ARLA/CLUSTER: As falhas no SIRESP e as três perguntas do primeiro-ministro sobre o incêndio de Pedrógão

João Costa > CT1FBF ct1fbf gmail.com
Quarta-Feira, 21 de Junho de 2017 - 09:32:58 WEST


Falhas no SIRESP já tinham acontecido antes e ajudam a explicar
descoordenação inicial no combate ao fogo

As falhas no SIRESP, o sistema de comunicações que as diferentes forças
usam para se coordenarem no terreno, podem ajudar a explicar por que tanta
coisa falhou no combate ao fogo que começou no sábado em Pedrógão Grande.

NATÃLIA FARIA e LILIANA VALENTE  in Jornal Publico
21 de Junho de 2017, 6:30

A GNR desviou ou não as pessoas que fugiam ao fogo para a Estrada Nacional
236-1, onde acabaram por ocorrer 47 das 64 mortes contabilizadas até agora
no incêndio de Pedrógão Grande? Quanto tempo demorou a restabelecer a
comunicação depois de o SIRESP (Sistema Integrado de Redes de Emergência e
Segurança), usado pelos bombeiros e por várias outras autoridades para se
coordenarem no terreno, ter falhado na sequência da destruição pelo fogo de
várias das suas antenas fixas? Qual o impacto desta falha na organização
das primeiras respostas de socorro e de combate às chamas ao fogo que
continua a deflagrar? E ainda: como é que se originou realmente o incêndio
se, como admite o presidente da Liga dos Bombeiros Portugueses, Jaime Marta
Soares, na altura em que a trovoada seca começou “o incêndio já estava com
mais de duas horas de ignição�

Estas são algumas das perguntas que continuam por responder por parte dos
operacionais de topo e daqueles que foram chamados ao terreno. Numa altura
em que o próprio primeiro-ministro, António Costa, está insatisfeito com as
explicações até agora dadas, o que o levou a emitir um despacho pedindo
explicações ao Instituto Português do Mar e da Atmosfera (IPMA), à GNR e à
Protecção Civil, as interrogações continuam a somar-se e atropelar-se no
ricochete de que são alvo.

As três perguntas do primeiro-ministro sobre o incêndio de Pedrógão

Se, como se lê na linha do tempo traçada pela Autoridade Nacional de
Protecção Civil, o primeiro alerta para um incêndio, em Escalos Fundeiros,
concelho de Pedrógão Grande, se deu às 14h43, como é que, cerca de quatro
horas depois, tantas dezenas de pessoas acabavam por morrer cercadas pelas
chamas em poucas dezenas de metros na EN 236-1, que liga Figueiró dos
Vinhos a Castanheira de Pêra, para onde terão sido desviadas pelas
autoridades dado o corte no IC8? “Não domino essa informação. Cheguei numa
altura em que isso já tinha passadoâ€, ricocheteou o tenente-coronel Carlos
Ramos, no briefing de ontem de manhã, no posto de comando em Avelar, Ansião.

Por outro lado, por que não foram accionados mais meios logo no início e
como se explica que, por volta das 18h30, estivessem a combater o incêndio
apenas 156 bombeiros, apoiados por 46 viaturas e três meios aéreos? Existem
no terreno, tido pelos engenheiros florestais como um “verdadeiro paiolâ€,
algumas torres de vigia capazes de detectar o fogo logo no início? Estavam
inoperacionais?

Questionado sobre quanto tempo terão estado os bombeiros no terreno sem
poderem comunicar com as outras forças operacionais, o presidente da Liga
dos Bombeiros Portugueses, Jaime Marta Soares é rápido na resposta: “Tempo
demasiadoâ€. Para este responsável, há agora que “pegar na fita do tempo que
descreve tudo ao pormenor e perceber o que se passou a partir do momento em
que rebentou o sistema [SIRESP] e aquele em que o mesmo foi reactivadoâ€.
Mas, “embora as comunicações sejam extremamente importantes e a sua falha
possa tornar falível o combateâ€, este responsável ressalva, porém, que, na
sua opinião, “não se pode concluir que toda aquela calamidade se deva à
falta de comunicações, até porque as forças estavam já colocadas no terreno
e sabiam o que fazer, embora houvesse a falha de comunicação entre equipasâ€.
[image: PÚBLICO -]
Quanto à pergunta sobre por que é que tantas pessoas ficaram encurraladas
pelas chamas na EN 236-1, já baptizada como “estrada da morteâ€, várias
horas depois de o incêndio ter começado, Jaime Marta Soares diz que este é
um dos porquês cujas causas têm de ser apuradas “até às últimas
consequênciasâ€. A partir daquilo que foi vendo e ouvindo no terreno nos
últimos dias, o presidente da Liga dos Bombeiros diz acreditar que quando,
já ao final da tarde, as pessoas começaram a querer fugir ao fogo por esta
estrada esta estaria limpa.

“Para mim, quando as pessoas iniciaram a viagem, a estrada estava
utilizável e o fogo a vários quilómetros de distância. A questão é que
ninguém está habituado a um incêndio com esta violência e brutalidade em
que, mais do que altas temperaturas e ausência de humidade, o inimigo foi o
vento. Este criou línguas de fogo com 40 e 50 metros de altura e permitiu
pequenos tufões que percorriam 300, 400 e 500 metros em redemoinho e cujas
projecções atingiam três, quatro e cinco quilómetrosâ€, descreve, para
concluir que “bastavam minutos para que qualquer local até então muito
longe das chamas ficasse completamente armadilhado para as pessoas que ali
passavamâ€.


“O fenómeno de propagação foi fora do normalâ€, concordou o comandante dos
Bombeiros de Castanheira de Pêra, José Domingues. Colocar um carro aqui e
outro ali na protecção de bens e das famílias retirou a possibilidade de
fazer um ataque directo. Não havia a possibilidade dada a quantidade de
fogos. O concelho foi tomado em pouco mais de 15 ou 20 minutosâ€,
acrescentou. “A área que num fogo normal demora oito ou nove dias a ser
consumida neste fogo demorou menos de um dia e meioâ€, observou, por seu
turno, o presidente da Câmara de Castanheira de Pêra, Fernando Lopes,
dizendo desconhecer se o SIRESP funcionou sempre ou não. O secretário de
Estado da Administração Interna, Jorge Gomes, já admitiu que “houve falhas
momentâneas de comunicação†no sábado. O SIRESP, de resto, já tinha falhado
nos incêndios do ano passado no Sardoal, tendo decorrido 12 horas entre o
momento em que uma das estações base deixou de funcionar e começou a ser
usada a estação móvel.

Mais contundente, o presidente da Associação Nacional de Bombeiros
Profissionais, Fernando Curto, sustenta que foi a destruição pelo fogo das
antenas que garantem o canal de comunicação entre os diferentes
operacionais que “levou à desinformação de quem estava a comandar todas as
forças no terrenoâ€. “O facto de não haver informação do posto de comando
para todas as forças no terreno gerou lacunas que levaram a que as
directivas operacionais fossem diferentes para uns e para outros†explica
Fernando Curto, para admitir que “só assim se consegue perceber†que tanta
gente tenha sido apanhada na EN 236-1. “Os bombeiros foram obrigados a usar
o seu próprio canal de comunicações e a comunicação com a GNR e com as
outras forças não funcionou não sabe ainda durante quanto tempoâ€, precisa
Curto, para concluir: “Já houve situações anteriores em que o SIRESP não
funcionou, quer em simulacros quer em situações reais, e é aí que está o
problemaâ€.



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Quanto à pergunta sobre por que é que tantas pessoas ficaram encurraladas
pelas chamas na EN 236-1, já baptizada como “estrada da morteâ€, várias
horas depois de o incêndio ter começado, Jaime Marta Soares diz que este é
um dos porquês cujas causas têm de ser apuradas “até às últimas
consequênciasâ€. A partir daquilo que foi vendo e ouvindo no terreno nos
últimos dias, o presidente da Liga dos Bombeiros diz acreditar que quando,
já ao final da tarde, as pessoas começaram a querer fugir ao fogo por esta
estrada esta estaria limpa.

“Para mim, quando as pessoas iniciaram a viagem, a estrada estava
utilizável e o fogo a vários quilómetros de distância. A questão é que
ninguém está habituado a um incêndio com esta violência e brutalidade em
que, mais do que altas temperaturas e ausência de humidade, o inimigo foi o
vento. Este criou línguas de fogo com 40 e 50 metros de altura e permitiu
pequenos tufões que percorriam 300, 400 e 500 metros em redemoinho e cujas
projecções atingiam três, quatro e cinco quilómetrosâ€, descreve, para
concluir que “bastavam minutos para que qualquer local até então muito
longe das chamas ficasse completamente armadilhado para as pessoas que ali
passavamâ€.

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Bombeiros de Castanheira de Pêra, José Domingues. Colocar um carro aqui e
outro ali na protecção de bens e das famílias retirou a possibilidade de
fazer um ataque directo. Não havia a possibilidade dada a quantidade de
fogos. O concelho foi tomado em pouco mais de 15 ou 20 minutosâ€,
acrescentou. “A área que num fogo normal demora oito ou nove dias a ser
consumida neste fogo demorou menos de um dia e meioâ€, observou, por seu
turno, o presidente da Câmara de Castanheira de Pêra, Fernando Lopes,
dizendo desconhecer se o SIRESP funcionou sempre ou não. O secretário de
Estado da Administração Interna, Jorge Gomes, já admitiu que “houve falhas
momentâneas de comunicação†no sábado. O SIRESP, de resto, já tinha falhado
nos incêndios do ano passado no Sardoal, tendo decorrido 12 horas entre o
momento em que uma das estações base deixou de funcionar e começou a ser
usada a estação móvel.

Mais contundente, o presidente da Associação Nacional de Bombeiros
Profissionais, Fernando Curto, sustenta que foi a destruição pelo fogo das
antenas que garantem o canal de comunicação entre os diferentes
operacionais que “levou à desinformação de quem estava a comandar todas as
forças no terrenoâ€. “O facto de não haver informação do posto de comando
para todas as forças no terreno gerou lacunas que levaram a que as
directivas operacionais fossem diferentes para uns e para outros†explica
Fernando Curto, para admitir que “só assim se consegue perceber†que tanta
gente tenha sido apanhada na EN 236-1. “Os bombeiros foram obrigados a usar
o seu próprio canal de comunicações e a comunicação com a GNR e com as
outras forças não funcionou não sabe ainda durante quanto tempoâ€, precisa
Curto, para concluir: “Já houve situações anteriores em que o SIRESP não
funcionou, quer em simulacros quer em situações reais, e é aí que está o
problemaâ€.

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