ARLA/CLUSTER: Ecos do fim-de-semana e manual de operação

Miguel Andrade (CT1ETL) ct1etl gmail.com
Segunda-Feira, 17 de Abril de 2017 - 00:24:11 WEST


Caros colegas,

Hoje venho transmitir-vos os ecos da nossa actividade BOTA
(http://www.beachesontheair.com/), porque pretendo partilhar convosco as
lições aprendidas e fazer uma introdução a uma espécie de hipotético futuro
"Manual BOTA".
Em primeiro lugar, peço muitas desculpas aos colegas que não conseguiram
contacto comigo na última das 5 praias em DSTAR e que estão inscritos neste
fórum, pois a bateria do equipamento deixou-me ficar mal nos derradeiros 10
minutos da actividade. É o que se chama «morrer na praia» (nem de
propósito)...
Este episódio contribuiu mesmo para a primeira lição do fim-de-semana.
Então vamos lá aos ensinamentos propriamente ditos para vos responder às
seguintes 4 questões:

Lição n.º1 - Cuidados a ter com o cálculo da energia necessária para uma
actividade.
Lição n.º2 - O BOTA permite contactos válidos via estação repetidora?
Lição n.º3 - A escolha da data e da hora.
Lição n.º4 - A operação portátil em HF.

1) Cuidados a ter com o cálculo da energia necessária para uma actividade.
São extremamente simples de efectuar, em particular se conhecermos algumas
variáveis, de entre elas, o tempo previsto de duração da actividade, o
consumo de energia por parte dos equipamentos e a capacidade da fonte de
energia caso a mesma não seja renovável (neste caso as baterias).
Tal como na actividade SOTA, o estudo da autonomia energética pode dar-nos
uma informação muito útil e numa actividade pedestre, para a qual já levamos
algum peso (e desejamos, sem dúvida transportar o menor fardo possível, pois
o "animal de carga" somos nós próprios), pode ser um óptimo indicador para
decidirmos adicionar algum peso extra ou não.
Genericamente poderíamos dizer que o consumo corresponde a multiplicar a
potência de emissão pelo número de horas. No entanto este cálculo
simplificado poderia corresponder a excesso de peso, à custa de baterias
extra, ou mais pesadas, que no final do dia teriam sido poupadas, embora o
fossem também transportadas durante quilómetros e horas a fio. 
O problema é que os equipamentos nunca ficam em constante emissão durante
toda a actividade, isto é, temos que contar com ciclos de emissão/recepção,
nos quais o consumo da fonte de alimentação é naturalmente muito diferente
entre um estado e o outro.
Existem várias e bonitas teorias sobre fórmulas mais ou menos rigorosas,
contudo o "truque" reside na percentagem a atribuir tanto à emissão quanto à
recepção.
A bem da verdade é sempre algo empírico calcular com rigor o tempo de
emissão e o tempo em pausa (recepção), nomeadamente em telefonia.
O que é certo é que, com boas ou menos boas fórmulas, nada supera uma boa
gestão no terreno (aumento de potência apenas se necessário e câmbios
curtos) e só assim poderemos aspirar a reduzir o peso a transportar sem
comprometer a autonomia da estação, sobretudo quando esta é constituída por
vários equipamentos e um deles por sinal bastante "guloso"... o nosso
"pequeno" FT-817.
Infelizmente, como se viu este fim-de-semana, o consumo extra pelo uso do
GPS para fornecer a minha posição via APRS e a necessidade de aumentar a
potência de emissão para o máximo, em vários momentos imprevistos... foram
variáveis que me falharam nos cálculos.
Mas estive lá muito perto. Foram escassos 10 minutos ou pouco mais.

2) O BOTA permite contactos válidos via estação repetidora?
Esta questão está intimamente relacionada com o que acabei de escrever na
lição n.º1, pois o compromisso peso/autonomia fica muito mais facilitado
caso a operação possa ser efectuada unicamente com equipamentos portáteis de
VHF ou UHF, os quais estão a ficar extremamente leves sem comprometer a
autonomia ou a potência máxima de emissão.
Uma bateria suplementar ou um conjunto de pilhas recarregáveis que debite a
tensão necessária ao funcionamento do rádio são, nestes casos específicos
também extraordinariamente leves, em particular quando comparamos o peso de
uma bateria de chumbo com a capacidade para alimentar um equipamento de
HF... mesmo que de baixa potência de emissão, mas com o consumo previsto
para 4 horas.
A resposta à questão propriamente dita a esta questão é SIM!
Ao contrário das regras do SOTA, as regras do BOTA
(http://www.beachesontheair.com/guidelines), muito simples e vagas, não
obrigam a contactos ponto-a-ponto nem excluem o uso de estações repetidoras
dos contactos considerados como válidos.
Acredito que tenham sido consideradas as várias realidades diferentes entre
ambos os programas, a começar pela localização das estações.
Que ninguém espere encontrar na praia da Rainha, em Cascais, por exemplo, as
mesmas condições de cobertura e propagação do sinal do que no ponto mais
alto da Serra de Sintra, ali tão perto. E quanto mais elevada for a
frequência... pior.
Sem uma estação de HF, com potência superior aos 5 watts do meu equipamento,
mas sobretudo sem uma antena eficiente para uma frequência adequada para
contactos regionais (faixas dos 80 ou 40 metros, por exemplo) ou para uma
frequência própria para DX (faixas dos 20, 18 ou 15 metros, por exemplo),
como é que eu poderia ter, à partida, condições para assegurar um número
razoável de contactos, situado perto de uma quota próxima dos 0 metros de
altitude em relação ao nível médio das águas do mar e rodeado de paredes de
mais de 4 metros de altura a pouca distância e a mais de 180º à minha volta?
Ainda assim, houve sempre a preocupação de se efectuarem contactos
ponto-a-ponto, após os efectuados via estação repetidora.
O campeão nessa preocupação foi, sem dúvida, o colega Ricardo (CT1EUW) com o
qual confirmei todos os contactos (sem excepção) em directo, ou seja, sem
recorrer apenas às estações repetidoras previstas para a ctividade... ainda
que em certas praias tenhamos concluído o contacto já a nível do ruído de
fundo.
Para confirmar o contacto com a estação "activadora" a estação "caçadora",
apenas necessita de aceder ao sítio na Internet, inscrever-se, procurar nas
activações registadas (http://www.beachesontheair.com/activations), escolher
a praia activada com a qual contactou e proceder a uma validação simples do
contacto.
Posto o que acabo de escrever, a pergunta que me deixa atónito é a seguinte
- porque razão não há mais actividade BOTA num «país à beira-mar plantado»?


3) A escolha da data e da hora.
Aprendi este fim-de-semana que a Páscoa é uma péssima altura para qualquer
actividade rádio na qual estejamos dependentes de estações nacionais para
compormos o nosso diário de estação.
De facto, uma elevada percentagem de amigos que demonstraram interesse em
contactar-me acabarem por se ter ausentado para os recantos mais
encantadores deste país, tanto em reuniões familiares como em férias, mas
fora o alcance das radiocomunicações que levei para o terreno (mesmo com
ajuda do DSTAR), também não ajudou a conseguir muitos contactos.
Numa determinada hora houve mesmo um evento internacional em DMR, a qual me
"roubou" parte dos interlocutores no digital.
A hora planeada para esta actividade procurou ser um compromisso entre
apreciar também as "belezas naturais" que encheram o areal, ajudando a
preencher os longos intervalos sem comunicações por falta de estações
aderentes... e a propagação na faixa dos 40 metros. Bom na realidade foi
mesmo entre a disponibilidade prevista de operadores e a propagação
antecipada para a faixa dos 40 metros, pois as belezas podem ser apreciadas
noutro dia qualquer em que faça sol e calor nas praias em questão.
Sobre este assunto também aprendi uma válida lição.
Para garantir resultados em HF, especialmente numa activação de 5 praias no
mesmo dia, convém apostar nas frequências de DX à tarde e nas faixas da
cobertura regional (40 e 80 metros) na frescura da noite, o que, para operar
em condições confortáveis nas bandas mais baixas se deve agendar a
actividade apenas para praias consideradas seguras à noite e na altura do
ano em que as temperaturas nocturnas estão mais convidativas.
Sem a indispensável inclusão de estações repetidoras no programa BOTA, a
actividade em HF QRP pode ser bastante frustrante caso a natureza não
colabore (leia-se, caso a propagação não esteja favorável).
Esta verdade é ainda mais evidente quando optarmos pela telefonia e não pela
telegrafia ou por certos modos digitais. Se a actividade for pedestre, o que
obriga muitas vezes à opção por antenas menos eficientes mas mais fáceis
para serem transportáveis ao dorso, ainda pior, sobretudo se nos estamos a
referir a frequências de maior comprimento de onda.

4) A operação portátil em HF.
Este fim-de-semana o maior revés nem foi a ausência, quase generalizada, de
estações presentes em frequência.
A grande frustração foi a total ausência de contactos na única faixa de HF
prevista, a dos 40 metros.
À ausência de boas condições de propagação dos sinais, em particular no
início da actividade, juntaram-se os habituais concursos do país vizinho,
recheados de estações potentes e bem apetrechadas em termos de elementos
irradiantes, daqueles que não respeitam nada nem ninguém.
As comunicações (ou a tentativa de as conseguir) na última praia, por
exemplo, já entre as 19:10 e as 19:50 locais (18:10 e 18:50 UTC),
obrigaram-nos mesmo a optar por outra frequência muito distinta da
anunciada, mas evidentemente ainda dentro dos limites da sub-faixa dedicada
à telefonia.
O maior malogro resulta porém do facto de receber na perfeição algumas das
estações mais próximas (CT1EDP e CT1EUW, por exemplo), mas não me fazer
escutar em resposta.
Não fora a antena de serviço móvel encurtada (com apenas 5% do comprimento
de onda) e os seus correspondentes 57 dB negativos de ganho
(aproximadamente) e talvez os meus 5 Watts de potência de emissão poderiam
ter dado para ultrapassar o ruído provocado pelas abundantes fontes de
interferência, copiosos em zonas urbanas, entre outras adversidades
compreensíveis.
Aqui o meu maior erro foi não ter optado por uma antena mais eficiente com
um comprimento mais generoso (cana de pesca de 6 metros) ou um desenho
diferente, como a antena loop magnética, esta última como me chegou a
aconselhar um dos meus interlocutores, o colega Paulo Vieira (CT1FCI).
Se estive quase sempre rodeado de uma pequena multidão de curiosos
(sobretudo estrangeiros)... agora imaginem o seria com o aparato de
transportar uma caixa com uma vara de 6 metros de altura às minhas costas,
pelas praias ou pelos apertados passeios do paredão, por sinal
intransitáveis pela enchente de transeuntes e veraneantes.
Bem-ditas regras que nos permitem actividades com reduzidos equipamentos (e
antenas) de VHF e UHF.
É óbvio que esta questão poderá dar azo (e é bom que dê) a uma quantidade de
óptimas sugestões de antenas para os 7 MHz transportáveis na mochila, mas a
regra de ouro é certamente a do comprimento eléctrico, isto é, salvo
raríssimas excepções, quanto mais curta (ou encurtada) for a antena, pior é
a sua eficiência. Se me convenceram do contrário ficar-vos-ei muito
reconhecido, nomeadamente se as cedências em largura de banda de operação ou
outras não forem comprometedoras demais.
           
Como fui, vezes sem conta, aqui acusado de escrever testamentos ilegíveis e
estamos na época das redes sociais, com mensagens curtas ou somente os
títulos sem conteúdo, por aqui me fico.
Dado que esta lista ainda é um fórum, fiquem à vontade para darem a vossa
opinião e contribuírem para o dito "manual" naquilo que vos aprouver. 
  
  
73 de Miguel Andrade ( CT1ETL )
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