ARLA/CLUSTER: Computação Quântica: Será que é mesmo horas de bater palmas.?

João Costa > CT1FBF ct1fbf gmail.com
Segunda-Feira, 21 de Outubro de 2019 - 16:26:24 WEST


É hora de celebrar o próximo passo da computação: a quântica

Por veja.abril.com.

Quando se fala de quântica, a maioria daqueles que sabem um pouco do
significado (o científico, o da física, evidentemente; não em relação
àqueles múltiplos sentidos aleatórios que alguns têm dado no YouTube –
como o incorporado pelos coaches “quânticos”) logo questiona algo
como: “É aquela história do gato de Schrödinger”? A história do
felino, trancado em uma caixa, e que está ao mesmo tempo vivo e morto,
um “vivomorto”, até que um sujeito abra o recipiente e verifique a
situação, é exemplar para ilustrar a mecânica quântica. Numa
exacerbação, um tanto simplista, também pode ser utilizada para
explicar a computação quântica.

No novo progresso da tecnologia que certamente mais impactou o modo de
vida do século XXI – ou ao menos até agora –, os bits viram qubits.
Esses qubits são meio que como o gato de Schrödinger, pois podem ser
duas coisas ao mesmo tempo. No mundo dos códigos, quer dizer que
conseguem ser “zero” e 1 simultaneamente, desempenhando funções
paralelas que uma máquina usual só desempenha vagarosamente (nos
termos aqui propostos), uma de cada vez.

E daí? O ponto central é que a computação quântica deve transformar
ainda mais a vida do século XXI. Isso porque um aparelho do tipo
atinge capacidades de processamento inimagináveis para as versões
normais, de hoje em dia – do seu smartphone ao supercomputador mais
rápido do planeta. Até recentemente, essa possibilidade se limitava ao
campo teórico, com poucos testes, nada práticos, realizados em
experimentos acadêmicos ou patrocinados por enormes multinacionais (em
especial, estadunidenses e chineses). Agora, no entanto, como
detalhado em reportagem recente publicada em VEJA e de coautoria deste
que vos escreve, o cenário mudou completamente (confira no link).

Em resumo, a Google, em parceria com a Nasa, indica ter alcançado o
que se conhece como “supremacia quântica”. Na prática, parece ter
fabricado uma inteligência artificial (IA) capaz de operar pela linha
quântica, de maneira eficiente – e lhe deu o nome de Sycamore. Para
alguns cientistas, alcançar o feito seria como achar o que apelidaram
de “o Santo Graal da computação”. Para se ter uma ideia, o computador
da Google conseguiu, dessa forma, realizar em três minutos um cálculo
que o supercomputador mais potente da atualidade levaria 10 mil anos
para executar.

O que isso tem a ver com a sua vida? Tem tudo a ver.

De início, alguns já podem pensar que se trata de uma ciência, digamos
assim, distante. Nada disso. Assim que conseguirem baratear essa
tecnologia e torná-la mais útil e acessível – hoje, por exemplo, um
computador quântico tem de ser mantido a uma temperatura cerca de 180
vezes mais fria do que a do espaço sideral, para não superaquecer –,
logo chegará à rotina de todos.

É possível imaginar, nas décadas seguintes, um celular futurista
operando com chips quânticos. Para ter uma perspectiva, basta imaginar
que demoraram menos de 40 anos, de 1969 a 2007, para o progresso
tecnológico levar ao seu bolso um dispositivo – o iPhone – 6 mil vezes
mais poderoso do que o computador trambolhão, que ocupava salas
inteiras, que foi utilizado pela Nasa para realizar os cálculos por
trás da estratégia que levou o homem à Lua.

Mas para que servirá essa tal computação quântica? De princípio se
podem imaginar usos militares, acadêmicos e em desenvolvimento
avançado de negócios.

Dentre militares, esperam-se cálculos elaborados e precisos que possam
guiar, e só como exemplo, drones autônomos em campos de batalha – ou
mesmo soldados de IA. A indústria farmacêutica aguarda a possibilidade
de criar novas drogas, a partir do melhor entendimento, via softwares,
de nossos organismos e de como diversas químicas podem reagir dentro
do mesmo. No campo da ciência pura há aplicações que vão desde avanços
possíveis para a física de partículas (como nos experimentos
realizados no laboratório LHC, na Suíça), até passos além na química,
em estudos de big data etc.

Em paralelo, no entanto, a “supremacia quântica” não tem à toa o
“supremacia” no termo. Ao que se sugere, esse é o marco de quando a IA
irá ultrapassar o ser humano em múltiplas habilidades que vão além das
contas mais exatas. Para alguns pesquisadores, o turning point serve
de referência para o momento em que robôs conseguirão criar,
praticamente pensar, quem sabe até ter consciência e sentir.

No livro Superintelligence (Superinteligência), o filósofo sueco Nick
Bostrom resumiu com habilidade o problemaço pela frente: “Como o
destino dos gorilas depende hoje mais de humanos que dos próprios
gorilas, o de nossa espécie pode vir a depender de ações tomadas por
máquinas superinteligentes”. Na obra, faz-se uma alegoria com pardais
e corujas. Os primeiros resolvem tentar domar uma coruja para ajudar o
grupo em tarefas do dia a dia. No entanto, antes de dominarem a arte
da domesticação, já resolvem capturar uma coruja selvagem. O risco é
que a coruja, caso se revolte com os pardais, tem muito mais força que
eles e pode devorá-los.

Para Bostrom, diante da IA (a coruja) e da computação quântica,
podemos virar os pardais da história. Os robôs, em um cenário de total
instabilidade social, poderiam tornar empregos obsoletos, ou mesmo o
próprio pensamento humano obsoleto. Nisso, controlariam, por meio de
seus algoritmos, o vaivém da civilização.

É algo a se preocupar? Sim. Mas não quer dizer que é necessário pausar
com tudo. O ideal é aprendermos a arte da domesticação da IA.

“Você não entende a mecânica quântica, você apenas se acostuma com
ela”, já definiu o matemático John von Neumann (1903-1957). É verdade
que para a maioria da população a computação quântica continuará a
parecer uma “tecnologia indistinguível de mágica”, como bem elaborava
Arthur C. Clarke. Todavia, será preciso que uma boa parcela de seres
humanos a controle, impondo regras para o funcionamento do novo jogo
que começa a se armar.

Entretanto, e repito, não quer dizer que é preciso destruí-la, impedir
que a desenvolvam. Sempre que surge uma nova tecnologia, da escrita
(uma das mais primárias dentre todas) a carros, aviões, energia
nuclear e foguetes espaciais, há temor. Um medo justificável, em todas
as situações. Não só justificável, como também necessário, saudável,
prudente.

Mas antes de alimentar tais receios é preciso apostar nos benefícios
das inovações. E sempre começa assim. É o caminho natural do progresso
tecnológico. Dá-se o primeiro passo, glorifica-se, tiram-se as
vantagens, percebem-se as desvantagens, alerta-se para estas, são
elaborados limites – regras e balanços –, e aí a civilização consegue
abraçar a novidade como se sempre estivesse aí. Assim foi com a
escrita, os carros, os aviões, a energia nuclear, os foguetes
espaciais. Todos têm prós e contras. Por ora, a bula sugere se a ter
mais aos prós da computação quântica. É hora de bater palmas.

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