ARLA/CLUSTER: China lançou satélite “quântico”, uma estreia mundial

João Costa > CT1FBF ct1fbf gmail.com
Terça-Feira, 16 de Agosto de 2016 - 17:38:06 WEST


AFP e REUTERS

16/08/2016 - 17:01

Aparelho irá testar comunicações encriptadas que utilizam os fotões.


A China lançou o primeiro satélite de comunicações quânticas a nível
mundial, um avanço tecnológico do país, que ambiciona construir um
sistema inviolável de comunicações encriptadas.

A descolagem ocorreu no Centro de Lançamento de Satélites de Jiuquan,
localizado no deserto de Gobi, no Noroeste da província de Gansu, à
1h40 (às 18h40 de segunda-feira em Lisboa), anunciou a agência
noticiosa oficial Xinhua. Este lançamento surge numa altura em que os
Estados Unidos, o Japão e outros países sonham também em afirmar-se
através desta tecnologia, que está em desenvolvimento.

A China investiu muitos recursos financeiros nesta maratona
tecnológica – um dos seus numerosos investimentos em investigação
científica de ponta, que vão deste a exploração de minério nos
asteróides até à manipulação genética. Este satélite é o último avanço
no ambicioso programa espacial da China, uma das suas prioridades, ou
não tivesse o Presidente chinês Xi Jinping incentivado o país a
estabelecer-se como potência espacial. Para lá das ambições civis
ligadas ao espaço, a China já testou mísseis anti-satélites.

Baptizado Mo-Tsé, em homenagem ao filósofo chinês do século V a.C., o
satélite será utilizado para demonstrar o interesse da tecnologia
quântica nas comunicações de longa distância. A diferença em relação
aos métodos clássicos de transmissões seguras de mensagens é que este
sistema utiliza os próprios fotões – que se comportam como ondas e
partículas de luz – para enviar as chaves de encriptação necessárias
para a descodificação da informação. Os dados contidos nestes fotões
são impossíveis de interceptar: todas as tentativas de espionagem
provocarão a sua autodestruição, explica a agência de notícias
chinesa.

“Numa missão de dois anos, o satélite está concebido para estabelecer
comunicações quânticas à prova de piratas informáticos através da
transmissão de chaves invioláveis do espaço para o solo”, especificou
a Xinhua, citada por sua vez pela agência Reuters. “As comunicações
quânticas terão uma segurança ultra-elevada, uma vez que não se pode
separar nem duplicar um fotão”, acrescentou. “Por isso, é impossível
espiar, interceptar ou descodificar a informação transmitida através
dele.”

Os cientistas já demonstraram a eficácia desta tecnologia na
transmissão de mensagens em distâncias curtas: o recorde actual
aproxima-se dos 300 quilómetros, segundo um artigo na revista
científica Nature. Mas os obstáculos técnicos tornam, por agora, as
comunicações de longa distância difíceis de alcançar. O satélite
chinês tentará enviar mensagens encriptadas entre Pequim e Urumqi, a
capital da região de Xinjiang (no Noroeste do país), ao longo de uma
distância de quase 2500 quilómetros.

Esta operação requer que o satélite esteja orientado de maneira
extremamente precisa em direcção às estações de recepção em terra,
explica ainda a agência chinesa. “Será como lançar uma moeda de um
avião a 100 quilómetros de altitude e esperar que venha acertar na
ranhura de um mealheiro em rotação”, explicou Wang Jiany, um dos
responsáveis do projecto.

O desenvolvimento da tecnologia quântica é encarado como crucial para
a China, que a incluiu no seu último plano quinquenal publicado em
Março deste ano e já declarou que é uma das suas prioridades
nacionais.

“Este satélite marca uma viragem no papel da China – de seguidor em
matéria de desenvolvimento de tecnologias de informação a líder que
levará a sucessos futuros no sector”, sublinhou Pan Jianwei,
responsável pelo satélite. A China “espera criar uma rede mundial de
comunicações quânticas em 2030”, acrescentou.

As revelações do antigo consultor Edward Snowden sobre as operações de
espionagem da Agência de Segurança Nacional norte-americana (NSA)
reforçaram os esforços chineses de desenvolvimento tecnologias à prova
de pirataria. Na realidade, as comunicações quânticas oferecem
“perspectivas enormes” na área da Defesa, frisou ainda Pan Jianwei. A
China tem insistido que o seu programa espacial tem fins pacíficos,
mas o Departamento de Defesa dos Estados Unidos já sublinhou que as
capacidades espaciais chinesas são crescentes e que as suas
actividades se destinam a evitar que os adversários usem os recursos
espaciais em situação de crise.

A China faz igualmente parte do grupo de alguns países que trabalham
na criação do primeiro computador quântico do mundo. Uma máquina
dessas, graças às propriedades das partículas subatómicas, poderá
efectuar cálculos a velocidades fulgurantes, bastante mais rápidas do
que as tecnologias actuais.



Mais informações acerca da lista CLUSTER