RE: ARLA/CLUSTER: Reflexão: Sísmo e Tsunami em Lisboa

Miguel Andrade (CT1ETL) ct1etl gmail.com
Terça-Feira, 1 de Maio de 2018 - 21:15:07 WEST


Caro colega João Paulo Encarnação,

Sem querer desvirtuar este importantíssimo alerta e a diferença que faz
termos felizmente quem nos previna e abale as consciências de forma tão
útil, a primeira impressão com que fiquei, ao ler o texto até ao final com o
máximo interesse foi... oxalá que algo idêntico não aconteça durante os
próximos 40 ou 50 anos. Se acontecer, ao menos que o acaso me coloque fora
de Lisboa e em "distância segura".
Ainda que se trate de um cenário dos mais extremos, mas não impossível,
ficamos impotentes e siderados pelas consequências da calamidade.
Daqui se pode tirar uma evidente elação (para além de percebermos como
estamos a "anos-luz" de outras sociedades, como a do Japão, por exemplo),
não haverá meios de socorro suficientes nem em condições de operacionalidade
para se acudir aos sobreviventes nos primeiros dias (pelo menos até chegarem
reforços do resto do país). Até porque o socorro prestado não será, de todo,
igual para todos os cidadãos.
Para além das muitas dezenas de milhar de vítimas no período de várias horas
e dias subsequente à tragédia, nas quais se incluirão infelizmente talvez a
maioria dos operadores com CAN válido residentes ou a trabalharem nas zonas
afectadas, em particular aqueles com muita experiência em comunicações de
resposta à emergência (até por treino anterior específico ou por preparação
profissional), as estações de radiocomunicações que terão condições de
continuar operar sem electricidade e com as instalações destruídas,
sobretudo nas faixas atribuídas ao Serviço de Amador durante o pico da
resposta à catástrofe, estarão desorganizadas e verão com muita surpresa
acontecer, entre outras novidades imprevisíveis, duas situações que nunca vi
simuladas em nenhum exercício... a invasão das suas frequências por parte de
muitas estações não licenciadas e inexperientes em radiocomunicações
(sobretudo em VHF e UHF) e a "requisição" dos equipamentos ainda
operacionais pelas autoridades, à qual não se poderão opor por lei. Relembro
que essa requisição nem sempre incluirá o próprio operador, o que frustrará
muitos daqueles que passaram anos a participar em simulacros com empenho e
se sentirão preparados para dar o seu melhor.  
Quanto mais grave for a calamidade e mais desestruturada ficar a sociedade,
maiores as probabilidades de ser este o desfecho.
E ai de quem se atrever a deambular entre os destroços com um equipamento
portátil na mão operacional.
Em casos extremos, nomeadamente se estiver sozinho, pode ser assaltado e até
perder a própria vida, noutros será conotado com um agente da protecção
civil ou da prestação de socorro e ver-se-á extremamente pressionado pelas
vítimas mais próximas para conseguir auxílio imediato. E quantas mais horas
ou dias passarem, mais o desespero pode levar à incompreensão dos "aflitos"
pela falta de auxílio e desencadear actos de extrema violência que estão
para além do que se vê imaginado na ficção dos filmes de catástrofe.

Solução?
Sim, claro, há sempre uma e não precisamos de "inventar a roda".
Organização (e preparação antecipada) da sociedade como um todo.
Não como até agora, por vezes de forma irrealista e em pequenos grupos
(separados por pequenas coisas e divididos em pequenos feudos), mas sim de
forma metódica, devidamente preparada e inclusiva, ou seja, desde as
crianças do Jardim Infantil até aos idosos.
Quantos de vós, por exemplo, possuem neste momento uma formação válida em
suporte básico de vida?
Quanto à preparação para as comunicações de resposta à emergência no Serviço
de Amador e Serviço de Amador por Satélite não deveria estar também ela
fragmentadas em vários projectos e grupos separados ou dependentes apenas de
quem goste e se interesse pelo assunto, mas deveria fazer parte da formação
básica obrigatória para obtenção do CAN.
Mas como o último vestígio de avaliação prática de conhecimentos para
obtenção do CAN sempre foi tão contestada pelos Portugueses...
Saber trabalhar em rede eficazmente ou a forma de se organizar uma rede
eficiente de comunicações a partir de uma situação caótica com estações que
nunca se comunicaram na vida ávidas de um oportunidade para transmitir, ou
ainda saber comunicar de forma eficiente sob pressão e até com todas as
refeições diárias reduzidas a apenas uma e poucas horas de sono e com
ferimentos de alguma gravidade, em canais saturados de tráfego, não á a
mesma coisa do que uma conversa amigável em estação repetidora ou um DX.
   

Nota final: Esta é meramente uma opinião muito pessoal e não pretende ser,
de forma alguma, comparável à de especialistas.
Para um aprofundamento do que o Estado Português entende ser a Protecção
Civil, aconselho as seguintes leituras -
http://www.prociv.pt/pt-pt/PROTECAOCIVIL/LEGISLACAONORMATIVOS/LEGISLACAOGERA
L/Paginas/default.aspx. É uma leitura muito enfadonha para quem não se
interessa pelo assunto, mas é igualmente de vital importância para
entendermos até onde pode ir o papel de uma estação do Serviço de Amador
individual ou mesmo quando organizadas em pequenos grupos, se o respectivo
operador for um sobrevivente e estiver empenhado em voluntariar-se para
ajudar nas comunicações de resposta à emergência em redes alternativas à
"oficial", como recurso às lacunas que se venham a registar na mesma.


73 de Miguel Andrade ( CT1ETL )
IM58js - 38º44'57" N/009º11'26" W
CQ Zone 14 ********* ITU Zone 37
endereço em/adress in www.qrz.com/db/CT1ETL
  
________________________________________
De: cluster-bounces  radio-amador.net
[mailto:cluster-bounces  radio-amador.net] Em nome de João Paulo Saraiva A.E.
CT1EBZ
Enviada: segunda-feira, 30 de Abril de 2018 18:20
Para: Resumo Noticioso ARLA/CLUSTER
Assunto: ARLA/CLUSTER: Reflexão: Sísmo e Tsunami em Lisboa

TEMA I (cenário hipotético) 
Sismo atingindo a Área Metropolitana de Lisboa
São 09.40 horas de uma bela manhã de 1 de Novembro, talvez demasiado quente
para a época. Os termómetros marcam 14°graus e a terra começa a tremer, sob
um impulso vertical que vem do interior para o exterior e a faz balançar do
norte para o sul; os edifícios oscilam e desmoronam-se ao segundo momento de
duração. O abalo prolonga-se por sete minutos, tendo dois pequenos
intervalos de remissão.
Nas ruas o asfalto parte-se, abrem-se fendas por onde se libertam gases
sulfúricos, rebentam condutas de água, os esgotos brotam para o exterior os
seus conteúdos, enquanto noutros locais abrem-se enormes crateras por
afundamento das abóbadas do Metropolitano que engolem transeuntes e
veículos.
Alguns viadutos colapsam, esmagando algumas viaturas e os seus ocupantes,
que sob eles passavam e interrompendo, nesses e noutros locais, a circulação
ferroviária, por descarrilamento das composições. O sol tolda-se com as
nuvens de poeira provenientes das ruinas fumegantes que parecem sufocar
todos os sobreviventes. 
Nas praias e zonas ribeirinhas, o mar recolhe, deixando o fundo a descoberto
numa enorme extensão, mas logo a seguir encapela-se em ondas alterosas de
mais de vinte metros de altura, que avançam com fúria sobre as povoações
costeiras e entrando pelo estuário do Tejo, inundam violentamente a zona
ribeirinha de Lisboa, Cacilhas, Oeiras e Cascais.
O terror expresso pela população é indescritível. Logo nos primeiros
instantes milhares de pessoas ficam sepultadas nos escombros dos edifícios
que ruíram ou são arrastados pela fúria das águas para o rio Tejo. 
Ao ruido ensurdecedor da Terra em movimento, junta-se os gritos de dor e
aflição das pessoas e à queda dos edifícios e ao horror do terramoto,
sucede-se o pavor dos incêndios que, tendo tido inicio no centro da cidade,
motivados pelos curto-circuitos, pelas rupturas das canalizações de gás,
pelo rebentamento de garrafas de gás butano ou propano, vai-se propagando,
especialmente pelos bairros velhos da cidade. Ao cair da noite, Lisboa está
envolvida em chamas.
As pessoas correm desvairadas, ao acaso, de bairro para bairro, de rua para
rua, outras procuram entes queridos entre os escombros.
Às 11.24 horas regista-se o segundo abalo, o pânico é horrível, a cidades
despovoa-se, tentando os sobreviventes fugirem para os espaços livres.
O Tejo rola em catadupa, os barcos voltam-se, outros são arremessados por um
tsunami para a terra, estilhaçando-se contra edifícios ou colocando-se em
posições irrealistas e inacreditáveis, nas avenidas ribeirinhas, os mais
fracos e desprotegidos são pura e simplesmente engolidos sem aviso prévio,
muitos, os que trabalham de noite e iniciavam o seu descanso, acordam
debaixo de escombros ou submersos pela água salgada fétida suja e escura,
que transportava destroços e corpos de pessoas e animais. 
Num primeiro balanço, 10.000 casas ruíram completamente e inúmeras ficaram
gravemente danificadas, segundo o SMPC de Lisboa. O palácio da
Independência, no Rossio, o Teatro Nacional D. Maria, o Palácio de S. Bento,
o edifício da Camara Municipal de Lisboa, o quartel do Carmo, Comando-Geral
da GNR, o Tribunal da Boa-Hora, o Museu da Arte Antiga, o Palácio dos Condes
de Óbidos, sede da CVP, o Governo Civil de Lisboa, o Teatro Nacional de Dom
Carlos, o Hospital do Desterro, o Hospital da CUF, o Palácio das
Necessidades, a Igreja de São Domingos, a Igreja de Santo António, a Sé
Patriarcal, o Teatro Municipal de S. Luís, entre outros. 
No quartel da avenida Dom Carlos I do Regimento de Sapadores Bombeiros de
Lisboa o pessoal lutava por libertar algum material e companheiros
encarcerados e emparedados nas ruinas do que tinha sido um dos principais
aquartelamentos de socorro de Lisboa.
No Monsanto o abalo provocou um incêndio na cantina municipal que
rapidamente se propagou ao quartel do Regimento de Sapadores de Bombeiros e
ao Serviço Municipal de Protecção Civil através do mato contiguo aos
edifícios e que não era limpo há vários anos, os Bombeiros tentavam salvar o
que podiam ficando assim incapacitados de responder às necessidades da
população. 
Todos os viadutos na 2ª Circular se abateram ou sofreram danos que provocam
acidentes e impossibilitam os meios de emergência de transitar por aquela
artéria, e embora alguns meios de comunicação do principal aquartelamento de
Bombeiros da Cidade estejam operativos, o número de operadores e terminais
de comunicação disponíveis são irrisórios face ao número de pedidos de
socorro da população. 
O Centro Operacional 112 Sul (Central de Emergência de Lisboa) não sofre
felizmente praticamente nenhuma afectação estrutural, contudo muitas linhas
telefónicas foram cortadas pelo abalo, e os cerca de 40 operadores não dão
vazão ao número de pedidos de socorro que lhes chegam. O tempo de espera
naquela central é superior a uma hora.
As estações retransmissoras de telemóvel e do SIRESP na A.M.L., na sua
grande maioria ruíram ou sofreram danos, e ficaram inoperacionais ou
sobrelotadas, a comunicação via telefone fixo, telemóvel e SIRESP estão
reduzidas a cerca de 10% da sua capacidade normal, contudo a enorme
tentativa de contato por esta via anula por quase completo qualquer
possibilidade de comunicação nas ruas e bairros de Lisboa. 
Os rádio-operadores da banda do cidadão e PMR446 tentam a todo o custo
estabelecer contacto com serviços de emergência, mas estes não monitorizam
estes canais pelo que estes entusiastas somente conseguem contacto entre si.
Sem activação por falta de telecomunicações para o efeito, os radioamadores
que não estão empenhados no auxílio aos seus familiares e vizinhos nada
podem fazer para auxiliar nas radiocomunicações, limitando-se a retransmitir
mensagens de outros colegas. 
Nenhuma das viaturas do Regimento Sapadores Bombeiros de Lisboa tem rádio de
VHF Banda Alta, o mesmo se passa com o INEM, PSP, e GNR, pelo que não têm
como comunicar com os meios dos Bombeiros associativos e mesmo estes devido
ao desinvestimento na rede de Banda Alta resultante do conforto do uso do
telemóvel e do SIRESP, não possuem equipamentos operacionais em número
suficiente para fazer face ás necessidades operacionais. 
Sem comunicações alternativas os serviços e os agentes de protecção civil
não têm forma de coordenar eficazmente os meios que não foram afectados. 
As chamas devoravam grande parte da cobertura do Hospital de S. José e toda
a área norte encontrava-se completamente destruída. Algum, pouco pessoal
hospitalar tentava, aproveitando os serviços de Neurocirurgia e de
Hematologia, organizar um pequeno centro de triagem, amontoando feridos e
grandes queimados numa desorganização indescritível, com bombeiros tentando
controlar os inúmeros focos de incêndio. 
Em poucas horas desapareciam tesouros arquitectónicos impossíveis de refazer
e de estruturas imprevisíveis de reestruturar, tais como os principais
museus na baixa da cidade junto ao Tejo, os ministérios, e residência
oficial do Presidente da República ficaram reduzidos a um monte de pedras e
entulho de onde brotavam colunas de fumo.
Num primeiro balanço a ANPC estima que o número dos que morreram logo cerca
de 150.000, existem cerca de 2.000.000 de feridos, e um número indeterminado
de desalojados, com grandes reflexos nas áreas suburbanas da capital, onde
aproximadamente 80% do parque imobiliário foi atingido e com mais de 50% de
forma irrecuperável. 
As solicitações provêm de todos os concelhos da Área Metropolitana de
Lisboa.
As vias ferroviárias ficaram interrompidas e as vias rodoviárias
impraticáveis, quer por estragos dificilmente recuperáveis, que por inúmeros
engarrafamentos provocados dos que tentavam fugir e dos que tentam vir em
busca de amigos e familiares.
Os socorros vindos de fora da Grande Lisboa são solicitados pelas populações
limítrofes à capital e não conseguem chegar até a ela, pois a ponte sobre o
Tejo, a ponte da A8, e a ponte de Sacavém ruíram, e a ponte vasco da gama
não oferece garantias de segurança por ter sofrido danos estruturais. 
A noite chega e com ela, o aumento da desolação e da incapacidade de
resolução dos problemas e da impotência do salvamento de inúmeras vítimas. O
inferno tinha-se abatido sobre Portugal e em especial sobre Lisboa. A cidade
está às escuras de luz e comunicação, quando a noite cai, a única luz
visível resulta dos inúmeros incêndios… 
Pois bem, aqui têm um cenário do que eventualmente sucederia em Lisboa, se
ela fosse abalada por um sismo semelhante ao que ocorreu em 1755.
Questões que se colocam:
1º Os serviços de emergência civis e militares perante um cenário destes,
com escassos meios operacionais priorizam o socorro e salvamento dos comuns
cidadãos ou das figuras de Estado?
2º Sem ajuda atempada dos serviços de emergência quem socorre a população? 
3º Está a população consciente, educada, preparada, treinada e equipada para
um cenário destes? 
4º Porque vias de comunicação pede a população ajuda aos serviços de
emergência e como encaminham os serviços de emergência esses pedidos para os
meios de socorros? 
5º Que probabilidade de sobrevivência têm neste cenário as pessoas com algum
tipo de limitação física ou crianças? 
6º Como activam e coordenam os serviços de protecção civil os agentes e
entidades cooperantes em protecção civil se não houver telecomunicações e
sendo que a esmagadora maioria das entidades com dever de cooperação não têm
rádio da Rede Estratégica de Protecção Civil, o mesmo se passando com
serviços públicos tais como segurança social e outros? 
7º Os funcionários e os voluntários dos serviços de emergência vão priorizar
a ajuda e socorro aos desconhecido ou priorizar a busca, ajuda e socorro aos
seus familiares? 
8º Sem plano familiar de emergência e sem telecomunicações como sabem as
pessoas onde procurar os seus familiares? 
9º Que tipo de resposta será dada ás necessidades e assistência e socorro
dos animais domésticos? 
10º Estando os mais importantes Ministérios na linha de entrada do tsunami,
quem e como se gere o país após a sua passagem? 

-- 
Melhores Cumprimentos, 

João Paulo Saraiva Amaral da  Encarnação (CT1EBZ)

Telefone Móvel: 910 910 112 (número de serviço, caso não atenda eu pedir
para transferir para mim) 
Largo Álvaro Pinheiro Rodrigues, nº 7 R/C B - 2790-471 Carnaxide - Oeiras -
Portugal 
AVISO LEGAL 
A informação presente nesta mensagem, bem como em qualquer dos seus anexos é
confidencial e destinada exclusivamente ao(s) destinatário(s). Qualquer
utilização desta informação que não esteja de acordo com o seu objectivo,
qualquer disseminação ou divulgação, total ou parcial, é proibida excepto se
formalmente aprovada. A Internet não garante a integridade desta mensagem, a
qual poderá ter sido interceptada, corrompida, perdida, atrasada ou
acrescida de vírus. Assim, o remetente não se responsabiliza pela mensagem
se modificada.
DISCLAIMER 
The information in this e-mail and in any attachments is confidential and
intended exclusively for the named adressee(s).Any use of this information
not in accordance with its purpose, any dissemination or disclosure, either
whole or partial, is prohibited except if formally approved. The Internet
can not guarantee the integrity of this message, as it could be intercepted,
corrupted, lost, destroyed, arrive late or incomplete or have viruses added
to it. The Sender will not therefore be liable for the message if modified.




Mais informações acerca da lista CLUSTER