamadorismo acabe ou fique restrito a um grupo de nostálgicos que
utilizarão um pequeno segmento algures entre o VHF e UHF.

Não me reconheço como imaculado ou iluminado. São apenas algumas questões
que vou discutindo com alguns amigos e que achei ser boa altura de colocar
num âmbito mais alargado.

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-- 
CT1ETE, Paulo Pinto
http://www.ct1ete.net
http://transponderclubedeportugal.blogspot.com
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