ARLA/CLUSTER: CRT 4CF - Opinião
CS7AGH
cs7agh sapo.pt
Terça-Feira, 5 de Abril de 2016 - 17:49:42 WEST
As próximas linhas foram escritas na ótica de utilizador e não na de um
especialista em análise de equipamentos. Não tenho equipamentos para
realizar testes de laboratório nem nada que se pareça, sou sim meramente
um curioso por tecnologia e meios de comunicação em geral. Se desejam
dados mais técnicos podem saltar este texto pois não vão encontrar
nenhuns. Se desejam ler o que um mero utilizador acha de um rádio que é
no mínimo curioso e desconhecido da grande maioria de vós, num mercado
inundado por soluções low cost principalmente daquela marca que começa
por um B e acaba com um G tendo AOFEN algures pelo meio, foi mesmo por
isso que decidi partilhar esta opinião convosco.
Com a minha entrada neste mundo do rádio e nomeadamente nos rádios
portáteis multibanda, descobri também que existem rádios que apesar de
terem emissão limitada (144Mhz / 430Mhz e por vezes 50Mhz / 220Mhz), têm
capacidade de receção muito superior a isso, fazendo as vezes de um
recetor dedicado como os Tecsun PL-660/PL-880 ou muito perto disso. Como
nem toda a gente quer investir dinheiro num Icom IC-92AD ou num Yaesu
FT2DR por exemplo, muitas vezes viramos-nos para a oferta chinesa, no
sentido não literal da palavra porque já todos ou quase são feitos por
essas bandas, procurando este tipo de oferta em equipamentos como os
Wouxun UV-8D/9D ou outros. Estes são muito fáceis de utilizar, com ou
sem cabo de programação, são intuitivos Q.B. para o utilizador comum,
mas pecam nas funcionalidades e cobertura que oferecem. Há sensivelmente
um ano para mim isto mudou.
Em Fevereiro de 2015, se não estou em erro, a Anytone anunciou uma nova
gama de equipamentos, ANILE-8R/NSTIG-8R/OBLTR-8R/TERMN-8R,
revolucionando a oferta chinesa à data com um equipamento que faz quase
tudo o que se pode desejar num rádio abaixo dos $200/$250. Acompanhando
textos, analises e comentários online, o TERMN-8R sempre esteve na minha
mira durante quase um ano, dada a sua versatilidade e bons comentários.
Recentemente e após conversa com o proprietário da loja RMS, foi-me dada
a hipótese de testar o seu primo europeu, o CRT 4CF que, apesar de
partilhar 99% do aspeto e funções, não é o mesmo equipamento. Saltando
um pouco para o final deste artigo de opinião, verdade seja dita que
ainda antes de o escrever já tinha informado a loja que o rádio não
seria devolvido, pois estava interessado em adquiri-lo. Vamos ver porquê.
O CRT 4CF é um rádio, como o Miklor (www.miklor.com) descreveu o seu
primo na altura, passo o eufemismo, que assenta bem na mão. Assim que se
encaixa a bateria damos conta que temos em nossa posse um rádio de
aspeto robusto e de peso adequado. O rádio acompanha um carregador de
secretária, clip de cinto, uma antena (e não duas como os UV-9D, que
utilizarei para termo de comparação várias vezes neste texto por razões
óbvias) e a típica fita para o prender no pulso. Tem também dois
manuais, um em inglês muito detalhado e completo, um mais resumido e em
Português criado pela loja.
Para quem não conhece o rádio pelo modelo da Anytone, porque razão
fiquei eu intrigado por ele? Passo a descrever apenas algumas das razões:
· Tecla secundária configurável, entre outras opções, para PTT do
VFO secundário
· Dois VFO com receção em tempo real
· Full duplex com auricular (não testado)
· 6W VHF e 5W UHF
· Recebe SW, MW, AM (Banda aérea), FM (64-108Mhz), UHF e VHF
· Repetidor de banda-cruzada
Só com isto, já ficaríamos satisfeitos com um equipamento que custa
pouco mais de 100€ com dois anos de garantia em Portugal correto? O
próprio Wouxun UV-9D, tão conhecido no nosso meio, não faz tudo o que
está acima descrito, algumas das que faz deixa um pouco a desejar e
custa bem mais. Porque razão vende tanto e porque razão não conheço
ninguém que tenha o TERMN/4CF? Foi mesmo isso que quis perceber. Vamos
então à parte prática da coisa.
O rádio tem o layout de hardware habitual, com botões superiores para
canal/frequência e volume junto a um LED multicor que nos permite saber
a partir de que VFO estamos a receber uma comunicação, nas laterais o
PTT do canal principal, a tecla configurável e o botão para abrir o
squelch. Começamos logo aqui com um pormenor delicioso. Ao pressionar o
“abrir squelch”, o rádio alterna entre memória e frequência. Todos os
rádios que eu conheço temos de dar uma volta até ao menu ou através de
teclas de atalho para vermos a frequência associada a uma memória que
estamos a utilizar. Este não. Do lado direito temos a ficha habitual
Kenwood K mas standard (passiva), pelo que todos os acessórios
Baofeng/Midland/etc funcionarão sem problema, nomeadamente os cabos de
programação. Um exemplo recente (TYT MD380) mostra-nos que nem sempre é
utilizada uma porta standard. Olhando um pouco mais atentamente para
este lado do rádio e caso não tenhamos reparado até ao momento, temos
uma pequena borracha na própria bateria. Esta borracha tapa uma entrada
DC. Uma pesquisa rápida do site da CRT leva-nos a um carregador 12v que
liga, ao contrário do habitual, à bateria e não ao rádio em si como os
Baofeng UV-3R por exemplo, carregando a mesma diretamente a partir do
isqueiro.
Ligando o rádio estamos em casa, qualquer pessoa que já tenha tido um
rádio saberá ler e utilizar o ecrã do 4CF, com os habituais sinais de
reverse, offset, CTCSS/DCS, VOX, etc. O acesso aos menus requer alguma
(pouca) habituação, funcionando menos como os rádios chineses e mais
como os Yaesu VX-7R/8R com as funções habituais disponíveis nas várias
teclas de atalho do teclado numérico e com um menu geral a que se acede
a partir da tecla A/FUNC e 8/SET. Mediante a funcionalidade utilizada e
a configuração escolhida, o menu pode ter mais ou menos opções, indo até
às 50 páginas de configurações. Não vou entrar muito por esta secção do
equipamento, porque para isso existem os manuais e a Internet, mas o
rádio é muito fácil de programar tanto manualmente como via computador e
percebe-se o que praticamente todas as opções fazem só por ler a descrição.
Como referi acima, o 4CF recebe 6 (4 RX +2 RX-TX) bandas ao contrário do
UV-9D com as suas promocionais 7 bandas, mas como se costuma dizer são
poucas, mas boas. O UV-9D recebe
· 76-108 Mhz
· 108-136 Mhz (AM)
· 136-180 Mhz
· 230-250 Mhz
· 350-400 Mhz
· 400-512 Mhz
· 700-985 Mhz
e o 4CF oficialmente
· 0,52-1,71 Mhz
· 2,3-29,99 Mhz
· 64-108 Mhz
· 118-136 Mhz (AM)
· 144-146 Mhz
· 430-440 Mhz
Pessoalmente, prefiro ter apenas 6, mas ter também receção HF do que ter
um equipamento com bandas como 230-250Mhz ou 700-985Mhz. Na única que se
“sobrepõe” em ambos, testada com as duas antenas do Wouxun, o UV-9D foi
sempre bastante inferior na receção de banda aérea em relação ao 4CF.
Como aparte/desabafo, ainda estamos para perceber porque razão tiraram o
cross-band repeater do UV-8D para o UV-9D, lançando-a depois no UV-9D
Plus (sem a documentar no manual dado que, espantem-se, é o exatamente o
mesmo do UV-9D).
Portanto, temos um rádio que, comparativamente ao mais completo que se
compra por cá ("low cost") tem melhor receção AM, recebe HF, é mais
rápido a operar dentro dos menus (confesso que por vezes notei um
arrastamento no UV-9D) e tem um Scanner invejável. O 4CF tem 199
memórias em 10 bancos, desde o 0 (todas) e do 1 a 9. Cada um destes pode
ter 32 canais atribuídos (cada canal pode estar associado a mais do que
um banco). Existe também um banco de memórias para as 4 bandas de
escuta. A tecla #/MSK permite alternar, em modo memória (MR), entre o
banco 0 (aparece o número do canal na memória geral) e os bancos 1 a 9
(apresenta apenas o número do banco). Podemos criar um com os canais
simplex/repetidores habitualmente utilizados numa determinada zona ou
quem utiliza rádio em termos profissionais, ter canais diferentes
associados a bancos para cada utilização e podemos fazer scan a qualquer
um individualmente (1-9) ou a todos os canais no equipamento (0). O scan
por sua vez tem duas opções, normal e rápido. Ainda não consegui fazer o
teste na altura em que escrevo estas observações, mas digo com alguma
certeza que em modo rápido o 4CF não fica nada atrás do Uniden que está
lá em casa e pelo contrário, se não for superior deve estar ela por ela.
Podemos ter uma frequência fixa num VFO e estar a monitorizar um banco
de frequências diretas, repetidores, etc no outro. Por falar em
monitorizar, o 4CF é quase um tri-receiver. Porquê? Porque ao ativar a
receção AM por exemplo, A/FUNC e 1/FM, o rádio permite ativar uma das
quatro bandas de escuta mantendo os dois VFO a trabalhar por trás, como
já faz qualquer rádio com o rádio FM. Se uma das frequências em VFO for
utilizada, salta do FM/AM para o modo “normal”.
Em testes, comparado com um UV-9D e um VX-7R configurados de forma
similar quando possível, o 4CF foi quase sempre superior em termos de
sensibilidade de receção, notando-se na transmissão e principalmente no
VHF a diferença do watt extra para o 9D. O VX-7R não foi grande termo de
comparação porque não tem a antena de origem, mas serviu de base dado
confiar bastante no seu s-meter. A bateria de 2200mah do 4CF dura bem
mais que a de 2000mah do UV-9D, graças sem dúvida à diferença do ecrã
auxiliada certamente pela gestão de consumo de energia, fazendo com que
aguente vários dias sem carregar numa utilização esporádica de
transmissão. - Ver nota final sobre Sota Day 2016
Assim, como comentei com a RMS antes de dizer que ficava com o
equipamento enviado para teste, não compreendo porque não vejo mais
TERMN-8R importados ou 4CF nas mãos dos radioamadores portugueses, dado
tratar-se de um excelente equipamento, com mais funcionalidades que
alguns equipamentos chineses mais caros e de uma marca que nos tem
enviado bons rádios para os 11 metros. Desconheço a história por trás do
4CF mas uma coisa é certa, existem pormenores de hardware e software que
diferenciam os primos como por exemplo os níveis de potência (Anytone
tem 3, CRT tem 2), não têm o mesmo ID de equipamento (o software da
Anytone não funciona no CRT e vice-versa) e os menus não são “chapa
cinco”. Pela experiência adquirida nestas últimas semanas, é sem dúvida
um equipamento para manter.
Se é tudo um mar de rosas? Não, claro que não, não fui pago para
escrever uma crítica idílica como muitas vezes se encontra pela Internet
fora. Uma das coisas que mais me aborrece é o som de fundo quando se
ativa uma banda de escuta. Confesso que me tenho focado mais no
funcionamento que me interessa para o dia a dia, V/U, mas é sem dúvida
aborrecido ter aquele barulho de fundo, do squelch totalmente aberto,
assim que se ativa uma banda de escuta. Não me esforcei muito, mas não
encontro como ultrapassar esta questão se é que dá. O UV-9D nesta
questão tem um comportamento normal mesmo em AM, abrindo o squelch
apenas quando está o canal em uso e não assim que se acede a uma
frequência dessa banda. O único workaround que encontrei, se podemos
chamar-lhe assim, é carregar uma série de frequências conhecidas, por
exemplo em relação à banda aérea e ativar o scan. Não se ouve nada
exceto quando uma delas é encontrada como ativa e o scan para,
obviamente. Para além disto, em SW/LW possivelmente só mesmo com outro
tipo de antena que não a de origem como indica o fabricante. Frequências
que me chegam em fundo de escala a um Tecsun não são sequer ouvidas no
4CF. Mais uma vez, também não investi muito nesta função e sei
perfeitamente que a pequena antena dual band de origem não é o mais
adequado, mas sinceramente esperava apanhar alguma frequência mais
facilmente. Ainda não percebi também mas é o primeiro rádio que tenho em
que a antena fica desapertada com uma facilidade extrema. Sempre
aconcheguei as antenas, ao ponto de apertar sem esforçar. Este quando
dou conta já está “solta” e tenho de dar um toque para sentir que está
no ponto.
Em todo o caso, a compra é a conclusão adequada, este equipamento para
mim tem mais valor que os Wouxun, sendo inclusive bastante mais barato
que o colorido UV-9D.
Estou disponível para qualquer pedido de informações ou questão mais
especifica, na medida do possível.
Adenda:
Este texto já estava terminado e em “revisão” antes do Sota Day 2016. O
CRT 4CF foi o rádio utilizado nas minhas ativações /p e o feedback foi
bastante positivo. A autonomia é espetacular, tendo estado ligado todo o
dia sem cair sequer um traço dos seus três de bateria, mesmo ao ser
utilizado por variadas ocasiões com potência alta. Aprovadíssimo.
73,
Paulo
CS7AGH
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