ARLA/CLUSTER: Sinal rádio que intrigava astrónomos há 17 anos afinal era do micro-ondas
João Costa > CT1FBF
ct1fbf gmail.com
Quarta-Feira, 13 de Maio de 2015 - 10:34:05 WEST
---------- Mensagem encaminhada ----------
De: Carlos Pinheiro <karlus.pinheiro gmail.com>
Data: 12 de maio de 2015 23:51
Assunto: Re: [CT-Com. & Tec.] Sinal rádio que intrigava astrónomos há 17
anos afinal era do micro-ondas
Para: ct-comunicacoes-e-tecnologias googlegroups.com
A propósito deste sinal rádio misterioso, envio uma história parecida que
se passou comigo há uns anos atrás. Contei esta aventura ao nosso saudoso
amigo Mário Portugal, CT1DT e ele "romanceou" à sua maneira:
A Marconi findou os seus trabalhos em Portugal, em Dezembro de 2002.
Naturalmente que as estações de satélite e cabo, continuam a funcionar.
Como todos os satélites geoestacionários, o que servia a Marconi, estava
ali algures por perto da costa do Brasil, em orbita equatorial, 36.000 Km
de altitude e, a essa distância de nós e de Moçambique, as parabólicas
tinham de fazer um fogo muito rasteiro, e que rondava os 7º de elevação.
As comunicações entre Portugal e Moçambique, eram asseguradas por este
satélite.
Na Marconi, em Lisboa, havia uma duplicação de equipamento, para assegurar
em pleno estas comunicações.
Mas, em 1990, dá-se um colapso nestas comunicações, o que viria por em
causa não só o equipamento usado em Moçambique, mas também o nosso em
Portugal, ou até no próprio satélite.
Perante tal “confusãoâ€, e podendo observar-se uma pequena portadora sobre a
frequência de Moçambique, logo se pensou que poderia ser originada naquele
paÃs, mas contactada uma estação americana que também estava “na mira†do
mesmo satélite, sobre o defeito que estávamos a encontrar, de lá veio a
informação de que estavam a escutar Moçambique em perfeitas condições…
Os nossos técnicos em Portugal, ficaram “apavorados†com esta “terrÃvelâ€
informação dos EUA, porque obviamente empurrava para Portugal, todas as
culpas…
Nessa época, estava como chefe de manutenção do equipamento da Marconi, em
Portugal, o nosso colega CT1PT, Eng. Carlos Pinheiro, agora reformado, que
logo iniciou todas as tentativas para descobrir aquela “malfadadaâ€
interferência que estava a observar no seu fabuloso Analisador de
Espectros, desligando todos os equipamentos dispensáveis na estação, mas
sem que se verificasse qualquer melhoria. Era de por os cabelos em pé !
Aquilo “tinha de vir de foraâ€, pensou ele, mas como, com um feixe tão
apertado como tinha a sua colossal parabólica de 300 toneladas, 32 metros
de diâmetro e 65 dB de ganho nos 4,2 GHz. ?
O nosso colega viu-se numa tremenda confusão de opiniões com a sua chefia e
pensou que só haveria uma forma de detectar aquela interferência, mas para
tal, ele teria de ir para a rua com o Analisador de Espectros, que era
alimentado por 220VAC.
“Eu vou resolver este assuntoâ€, pensou ele, e vai de procurar uma fonte
transistorizada que pudesse ser alimentada pelos 12V do carro, e se
aguentasse com o consumo do Analisador de Espectros, o que veio a conseguir
e, de imediato a aparelhagem foi colocada no carro que iria servir de
movimento ao Analisador de Espectros, nem que fosse 360º à volta da antena
parabólica…
O problema não era assim tão fácil quanto se pode pensar, porque no móvel,
ele não podia dispor duma antena com 65 dBs de ganho e se teria de
contentar com uma antena minúscula … A própria chefia considerava um
projecto de loucos…
Mas o Carlos é que não se deu por vencido e dada a sua já longa
experiências com equipamentos portáteis, não via neste trabalho, nada de
atemorizante…
Estudadas criteriosamente as estradas por onde se poderia movimentar o
carro, aà vai ele, mas só conseguia ver alguma alteração nas medidas,
quando se dirigia para o foco da antena que, como já referi, era de somente
7º, mesmo rés-vés ao solo.
“Mas que diabo !†pensou ele; naquela direcção só havia uma pequena colina,
onde se podia ver que havia algumas casinhas, ali a cerca de 3,5 Km de
distância, mas vai de procurar caminho para lá, e quando mais o carro
subia, mais potente era a interferência !
“Eureka ! “ , pensou o Carlos, isto é mesmo daqui, mas só havia umas
casotas insignificantes à vista. Ali mesmo é que a interferência estava
mesmo forte !
Mas como não podia deixar de ser, e ao ver umas antenas de TV, logo pensou
que deveria de haver algum amplificador de antena de TV a auto-oscilar lá
por perto dos 600 MHz e que, devido às suas harmónicas, alguma viesse
acertar em cheio na frequência de Moçambique, e ainda por cima, com a
tremenda amplificação de 65 dB da parabólica, tantos estragos estava a
fazer há já dois dias !
Parou-se o carro à frente da casota e pediu-se à dona para desligar a
corrente da casota, tendo desaparecido de imediato a interferência.
Estava descoberta a origem e foi pedido à senhora para não voltar a ligar
aquele “malfadado†amplificador, até que a Marconi lhe oferecesse um outro,
o que veio a acontecer de imediato.
Espero que tenham achado alguma piada e é também uma singela homenagem ao
Mário e ao espÃrito que ele conseguia imprimir aos seus escritos...
73 de CT1PT
CP
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