ARLA/CLUSTER: TDT, um ano depois o que mudou?Na verdade muito pouco.

João Costa > CT1FBF ct1fbf gmail.com
Domingo, 5 de Maio de 2013 - 11:38:20 WEST


1ª Lei de Murphy:

" Se há mais de uma maneira de se executar uma tarefa ou trabalho, e se uma
dessas maneiras resultar em catástrofe ou em consequências indesejáveis,
certamente essa será a maneira escolhida por alguém para executá-la". Ela é
comumente citada (ou abreviada) por "Se algo pode dar errado, dará" ou
ainda "Se algo pode dar errado, dará errado da pior maneira possível, no
pior momento possível".

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A televisão analógica deu lugar à TV digital há precisamente um ano. O
processo envolveu queixas e lamentos. Um ano depois o que mudou?

Na verdade muito pouco. As queixas de má receção do sinal, que surgiram
desde as primeiras vagas de migração, continuam e nem um reforço da
capacidade do sinal feita pela Portugal Telecom <http://tdt.telecom.pt/>,
nas capitais de distrito ainda no início do ano passado resolveu o
problema.

Um ano depois a TDT não tem mais canais e, em muitos casos, também não
oferece melhor qualidade de sinal, a avaliar pelos estudos entretanto
divulgados e pelas mais recentes decisões do regulador. A bola volta a
estar do lado da Anacom, que tem em mãos um conjunto de medidas que podem
vir a remediar, pelo menos, algumas das falhas que continuam a ser
detetadas no serviço.

Durante a migração o regulador apresentou vários relatórios com indicadores
positivos<http://tek.sapo.pt/noticias/telecomunicacoes/metade_da_populacao_do_interior_do_pais_ja_es_1217098.html>a
cada fase do processo, mas recentemente reconheceu a necessidade de
reforçar a capacidade para monitorizar a qualidade do sinal TDT e também
propôs alterações à rede.

Numa audição parlamentar pedida pelo CDS e pelo PSD depois de conhecidos
resultados de um estudo da DECO sobre o tema, a presidente do regulador das
comunicações eletrónicas confirmou que até final do ano serão investidos
cerca de meio milhão de euros na aquisição e instalação de 400 sondas para
monitorizar a qualidade do serviço.

Esta verificação tem sido feita desde o início do processo de migração, mas
a ideia é reforçar a capacidade para apurar dados e apoiar melhor o
trabalho das equipas no terreno.

[image: Nome da imagem]

A mesma entidade lançou uma consulta pública - entretanto terminada - para
um projeto de decisão
<http://www.anacom.pt/render.jsp?contentId=1155169>que prevê
alterações
à configuração da
rede<http://tek.sapo.pt/noticias/telecomunicacoes/anacom_quer_mudancas_na_configuracao_da_rede_1304988.html>.
Defende a Anacom, que a infraestrutura deve ser baseada numa rede de
multifrequência (MFN) - constituída por pequenas redes de frequência única
(MFN de SFN).

Na nota da consulta pública a Anacom reconhecia que os dados apurados junto
da população têm "revelado que determinadas situações têm tido impacto no
nível de qualidade de receção do sinal de TDT, não permitindo em particular
a sua estabilidade".

Recuando a fevereiro os números apurados num estudo da
DECO<http://tek.sapo.pt/noticias/telecomunicacoes/62_dos_utilizadores_da_tdt_queixam_se_da_qual_1298092.html>indicavam
que 62% dos portugueses, o equivalente a cerca de um milhão de
lares, estavam insatisfeitos com a qualidade do sinal de Televisão Digital
Terrestre.

Treze por cento dos inquiridos garantiram mesmo à associação de defesa do
consumidor que não conseguiam seguir o curso normal das emissões
televisivas, devido a falhas na receção do sinal. Os números fazem da
qualidade do sinal a questão mais geradora de insatisfação para os
consumidores. Os custos da migração foram o segundo fator negativo apontado
ao processo.

Recorde-se que para diminuir os custos de migração para a TDT foi criado um
mecanismo de subsidiação que se mantém disponível até
hoje<http://tek.sapo.pt/noticias/telecomunicacoes/pedidos_de_apoio_na_transicao_para_a_tdt_acab_1311249.html>.
Uma semana antes do fim do prazo, estes apoios tinham sido requeridos
quatro mil vezes.

Os apoios estão disponíveis para reformados e pensionistas com renda
inferior a 500 euros, beneficiários do rendimento social de inserção e
portadores de deficiência igual ou superior a 60%.

O apoio prevê uma ajuda máxima de 22 euros na aquisição de caixas
descodificadoras, a que podem ser acrescidos até 61 euros adicionais, nos
casos em que é necessária instalação técnica. Há ainda uma majoração de
valores para reformados em situação de isolamento social, que pode ser
solicitada até ao passado dia 23 de abril.

A má informação aos consumidores sobre a transição foi outro tópico
apontado na pesquisa da DECO, com 45% dos inquiridos a considerarem que a
informação prestada foi má ou muito má. Face aos dados, a associação
voltava a considerar que a informação deficitária acabou por empurrar
muitos consumidores para serviços de televisão paga.

[image: TDT]

Isto embora um "contra-estudo"<http://tek.sapo.pt/noticias/telecomunicacoes/estudo_contraria_dados_da_deco_sobre_queixas_1298129.html>divulgado
no mesmo dia, apresentasse outros números e garantisse que a
maioria dos portugueses, numa escala de 0-10, tinha um nível de satisfação
com a TDT superior a 7. A pesquisa era da Nielsen.

Um outro estudo, conhecido mais recentemente mostra que Portugal está na
cauda da Europa relativamente à tecnologia. A pesquisa, conduzida pelo
Observatório Europeu do Audiovisual, centrou-se na oferta de canais
associada ao serviço.

Contra os cinco canais existentes em Portugal (quatro + o canal Parlamento
que chegou à TDT em
janeiro<http://tek.sapo.pt/noticias/telecomunicacoes/canal_parlamento_estreia_hoje_em_sinal_aberto_1291399.html>)
o estudo aponta os 118 de Itália, o país europeu onde a TDT assegura uma
maior diversidade de oferta.

[image: Nome da imagem]

Ainda o processo de migração para a TDT não estava concluído e já se sabia
que o novo canal de conteúdos previsto para a plataforma não chegaria a ver
a luz do dia. O concurso que atribuía uma quinta licença de televisão
recebeu apenas uma proposta, que não foi considerada viável e os atuais
operadores de TV nunca se entenderam para alimentarem eles um novo canal
com conteúdos em HD partilhados, o que deitava por terra as esperanças de a
TDT se assumir como uma via para enriquecer a oferta de conteúdos veiculada
em sinal aberto.

Fátima Barros, presidente da Anacom, garantiu no entanto na mesma audição
parlamentar na semana passada onde reagiu aos números apurados no estudo da
DECO, que a possibilidade de existirem novos canais mantém-se em aberto.
Assim haja vontade dos operadores, o que não tem acontecido. Outro
responsável da Anacom também já tinha dito que tecnologicamente podem
existir até mais três canais com qualidade standard ou mais um canal em
alta definição.

Será que a possibilidade alguma vez se confirmará? Para tal é necessário
que o negócio tenha viabilidade económica, uma condição que não será fácil
hoje e que se tornará cada vez mais difícil com os serviços pagos de
televisão a continuarem a crescer, como tem acontecido de trimestre para a
trimestre.

Deixe-nos também a sua opinião sobre a forma como vê este processo de
migração para a TDT e os desenvolvimentos que ainda espera à volta de um
tema que, um ano depois do final da migração, continua a gerar debate.

*Escrito ao abrigo do novo Acordo Ortográfico*

Fonte: Cristina A. Ferreira <cristinaf  tek.sapo.pt> em Montra TeK
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