ARLA/CLUSTER: Rádio Maubere - Uma radio que trabalhava literal e verdadeiramente a pedais

João Costa > CT1FBF ct1fbf gmail.com
Quinta-Feira, 21 de Janeiro de 2016 - 09:24:23 WET


A rádio que deu as primeiras informações da invasão indonésia (REPETIÇÃO)


Quatro funcionários permanentes e um grupo de estagiários da
Universidade Nacional de Timor Lorosae (UNTL) formam o núcleo da Rádio
Maubere, criada pela Fretilin em 1975 e que regressou depois de um
silêncio de quase 40 anos.

A história da Rádio Maubere começa em 1975 quando a Fretilin (Frente
Revolucionária do Timor-Leste Independente) cria as primeiras brigadas
de jovens, oriundos das suas organizações juvenis, para tornar
públicas as atividades e princípios programáticos do partido, enquanto
divulga informação através do programa Haksolok, transmitido na então
Rádio Difusão de Timor.

José Reis, secretário-geral adjunto da Fretilin, disse à Lusa que a
decisão de recuperar a Rádio Maubere teve praticamente as mesmas
motivações do que quando foi criada: divulgar informação importante e
disseminar política à base do partido.

"Depois do golpe, a UDT (União Democrática Timorense) apodera-se da
Rádio Difusão, que a Fretilin só recupera depois da contraofensiva, no
final de agosto, primeiro reestabelecendo as emissões no
quartel-general em Taibesse e, uma semana depois na torre do antigo
aeroporto, que agora é a Presidência da República", contou.

Mari Alkatiri, então comissário político nacional, cria a Rádio
Maubere que transmite ininterruptamente até 07 de dezembro seguinte,
dia da invasão de Díli, pela Indonésia.

"Quando houve a invasão foi preocupação do Comité Central da Fretilin
retirar a rádio para as montanhas", disse, relembrando que só mais de
um ano depois é que as transmissões são retomadas.

Em finais de 1976 a Rádio Maubere, então sob responsabilidade do
Departamento de Informação e Segurança (DISN) da Fretilin, começa a
transmitir, primeiro em Fehuk Rin, no setor Centro-Sul, passando para
o setor Centro-Norte em 1977.

Alarico Jorge Fernandes, então ministro de Informação e Segurança,
assume a responsabilidade pela rádio que continua a enfrentar grandes
dificuldades apesar de ser, na altura, o único contacto com o
exterior, nomeadamente Darwin, norte da Austrália.

Um dos maiores problemas é garantir energia elétrica para o
transmissor, com um padre, de nome Leoneto, a criar um sistema
'ecológico', com Ernesto Faria e Abel Fernandes a pedalar um sistema
de dínamo que carregava as baterias.

No final de 1978 - quando ocorre o cerco de aniquilamento pelas forças
indonésias - as bases de apoio da Fretilin ficam praticamente
destruídas e a Rádio Maubere acaba por regressar ao silêncio.

A rádio fica silenciosa até já depois da restauração quando, explica
José Reis, a Fretilin insiste na importância dos media - no passado já
tinha criado o Nakroma e o Jornal do Povo Maubere - e debate recuperar
a Rádio Maubere.

Em 2002 retoma a edição do Nakroma, suspenso desde os anos 70 e cria
um novo boletim, o Liam Maubere e, finalmente, no segundo Congresso
Nacional, em 2006, aprova o renascimento da Rádio Maubere.

Trinta e sete anos depois, a 20 de maio de 2011, a Rádio Maubere volta
ao ar na frequência 99.9 Mhz.

Hoje transmite 12 horas diárias de programação, apesar "dos problemas
de recursos humanos" com noticiários (em tétum e português), música e
programas de desporto, saúde e educação.

"Temos poucos recursos para fazer tudo mas continuamos a considerar a
informação importante", disse José Reis.

No início deste ano Mari Alkatiri, secretário-geral da Fretilin,
recordou a importância da Rádio Maubere oferecendo ao Arquivo e Museu
da Resistência Timorense (AMRT) o equipamento de rádio usado entre
1975 e 1978.

Usada como única forma de comunicação entre Timor-Leste e o exterior
depois da invasão indonésia, a Rádio Maubere esteve, muitas vezes, em
movimento pelas montanhas do país.

Com emissões em português, inglês e tétum, a rádio permitiu à Fretilin
enviar mensagens codificadas para o exterior que, nos primeiros anos,
permitiram perceber a dimensão de algumas das primeiras grandes
operações das forças invasoras da Indonésia.

Na Austrália as comunicações eram recebidas por um grupo de timorenses
e ativistas australianos que também movimentavam o recetor entre
vários locais dentro e fora da cidade de Darwin.

Do lado australiano um dos ativistas que mais comunicações recebeu foi
Rob Wesley-Smith, um dos mais conhecidos ativistas australianos
pró-Timor-Leste, que doou o equipamento usado em Darwin ao National
Film and Sound Archive australiano em dezembro de 2007.

ASP // EL

Fonte: Lusa/Fim



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