ARLA/CLUSTER: Nos Açores, casal espanhol, vigia o Universo para monitorizar o movimento do eixo da Terra com radiotelescópio de 13 metros

João Costa > CT1FBF ct1fbf gmail.com
Quarta-Feira, 12 de Setembro de 2018 - 10:07:20 WEST


Nos Açores, vigia-se o Universo para monitorizar o movimento do eixo da
Terra

Na ilha de Santa Maria, há uma estação de recolha de dados para estudos de
sismos, georreferenciação, vigilância ou de riscos naturais. No futuro,
haverá também uma na ilha das Flores.
TERESA SOFIA SERAFIM <https://www.publico.pt/autor/teresa-serafim>
11 de Setembro de 2018, 7:22

Foto
Rede Atlântica de Estações Geodinâmicas e Espaciais, na ilha de Santa
Maria LUÃS
SANTOS
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Foi em Novembro de 2014 que Rubén Bolaño e Susana García chegaram aos
Açores. O casal espanhol trocou a sua vida perto de Madrid pela ilha de
Santa Maria. Aqui, os dois engenheiros de telecomunicações fazem a
manutenção e configuração dos equipamentos da Rede Atlântica de Estações
Geodinâmicas e Espaciais (RAEGE). Um desses equipamentos é um
radiotelescópio de 13 metros de diâmetro que localiza fontes celestes para
monitorizar a evolução das placas tectónicas ou do movimento do eixo da
Terra.

Rodeada por campo e vacas, a estação da RAEGE está ainda apetrechada com um
sismógrafo, um gravímetro ou duas estações do sistema de navegação por
satélite. O casal tem assim a missão de recolher dados para estudos de
sismos, georreferenciação, navegação, vigilância e riscos naturais.
“Medimos os parâmetros da Terra. Fazemos geodesia, que é a ciência que
estuda a forma e as medidas da Terraâ€, diz Susana García na sala de
controlo onde estão ecrãs com dados. “Aqui só disponibilizamos dados,
depois há instituições públicas ou universidades que pegam nelesâ€, avisa
Rubén Bolaño.
[image: PÚBLICO -]
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A ideia é construir também uma destas estações na ilha das Flores JOÃO
BORGES

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Inaugurada em 2015, esta estação faz parte de um projecto do Governo de
Espanha e do Governo Regional dos Açores para meter de pé quatro destas
estações. Além da de Santa Maria, há uma já a funcionar em Yebes (Espanha)
e vai começar a ser construída outra na ilha de Grã Canária, nas Canárias,
ainda este ano.

Também se prevê outra estação para a ilha das Flores, mas ainda não há data
para o início da sua construção. “Estamos ainda em negociações [para
escolha dos terrenos], mas é muito provável que seja no próximo anoâ€,
afirma Gui Menezes, secretário regional do Mar, Ciência e Tecnologia dos
Açores. “Esta estação nas Flores tem um custo estimado em cerca de seis
milhões de euros, que provavelmente terá de ser feito por fases porque é um
investimento muito grande.â€

Quando todas estiverem concluídas, haverá estações em três placas
tectónicas: na africana (Santa Maria); na americana (Flores); e na
euroasiática (Espanha). “É uma zona de interesse para se perceber como se
estão a movimentar as placas tectónicasâ€, frisa Rubén Bolaño. “E a razão
pela qual Santa Maria foi escolhida foi porque fica um pouco afastada da
união [das três placas] e para se colocar uma antena [do radiotelescópio]
precisávamos de um local estável.â€

No coração da antena

Visitemos então o radiotelescópio Very Long Baseline Interferometry(VLBI),
que faz parte de um serviço internacional de geodesia e radioastronomia.
Entramos – e fazemo-lo porque não está a decorrer nenhuma observação – e
logo vemos o computador de controlo da antena do aparelho. “Normalmente,
não movemos a antena deste contentor. Temos um software de controlo
remotoâ€, conta Rubén Bolaño.

Depois dirigimo-nos à cabine onde estão os seus motores, e tudo isto para
chegarmos à cabine de elevação. Ouve-se um som como se algo estivesse a
encher e a despejar. “Aqui é onde está o coração da antena, é o receptor
[que capta e amplifica a energia recebida que depois será processada].â€

Este radiotelescópio faz várias observações por semana e cada uma dura 24
horas. A sua primeira observação de um dia realizou-se em Março, segundo
Rubén Bolaño. “A antena está a apontar para uma fonte [celeste] e
acompanha-a durante dois a cinco minutos. Depois muda para outro local
diferente para acompanhar outra fonteâ€, explica. “A ideia é observar o
máximo possível de direcções em 24 horas. É como se essas fontes fossem
satélites no céu.†Em 24 horas, pode chegar a observar cerca de 200 fontes
celestes.

Essas fontes são quasares – objectos astronómicos distantes extremamente
luminosos, compostos por enormes buracos negros que agregam a matéria no
centro de galáxias. Susana García esclarece que os utilizam como um sistema
de referência fixo no céu e que servem para calcular a nossa posição na
Terra. Para realizar observações, são necessárias, pelo menos, duas antenas
(de diferentes radiotelescópios) para que se aponte à mesma fonte.
[image: PÚBLICO -]
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O radiotelescópio de 13 metros de diâmetro LUÃS SANTOSQuando a observação
termina, os dados são enviados para um ponto central que tem uma espécie de
supercomputador que relaciona esses dados. No final, comparam-se os dados
de várias antenas e procura-se o máximo de coincidência entre eles. “Ao
calcularmos a posição [da Terra] ao longo do tempo, estamos a monitorizar,
por exemplo, [a forma] como as placas tectónicas estão a evoluir ou a
monitorizar a rotação terrestreâ€, refere a engenheira.

No futuro, Rubén Bolaño diz que o radiotelescópio observará 24 horas todos
os dias. E um dos seus desejos é que haja uma maior homogeneização na
distribuição destas antenas por todo o mundo, pois há uma grande
concentração no hemisfério norte.

Além do casal espanhol, que pertence ao Governo de Espanha, dois
estagiários naturais da ilha trabalham na estação. Já Rubén Bolaño e Susana
García tiveram de adaptar-se aos Açores e deixar amigos e família. “Estamos
a gostar e a desfrutar da qualidade de vida cáâ€, conta Susana García a
sorrir e sem deixar de dizer que também sentem, por vezes, como a ilha é
pequena. “Costumo dizer que, para nós, a RAEGE é um projecto profissional e
pessoal porque tivemos de mudar a nossa vida toda para viver aqui.â€

Fonte:  Jornal Publico
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