ARLA/CLUSTER: O que damos como certo pode falhar um dia... sem aviso

Miguel Andrade ct1etl gmail.com
Domingo, 26 de Abril de 2020 - 23:09:41 WEST


Caros colegas,

 

No momento em que enfrentamos uma grave crise de Saúde Pública e não podemos
simplesmente passar na loja mais próxima ao fim de um dia de trabalho, nem
que seja no percurso de regresso a casa, temos que dar largas à nossa
criatividade para solucionar os problemas e a lucidez para os antecipar.

Ao fim de 25 anos de serviço, com um cadastro impecável, a fonte de
alimentação da minha estação de radiocomunicações cedeu perante o vírus
Covid 19 das fontes de alimentação,  precisamente quando mais falta fazia,
ou seja, nesta quadra de confinamento em que estou a bater todos os recordes
de horas de radiocomunicações, enfim, ainda que num rácio de 2:1, ou seja, 2
horas de receção para cada 60 minutos de emissão/receção, pois a rádio tem
sido a minha companhia em momentos como este, enquanto vos escrevo estas
linhas tendo como cenário uma conhecida estação de radiodifusão em Ondas
Curtas.

Tudo se iniciou há cerca de uma semana, quando comecei a dar conta de
algumas anomalias que se foram tornando mais e mais frequentes.

Às primeiras manifestações dos sintomas não estamos alerta, porque são
factos espaçados no tempo e fenómenos de curta duração, pelo que a ânsia de,
por exemplo, conseguir aquela “figurinha” no DX impediu-me de ler os sinais
e perceber o que os intermitentes ruídos estranhos no equipamento “vintage”
de VHF/UHF anunciavam.

O segundo sinal de alerta já não passou tão despercebido.

Subitamente a ventoinha de refrigeração da fonte de alimentação tornou-se
uma presença habitual e não apenas durante as emissões prolongadas ou com
mais consumo de energia devido à potência de emissão.

O terceiro presságio que ignorei foi o comportamento do sintonizador de
antena exterior. Também este dispositivo que nunca me havia falhado antes,
repentinamente perdia agora a sintonia, obrigando-me a desligar toda estação
e a esperar que a tensão chegasse aos 0 voltes antes de voltar a ligar tudo
de novo (sim, reconheço que um simples interruptor resolvia o reinício do
sintonizador, sempre que necessário, mas nunca antes havia sentido
necessidade de o ter sequer previsto no esquema elétrico).

Por fim, para não ser demasiado fastidioso com todas as manifestações mais
próprias de uma obra como o Malleus Maleficarum Maleficat & earum haeresim,
ut framea potentissima conterens, mais conhecido como Malleus Maleficarum ou
O Martelo das Bruxas (https://pt.wikipedia.org/wiki/Malleus_Maleficarum), o
epílogo das exteriorizações quase “paranormais” deu-se quando o mais moderno
equipamento da estação começou, inesperadamente, a cortar o cordão umbilical
com o computador sem razão aparente.

As consequências dessa quebra de comunicação só podem ser compreendidas e
antecipadas pelos apreciadores de um bom contacto em comunicações digitais,
nomeado pela frustração de quando o mesmo fica incompleto e o retomar da
operação dependente de um reinício do programa (com a correspondente perda
dos dados e registo) assim como da irritante necessidade de desligar e
voltar a ligar o próprio transcetor.

Não sendo a perda de vários contactos coisa de pouca mota, o epílogo foi ter
que me levantar duas vezes durante uma noite, quando o equipamento estava
apenas em receção em WSPR.

Foi assustador. Parecia que o equipamento estava possuído por demónios
eletrónicos, ligando-se e desligando-se por vontade própria e por vezes com
uma intermitência e cadência tão assustadoras que me levou a desliga-lo de
vez a meio da madrugada.

De início o culpado encontrado foi o computador, o qual não foi parar à
fogueira, mas foi prontamente substituído por outro, mais antigo é certo,
mas ainda assim teoricamente mais fiável.  Na prática a solução encontrada
verificou-se um malogro apenas em escassos dias.

Como estes fenómenos eram aleatórios e pouco consistentes, lá fui
preenchendo os meus dias de reclusão com muita rádio, como desde o início
dos dias de isolamento social, até que ontem, durante o QSO na estação
repetidora que assinala quase todos os meus Sábados, após as 21:30,
precisamente durante uma pausa nas transmissões em VHF, o “modernaço”, que
tinha como serviço recear em WSPR as estações na faixa dos 630 metros, entra
subitamente em convulsões num ataque digno de uma forte acometida de
epilepsia.

Assutado pela ferocidade dos acontecimentos que afetaram pela primeira vez
os 3 equipamentos que estavam ligados à mesma fonte, reparo, pela primeira
vez, que no vintage a luminosidade dos seus instrumentos analógicos ia
perdendo brilho de forma sincronizada com os achaques dos restantes.

Além de desligar tudo, incluindo a própria fonte, muni-me de um multímetro
digital, pois a escala analógica do voltímetro da fonte mal se movimentava.

Mesmo sem consumo, as variações de tensão eram visivelmente rápidas e
amplas, numa dança compreendida entre os 10 e os 14 voltes, com bruscas
quedas aos 8 voltes (precisamente quando o “modernaço” se desligava, embora
o vintage nunca perdesse a compostura para além da diminuição do brilho e da
potência de emissão).   

Moral da história: não releguem para segundo plano incidentes ou sinais de
alerta.

Partilho esta história convosco para os mais distraídos e confiantes não
arriscarem avarias desnecessárias e quiçá dispendiosas, por negligenciarem a
monitorização de todos os elementos da estação, nomeadamente através de um
voltímetro digital na(s) fonte(s) de alimentação ou o essencial aferidor da
relação de ondas estacionárias, só para mencionar dois instrumentos
essenciais à prevenção de avarias e dissabores.

É importante também não negligenciar meios redundantes na estação.

Por não ter uma outra fonte de alimentação de reserva, neste momento estou a
fazer rádio à custa de uma bateria de 12 V 25 Ah, a transmitir apenas com 5
watts e a fazer contas de cabeça para calcular se tenho autonomia para
deixar o “modernaço” toda a noite a receber WSPR num dos próximos dias, nem
que tenha que programar a temporização do ecrã para os 2 minutos e suprimir
completamente o som nos altifalantes, a fim de poupar mais uns minutos de
autonomia.

Já tive uma estação independente da rede elétrica e com uma autonomia de
quase uma semana em termos energéticos, mas dei como certo que a minha única
fonte de alimentação era o suficiente para assegurar muitos anos de rádio e
agora estou a fazer gestão de recursos à moda da Apolo 13, lembram-se como
foi? (https://pt.wikipedia.org/wiki/Apollo_13)... "Houston, tivemos um
problema".

 

 

Um abraço e...

 

73 de Miguel Andrade (CT1ETL)

IM58js  CQ Zone 14   ITU Zone 37

 <http://www.qrz.com/db/CT1ETL> www.qrz.com/db/CT1ETL

 

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