ARLA/CLUSTER: radioamadorismo sem futuro
Mariano Gonçalves
ct1xi sapo.pt
Quarta-Feira, 10 de Janeiro de 2007 - 22:23:31 WET
Caro Salomão,
1 - (...) mas sim a inutilidade de muitas das existentes (...)
Penso que o aspecto da utilidade é relativo, todas são importantes, existe
um limite para tudo, em termos de quantidade, mas isso as circunstancias e a
ecologia ajustam naturalmente.
Contudo o principal aspecto é que cada associação, tenha capacidade e
vontade de produzir obra de interesse e utilidade, quer para os seus
associados (é para isso que eles a fundaram) e na mesma forma deverá servir
os aspectos públicos, a menos que, seja um clube privado de rádios-amadores,
virada sobre si mesma, sem vocação nem interesse nas causas de interesse
público, tem esse direito. Mas neste contexto, não pode contar com apoios
públicos.
Existem casos em que de facto foram constituídas associações, apenas para se
poderem licenciar repetidores.
Houve casos de repetidores que foram e estão licenciados em nome de
associações, mas são propriedade privada, instalados em casas privadas onde
nem a associação tinha acesso a eles. Recordo-me de casos desses passados na
REP por exemplo (quando fui presidente dessa associação, mas foram situações
que liminarmente dei cobro, e acabei com elas, mas logo vieram outros atrás
de regrediram na acção, e tudo continuou e está na mesma).
2 - (...) Defendo os direitos, liberdades e garantias e concordo com o
principio do livre associativismo, não concordo é com a não aplicação da
Lei.(...)
Estou inteiramente do seu lado, e já expliquei o meu ponto de vista.
O estado pode por cobro a essa situação, fiscalizando as associações tal
como se faz no movimento ambientalista, é simples. O Estado dá, mas o Estado
exige.
Por exemplo, o ministério do Interior (ANACOM) pode muito bem organizar um
Registo Nacional de Associações de Radioamadorismo (para amadores de rádio e
radioamadores) promovendo o voluntariado, o serviço público, a defesa e
protecção civil, a educação e a promoção da ciência e tecnologia.
3 - (...) Crianças e jovens! Completamente de acordo, o que me leva mais uma
vez a franzir o sobrolho à questão "X anos de espera". (...)
Podem existir soluções intermédias, talvez seja muito tempo dois anos,
sobretudo para uma criança ou jovem. Mas a rebaldaria que decorreu nestes
últimos 245 anos, tem de ter um fim, de que forma, experimentado, talvez
assim se consiga, ou então seguindo um modelo comprovado, tipo EUA ou outros
mais elaborados e comprovados.
Olhe na Espanha, é um descalabro. Eu em Dezembro estive a fazer um trabalho
em Málaga durante duas semanas, no Advanced Technology for Wireless, situado
no Parque Tecnológico de Anadaluzia, e confesso que dos EA7 que por lá
escutava na rádio (144 MHz) confesso que nunca lhes escutei a dar o
indicativo de chamada, durante horas e horas de QSO.
Salomão um abraço amigo, e esperança no futuro e nas pessoas.
Mariano
----- Original Message -----
From: "Salomao Fresco" <sal.fresco gmail.com>
To: "Resumo Noticioso Electrónico ARLA" <cluster radio-amador.net>
Sent: Wednesday, January 10, 2007 8:40 PM
Subject: Re: ARLA/CLUSTER: radioamadorismo sem futuro
Caros Colegas
Vou apenas rebater os pontos divergentes encontrados entre aquilo que
escrevi e a resposta do Colega Mariano.
1, 2, 3 e 4 - Absolutamente de acordo, embora não tenha "idade" para me
pronunciar sobre casos concretos (sei que os há e quais são)
Quando considero *exagerado* o actual número de Associações, não me refiro
ao facto de poder haver um número infinito das mesmas, mas sim a inutilidade
de muitas das existentes. Não pretendo ser defensor do licenciamento de
repetidores a pessoas singulares, mas sei que há casos em que foram criadas
associações só e apenas com esse propósito, e o resultado é o que está à
vista. (mais pregos para a cruz). Esta e outras, que os Colegas bem
conhecem, são situações que descredibilizaram as Associações de
Radioamadores.
Defendo os direitos, liberdades e garantias e concordo com o principio do
livre associativismo, não concordo é com a não aplicação da Lei.
5- Crianças e jovens! Completamente de acordo, o que me leva mais uma vez a
franzir o sobrolho à questão "X anos de espera". Talvez a solução passasse
por criar dentro das Escolas, Liceus e Estabelecimentos privados de Ensino,
um programa de divulgação do hobby. Mas é uma ideia que precisa de (muito)
amadurecimento.
Um abraço
Salomão
CT2IRJ
On 1/10/07, Mariano Gonçalves <ct1xi sapo.pt> wrote:
>
> Caro Salomão,
>
> 1 - (...) A actual conjuntura associativa, onde se colocam os interesses
> do
> individuo acima dos interesses da comunidade, é um modelo condenado ao
> fracasso.(...),
>
> Este tem sido o modelo seguido particularmente por uma associação, e seus
> dirigentes recentes, que sempre se colocaram numa postura de monopólio e
> egocentrismo (nos últimos 25 anos) imaginado-se acima dos desígnios
> nacionais do radioamadorismo português. Tem toda a razão e é oportuna a
> sua
> chama de atenção.
>
> 2 - (...) O exagerado número de Associações em Portugal vai levar à
> extinção
> de uma grande parte delas.(...)
>
> Não considero exagerado, considero sim que deveriam existir muitas mais
> associações e movimento associativo (por uma questão de descentralização
> regional e maior participação cívica dos cidadãos), mas sustentáveis, ou
> sejam, que fossem motores de um dinâmica de grupo que infelizmente não
> existe no país, e menos ainda na actividade dos amadores de rádio.
>
> 3 - (...) Por outro lado esta situação existe devido ao facilitismo com
> que
> se cria uma Associação (...)
>
> Felizmente que a Constituição da República depois do 25 de Abril de 1974
> nos
> consagra (entre muitos) dois direitos fundamentais, 1) o direito ao livre
> associativismo, e 2) o direito e liberdade de escolha associativa.
>
> Antes todos éramos obrigados a estar associados numa só associação, cuja
> missão (passáda e presente, salvo o QSL) de triste protagonismo nacional
> todos conhecemos.
>
> 4 - (...) A ANACOM exige um relatório de actividades anual às Associações,
> se tal relatório não for entregue essa Associação "cessa" actividade junto
> da reguladora (...)
>
> Deveria cessar imediatamente, sim, num prazo máximo de 30 dias. Acho que
> tem
> absoluta razão. E responder criminalmente por esse facto, salvo se
> extinguisse ou não possuísse possibilidade de renovar os órgãos sociais,
> extinguindo-se da mesma forma.
>
> Infelizmente isso está na Lei, mas a ANACOM não tem exigido o seu cabal
> cumprimento.
> Esse modelo de fiscalização tem sido exemplarmente seguido por exemplo no
> registo nacional das ONG, ou das Associações de Ambiente, que são
> anualmente
> apoiadas pelo Estado (sim) mas para desenvolverem acções de âmbito local,
> regional e nacional, e são pagas para esse desempenho, mas tem de cumprir
> pressupostos, definidos pela administração central.
>
> Julgo que, com imenso beneficio para a educação, muitas associações de
> radioamadorismo poderiam fazer o mesmo nas escolas, quer no
> radioamadorismo
> técnico, quer desportivo e competitivo. Os EUA tem fundações para a
> educação
> e ciência.
>
> No radioamadorismo português é a permissividade total, não se faz, não se
> exige, e nada se cumpre.
> Daqui o descrédito em que tudo se afundou.
> Quantas associações dizem que existem, sem sequer existirem de facto, e
> quantos dirigentes associativos, em nome pessoal dizem que representam
> direcções de organismos, que ou não estão legais, ou nem sequer funcionam.
> Este é o problema, para a falta da credibilidade associativa.
>
> Mas quem se atreve a vir controlar esta situação ? - A ANACOM seguramente
> que não, pois nunca o fez.
>
> 5 - (...) Para cativar a juventude, se é efectivamente aquilo que
> queremos,
> para as hostes do radioamadorismo há que "refrescar" as ideias e deixar o
> conservadores à porta (...)
>
> Abrir o acesso das crianças ao radioamadorismo (os jovens já é tarde),
> logo
> a partir dos 7 anos de idade, ainda no ensino básico.
>
> Repare que: quando em 1998 se quis criar o embrião de uma estrutura
> nacional
> (então apoiada pelo ministério da ciência, dentro de uma associação
> filiada
> na IARU, caiu o Carmo e a Trindade, porque os radicais, afirmaram que se
> estava a desvirtuar o radioamadorismo, e mais; aquilo não era escola, nem
> jardim de infância).
> A verdade foi que, naquela época, se conseguiram mais de 350 voluntários
> em
> todo o país, entre sócios e não sócios dessa associação, para participarem
> no projecto, que eu tive depois de abandonar e recusar o apoio financeiro
> do
> Estado, que era dirigido a todos aqueles que cooperavam no projecto (com
> despesas e comprovada fundamentação orçamental), depois, para concluir,
> levei roda de «gatuno».
>
> Não me parece nunca, que e salvo raríssimas excepções, alguma vez, a
> generalidade dos radioamadores se venha a empenhar nas coisas educativas e
> dos jovens, embora alguns o façam, com manifesto empenho e satisfação, mas
> são mera excepção.
>
> Mas investir nas crianças e nos jovens é determinante para o nosso país e
> para o radioamadorismo também, ou para a elevação dos aspectos da cultura
> de
> ciência e tecnologia, portadoras de componentes ocupacionais e lúdicas de
> forte pendor pedagógico e educativo também.
>
> Apenas o egocentrismo de alguns negligentes de má-fé, não lhes permitiu
> vislumbrar esta perspectiva de interesse público e nacional, mas mesmo
> assim, assumiram-se (vaidosamente) como dirigentes e deitaram tudo a
> perder,
> vejamos quais serão afinal as alternativas futuras (nenhumas).
>
> Um abraço,
>
> Mariano, CT1XI
>
>
>
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Cumprimentos
Salomão Fresco
CT2IRJ
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