ARLA/CLUSTER: Radio Marroquina (Hit-Radio) compra estação em Sobral de Monte Agraço
João Costa > CT1FBF
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Segunda-Feira, 18 de Janeiro de 2016 - 10:39:24 WET
A rádio favorita dos jovens marroquinos chegou e procura músicos portugueses
ALEXANDRA PRADO COELHO
O grupo marroquino Hit Radio estreia-se em Portugal com uma rádio que
quer abrir a antena aos artistas urbanos, músicos de hip-hop, R&B e
pop que não têm espaço nos outros meios.
Até agora, só por acaso alguém sintonizaria uma rádio obscura que
passava música portuguesa que não se ouvia em nenhuma outra. Era mesmo
possível que um músico desconhecido, gravando em casa e lutando na
Internet por alguma visibilidade, subitamente ouvisse uma das suas
canções nessa frequência misteriosa e, entre o espanto e a euforia, se
interrogasse sobre quem seria a pessoa que tinha dado pela sua
existência. Agora, resolvidas todas as questões legais e burocráticas,
já não há mistério: quem emite em 106.4 é a Hit Radio Portugal e quem
está do outro lado da antena é o francês Jan Le Bris de Kerne.
O estúdio e o emissor estão em Sobral de Monte Agraço, cerca de 40
quilómetros a Norte de Lisboa, mas, por enquanto, muito do trabalho de
Jan é feito a partir da sua casa, na capital. É aí, com um computador,
que navega pela Internet procurando músicos urbanos mais ou menos
conhecidos para os colocar no ar na Hit Radio. E é aí que nos recebe
para contar como nasce uma nova rádio em Portugal.
Mas antes disso, é preciso perceber o que é o grupo Hit Radio, fundado
em Marrocos em 2006 e que hoje está presente em 11 países africanos
(Burkina Faso, Burundi, Comores, Congo, Costa do Marfim, Gabão,
Marrocos, Níger, Senegal, Chade e Togo) e três europeus (Mónaco,
Bélgica e agora Portugal). E quem melhor pode contar essa história é o
seu fundador e presidente, o franco-marroquino Younes Boumehdi, 44
anos.
“A Hit Radio nasceu provavelmente de uma frustração”, explica, por
email. “Quando eu era adolescente, em Rabat, não havia nenhum meio que
se dirigisse especificamente aos jovens. A juventude marroquina era
ignorada. Nessa época não havia Internet nem televisão por satélite.
Devido à proximidade, no Norte de Marrocos conseguíamos captar as
rádios espanholas com uma grande diversidade de programas. Eu não
conseguia compreender porque é que não existia uma oferta daquelas em
Marrocos.” Depois de concluir os estudos em França, Younes regressou a
Marrocos e pediu uma licença para criar uma rádio de música dirigida
aos jovens. Estávamos em 1993. A licença acabou por chegar, mas apenas
em 2006. E a Hit Radio nasceu.
O sucesso chegou rapidamente – hoje é a rádio mais ouvida em Marrocos
na faixa etária dos 15 aos 34 anos – e a expansão por outros países de
África também. “A Hit Radio quer ser uma marca mundial”, diz Younes.
“Esperamos poder cobrir todos os países francófonos e lusófonos de
África e desenvolver a nossa presença nos países do Sul da Europa.”
A rádio trouxe mais do que música aos jovens marroquinos, conta por
seu lado Jan. “Tornou-se rapidamente uma rádio vanguardista. Há
programas temáticos em que as pessoas podem telefonar, com
especialistas para responder a temas ligados, por exemplo, à saúde, à
sexualidade, à psicologia. Recentemente fez uma campanha para
convencer os jovens a inscreverem-se nas listas eleitorais e a
votarem.”
Jan já tinha ouvido falar de Younes através de um amigo comum, mas
acabaram por se conhecer pessoalmente quando o marroquino viajou até
Lisboa. Younes diz: “Tive a oportunidade de conhecer Portugal há já
algum tempo e impressionou-me sempre o seu dinamismo. A crise
convenceu-me a acelerar o lançamento da rádio aí também para mostrar
solidariedade e a confiança de uma pequena empresa como a nossa no
futuro do país.”
Jan revê-se nisso porque ele próprio apaixonou-se por Lisboa e há sete
anos decidiu mudar-se para cá. Acredita que há um espaço para
preencher na divulgação de “artistas que já produzem, que têm uma vida
nas redes sociais e que só esperam uma oportunidade para aparecer nas
ondas da rádio”.
Uma página em branco
A filosofia da Hit Radio é “100% hits, 100% música”, 24 horas por
dia". Deste alinhamento, 40% cento é música feita por portugueses
(pop, R&B, um pouco de hip-hop, um pouco de kizomba) e os restantes
60% são grandes êxitos internacionais, totalmentemainstream, e que são
escolhidos por um programador em Rabat.
Apesar de ter ligações à comunicação social em França e à música Jan
não era um especialista nesta área. “Antes de começar a trabalhar para
a Hit Radio não conhecia quase nada do hip-hop, da música urbana, do
rap português”. Por isso, a sua estratégia baseou-se em duas coisas:
“Primeiro, confiar nas pessoas que conhecem bem esse tipo de música e,
segundo, confiar em mim e nos meus ouvidos."
Rapidamente mergulhou num universo novo. “É um mundo que pouca gente
conhece mas que é super enérgico e activo. Muito rapidamente há uma
chegada de informações e de músicas. Faço uma primeira selecção,
segundo o meu gosto e o que acho que pode agradar ao público, mando ao
chefe da programação em Rabat, e ele diz ‘isto sim, isto não’.”
O que o fascina neste momento é a Hit Radio Portugal ser “uma página
em branco” – sem compromissos comerciais, com uma estrutura levíssima
(apenas Jan e um jornalista, Rafael Fernandes, baseado no Porto, que
lê notícias três vezes por dia), um emissor em Sobral de Monte Agraço
porque foi aí que encontraram uma rádio à venda por um preço
apetecível e que permite uma cobertura de Lisboa e arredores (num raio
de 40 quilómetros), e uma equipa de apoio em Rabat para resolver
problemas que surjam.
“O mercado da música era baseado na compra e venda de discos”, diz
Jan. “Isso hoje está quase acabado. Quem tem 20, 22, 24 anos vai
procurar no iTunes. As editoras já não têm a mesma vontade de ir à
procura de produtos ‘arriscados’ e não querem perder tempo com um
artista que ninguém sabe se vai resultar ou não. Nós podemos fazê-lo.
Recebo uma música, gosto, e daí a uma hora está no ar. É um desafio
extraordinário ir à procura de artistas que se sentem um pouco
encerrados numa prisão mental, que pensam ‘somos do bairro, a nossa
música não vai sair daqui’.”
A Hit Radio, conclui, “quer ser uma casa de artistas”. “Queremos que
os jovens sintam que podem bater à nossa porta, enviar vídeos,
canções. Não há editora, não há agentes entre eles e nós. Basta enviar
um email, eu recebo, passo para Rabat e ponto final, está feito. Esta
é a altura da nossa história em que podemos experimentar coisas novas.
É o período mais excitante.”
Fonte: Jornal Publico
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