Re: ARLA/CLUSTER: CRT 4CF - Opinião
João Costa > CT1FBF
ct1fbf gmail.com
Terça-Feira, 5 de Abril de 2016 - 19:50:30 WEST
Caro Paulo,
Existe um grave problema neste tipo de equipamentos, como receptores
para Ondas Curtas e não só.
Existem duas coisas, simplisticamente falando. que caracterizam um
receptor; Sensibilidade e Selectividade (isto era o que aprendíamos na
escola no meu tempo. Hoje a coisa é muito mais complexa com IMD3, etc,
etc)
Estes equipamentos costumam ter uma elevada sensibilidade, mas uma
mais que péssima selectividade em qualquer banda. Experimenta na Serra
da Arrábida e verás,
Conclusão, qualquer sinal adjacente um pouco mais elevado em qualquer
frequência inutiliza na pratica a sua recepção.
João Costa (CT1FBF)
Em 5 de abril de 2016 17:49, CS7AGH <cs7agh sapo.pt> escreveu:
> As próximas linhas foram escritas na ótica de utilizador e não na de um
> especialista em análise de equipamentos. Não tenho equipamentos para
> realizar testes de laboratório nem nada que se pareça, sou sim meramente um
> curioso por tecnologia e meios de comunicação em geral. Se desejam dados
> mais técnicos podem saltar este texto pois não vão encontrar nenhuns. Se
> desejam ler o que um mero utilizador acha de um rádio que é no mínimo
> curioso e desconhecido da grande maioria de vós, num mercado inundado por
> soluções low cost principalmente daquela marca que começa por um B e acaba
> com um G tendo AOFEN algures pelo meio, foi mesmo por isso que decidi
> partilhar esta opinião convosco.
>
> Com a minha entrada neste mundo do rádio e nomeadamente nos rádios portáteis
> multibanda, descobri também que existem rádios que apesar de terem emissão
> limitada (144Mhz / 430Mhz e por vezes 50Mhz / 220Mhz), têm capacidade de
> receção muito superior a isso, fazendo as vezes de um recetor dedicado como
> os Tecsun PL-660/PL-880 ou muito perto disso. Como nem toda a gente quer
> investir dinheiro num Icom IC-92AD ou num Yaesu FT2DR por exemplo, muitas
> vezes viramos-nos para a oferta chinesa, no sentido não literal da palavra
> porque já todos ou quase são feitos por essas bandas, procurando este tipo
> de oferta em equipamentos como os Wouxun UV-8D/9D ou outros. Estes são muito
> fáceis de utilizar, com ou sem cabo de programação, são intuitivos Q.B. para
> o utilizador comum, mas pecam nas funcionalidades e cobertura que oferecem.
> Há sensivelmente um ano para mim isto mudou.
>
> Em Fevereiro de 2015, se não estou em erro, a Anytone anunciou uma nova gama
> de equipamentos, ANILE-8R/NSTIG-8R/OBLTR-8R/TERMN-8R, revolucionando a
> oferta chinesa à data com um equipamento que faz quase tudo o que se pode
> desejar num rádio abaixo dos $200/$250. Acompanhando textos, analises e
> comentários online, o TERMN-8R sempre esteve na minha mira durante quase um
> ano, dada a sua versatilidade e bons comentários. Recentemente e após
> conversa com o proprietário da loja RMS, foi-me dada a hipótese de testar o
> seu primo europeu, o CRT 4CF que, apesar de partilhar 99% do aspeto e
> funções, não é o mesmo equipamento. Saltando um pouco para o final deste
> artigo de opinião, verdade seja dita que ainda antes de o escrever já tinha
> informado a loja que o rádio não seria devolvido, pois estava interessado em
> adquiri-lo. Vamos ver porquê.
>
> O CRT 4CF é um rádio, como o Miklor (www.miklor.com) descreveu o seu primo
> na altura, passo o eufemismo, que assenta bem na mão. Assim que se encaixa a
> bateria damos conta que temos em nossa posse um rádio de aspeto robusto e de
> peso adequado. O rádio acompanha um carregador de secretária, clip de cinto,
> uma antena (e não duas como os UV-9D, que utilizarei para termo de
> comparação várias vezes neste texto por razões óbvias) e a típica fita para
> o prender no pulso. Tem também dois manuais, um em inglês muito detalhado e
> completo, um mais resumido e em Português criado pela loja.
>
> Para quem não conhece o rádio pelo modelo da Anytone, porque razão fiquei eu
> intrigado por ele? Passo a descrever apenas algumas das razões:
>
> · Tecla secundária configurável, entre outras opções, para PTT do VFO
> secundário
> · Dois VFO com receção em tempo real
> · Full duplex com auricular (não testado)
> · 6W VHF e 5W UHF
> · Recebe SW, MW, AM (Banda aérea), FM (64-108Mhz), UHF e VHF
> · Repetidor de banda-cruzada
>
> Só com isto, já ficaríamos satisfeitos com um equipamento que custa pouco
> mais de 100€ com dois anos de garantia em Portugal correto? O próprio Wouxun
> UV-9D, tão conhecido no nosso meio, não faz tudo o que está acima descrito,
> algumas das que faz deixa um pouco a desejar e custa bem mais. Porque razão
> vende tanto e porque razão não conheço ninguém que tenha o TERMN/4CF? Foi
> mesmo isso que quis perceber. Vamos então à parte prática da coisa.
>
> O rádio tem o layout de hardware habitual, com botões superiores para
> canal/frequência e volume junto a um LED multicor que nos permite saber a
> partir de que VFO estamos a receber uma comunicação, nas laterais o PTT do
> canal principal, a tecla configurável e o botão para abrir o squelch.
> Começamos logo aqui com um pormenor delicioso. Ao pressionar o “abrir
> squelch”, o rádio alterna entre memória e frequência. Todos os rádios que eu
> conheço temos de dar uma volta até ao menu ou através de teclas de atalho
> para vermos a frequência associada a uma memória que estamos a utilizar.
> Este não. Do lado direito temos a ficha habitual Kenwood K mas standard
> (passiva), pelo que todos os acessórios Baofeng/Midland/etc funcionarão sem
> problema, nomeadamente os cabos de programação. Um exemplo recente (TYT
> MD380) mostra-nos que nem sempre é utilizada uma porta standard. Olhando um
> pouco mais atentamente para este lado do rádio e caso não tenhamos reparado
> até ao momento, temos uma pequena borracha na própria bateria. Esta borracha
> tapa uma entrada DC. Uma pesquisa rápida do site da CRT leva-nos a um
> carregador 12v que liga, ao contrário do habitual, à bateria e não ao rádio
> em si como os Baofeng UV-3R por exemplo, carregando a mesma diretamente a
> partir do isqueiro.
>
> Ligando o rádio estamos em casa, qualquer pessoa que já tenha tido um rádio
> saberá ler e utilizar o ecrã do 4CF, com os habituais sinais de reverse,
> offset, CTCSS/DCS, VOX, etc. O acesso aos menus requer alguma (pouca)
> habituação, funcionando menos como os rádios chineses e mais como os Yaesu
> VX-7R/8R com as funções habituais disponíveis nas várias teclas de atalho do
> teclado numérico e com um menu geral a que se acede a partir da tecla A/FUNC
> e 8/SET. Mediante a funcionalidade utilizada e a configuração escolhida, o
> menu pode ter mais ou menos opções, indo até às 50 páginas de configurações.
> Não vou entrar muito por esta secção do equipamento, porque para isso
> existem os manuais e a Internet, mas o rádio é muito fácil de programar
> tanto manualmente como via computador e percebe-se o que praticamente todas
> as opções fazem só por ler a descrição.
>
> Como referi acima, o 4CF recebe 6 (4 RX +2 RX-TX) bandas ao contrário do
> UV-9D com as suas promocionais 7 bandas, mas como se costuma dizer são
> poucas, mas boas. O UV-9D recebe
>
> · 76-108 Mhz
> · 108-136 Mhz (AM)
> · 136-180 Mhz
> · 230-250 Mhz
> · 350-400 Mhz
> · 400-512 Mhz
> · 700-985 Mhz
>
> e o 4CF oficialmente
> · 0,52-1,71 Mhz
> · 2,3-29,99 Mhz
> · 64-108 Mhz
> · 118-136 Mhz (AM)
> · 144-146 Mhz
> · 430-440 Mhz
>
> Pessoalmente, prefiro ter apenas 6, mas ter também receção HF do que ter um
> equipamento com bandas como 230-250Mhz ou 700-985Mhz. Na única que se
> “sobrepõe” em ambos, testada com as duas antenas do Wouxun, o UV-9D foi
> sempre bastante inferior na receção de banda aérea em relação ao 4CF. Como
> aparte/desabafo, ainda estamos para perceber porque razão tiraram o
> cross-band repeater do UV-8D para o UV-9D, lançando-a depois no UV-9D Plus
> (sem a documentar no manual dado que, espantem-se, é o exatamente o mesmo do
> UV-9D).
>
> Portanto, temos um rádio que, comparativamente ao mais completo que se
> compra por cá ("low cost") tem melhor receção AM, recebe HF, é mais rápido a
> operar dentro dos menus (confesso que por vezes notei um arrastamento no
> UV-9D) e tem um Scanner invejável. O 4CF tem 199 memórias em 10 bancos,
> desde o 0 (todas) e do 1 a 9. Cada um destes pode ter 32 canais atribuídos
> (cada canal pode estar associado a mais do que um banco). Existe também um
> banco de memórias para as 4 bandas de escuta. A tecla #/MSK permite
> alternar, em modo memória (MR), entre o banco 0 (aparece o número do canal
> na memória geral) e os bancos 1 a 9 (apresenta apenas o número do banco).
> Podemos criar um com os canais simplex/repetidores habitualmente utilizados
> numa determinada zona ou quem utiliza rádio em termos profissionais, ter
> canais diferentes associados a bancos para cada utilização e podemos fazer
> scan a qualquer um individualmente (1-9) ou a todos os canais no equipamento
> (0). O scan por sua vez tem duas opções, normal e rápido. Ainda não consegui
> fazer o teste na altura em que escrevo estas observações, mas digo com
> alguma certeza que em modo rápido o 4CF não fica nada atrás do Uniden que
> está lá em casa e pelo contrário, se não for superior deve estar ela por
> ela. Podemos ter uma frequência fixa num VFO e estar a monitorizar um banco
> de frequências diretas, repetidores, etc no outro. Por falar em monitorizar,
> o 4CF é quase um tri-receiver. Porquê? Porque ao ativar a receção AM por
> exemplo, A/FUNC e 1/FM, o rádio permite ativar uma das quatro bandas de
> escuta mantendo os dois VFO a trabalhar por trás, como já faz qualquer rádio
> com o rádio FM. Se uma das frequências em VFO for utilizada, salta do FM/AM
> para o modo “normal”.
>
> Em testes, comparado com um UV-9D e um VX-7R configurados de forma similar
> quando possível, o 4CF foi quase sempre superior em termos de sensibilidade
> de receção, notando-se na transmissão e principalmente no VHF a diferença do
> watt extra para o 9D. O VX-7R não foi grande termo de comparação porque não
> tem a antena de origem, mas serviu de base dado confiar bastante no seu
> s-meter. A bateria de 2200mah do 4CF dura bem mais que a de 2000mah do
> UV-9D, graças sem dúvida à diferença do ecrã auxiliada certamente pela
> gestão de consumo de energia, fazendo com que aguente vários dias sem
> carregar numa utilização esporádica de transmissão. - Ver nota final sobre
> Sota Day 2016
>
> Assim, como comentei com a RMS antes de dizer que ficava com o equipamento
> enviado para teste, não compreendo porque não vejo mais TERMN-8R importados
> ou 4CF nas mãos dos radioamadores portugueses, dado tratar-se de um
> excelente equipamento, com mais funcionalidades que alguns equipamentos
> chineses mais caros e de uma marca que nos tem enviado bons rádios para os
> 11 metros. Desconheço a história por trás do 4CF mas uma coisa é certa,
> existem pormenores de hardware e software que diferenciam os primos como por
> exemplo os níveis de potência (Anytone tem 3, CRT tem 2), não têm o mesmo ID
> de equipamento (o software da Anytone não funciona no CRT e vice-versa) e os
> menus não são “chapa cinco”. Pela experiência adquirida nestas últimas
> semanas, é sem dúvida um equipamento para manter.
>
> Se é tudo um mar de rosas? Não, claro que não, não fui pago para escrever
> uma crítica idílica como muitas vezes se encontra pela Internet fora. Uma
> das coisas que mais me aborrece é o som de fundo quando se ativa uma banda
> de escuta. Confesso que me tenho focado mais no funcionamento que me
> interessa para o dia a dia, V/U, mas é sem dúvida aborrecido ter aquele
> barulho de fundo, do squelch totalmente aberto, assim que se ativa uma banda
> de escuta. Não me esforcei muito, mas não encontro como ultrapassar esta
> questão se é que dá. O UV-9D nesta questão tem um comportamento normal mesmo
> em AM, abrindo o squelch apenas quando está o canal em uso e não assim que
> se acede a uma frequência dessa banda. O único workaround que encontrei, se
> podemos chamar-lhe assim, é carregar uma série de frequências conhecidas,
> por exemplo em relação à banda aérea e ativar o scan. Não se ouve nada
> exceto quando uma delas é encontrada como ativa e o scan para, obviamente.
> Para além disto, em SW/LW possivelmente só mesmo com outro tipo de antena
> que não a de origem como indica o fabricante. Frequências que me chegam em
> fundo de escala a um Tecsun não são sequer ouvidas no 4CF. Mais uma vez,
> também não investi muito nesta função e sei perfeitamente que a pequena
> antena dual band de origem não é o mais adequado, mas sinceramente esperava
> apanhar alguma frequência mais facilmente. Ainda não percebi também mas é o
> primeiro rádio que tenho em que a antena fica desapertada com uma facilidade
> extrema. Sempre aconcheguei as antenas, ao ponto de apertar sem esforçar.
> Este quando dou conta já está “solta” e tenho de dar um toque para sentir
> que está no ponto.
>
> Em todo o caso, a compra é a conclusão adequada, este equipamento para mim
> tem mais valor que os Wouxun, sendo inclusive bastante mais barato que o
> colorido UV-9D.
>
> Estou disponível para qualquer pedido de informações ou questão mais
> especifica, na medida do possível.
>
> Adenda:
> Este texto já estava terminado e em “revisão” antes do Sota Day 2016. O CRT
> 4CF foi o rádio utilizado nas minhas ativações /p e o feedback foi bastante
> positivo. A autonomia é espetacular, tendo estado ligado todo o dia sem cair
> sequer um traço dos seus três de bateria, mesmo ao ser utilizado por
> variadas ocasiões com potência alta. Aprovadíssimo.
>
> 73,
> Paulo
> CS7AGH
>
>
> _______________________________________________
> CLUSTER mailing list
> CLUSTER radio-amador.net
> http://radio-amador.net/cgi-bin/mailman/listinfo/cluster
>
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