ARLA/CLUSTER: O próximo grande caçador de planetas como a Terra tem mão de cientistas portugueses

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Quinta-Feira, 21 de Junho de 2012 - 14:14:54 WEST


Astrofísica
O próximo grande caçador de planetas como a Terra tem mão de
cientistas portugueses
21.06.2012 - 11:03 Por Nicolau Ferreira

 O aparelho mais avançado para procurar planetas iguais à Terra só
estará a funcionar em 2016. Nessa altura, o consórcio que Portugal
integra e que está a construir este espectrógrafo, chamado Espresso,
vai ter direito a usá-lo 270 noites. O Espresso vai procurar planetas
iguais à Terra, com água líquida, que poderão ter vida.

Nesta quinta-feira, termina uma reunião de três dias, em Santa Cruz do
Douro, no concelho de Baião, onde se tem estado a delinear o projecto
científico deste consórcio, para determinar por exemplo que estrelas
serão observadas àprocura de novas Terras.

"É uma reunião técnica", explica-nos Nuno Santos. O cientista do
Centro de Astrofísica da Universidade do Porto é o responsável
português do consórcio que ganhou a construção do aparelho, e reúne
ainda a Espanha, Itália, Suíça e o Observatório Europeu do Sul (ESO,
na sigla em inglês). A cada três meses, o grupo reúne-se para avaliar
o estado do projecto e para tomar decisões sobre a sua construção.
Desta vez, a organização calhou a Portugal e 40 participantes
inscreveram-se.

O Espresso (acrónimo de Echelle Spectrograph for Rocky Exoplanet and
Stable Spectroscopic Observations) é um espectrógrafo extremamente
estável, que irá captar o espectro da luz das estrelas para descobrir
planetas rochosos. O aparelho, cujo núcleo terá quatro metros de
comprimento por dois de altura, será integrado no Very Large Telescope
(VLT), o maior telescópio óptico do mundo, que o ESO construiu no
Monte Paranal, no Chile.

O VLT é composto por quatro telescópios de 8,2 metros de diâmetro e
outros quatro auxiliares, com 1,8 metros. O Espresso vai reunir a luz
visível captada pelos quatro grandes telescópios, para observar as
estrelas. Para isso, terá de se construir um subsistema de componentes
ópticos que levam a luz dos telescópios até ao espectrógrafo ao longo
de dezenas de metros, num túnel subterrâneo. Portugal irá fabricareste
subsistema, chamado coudé train.

"O Espresso vai funcionar em dois modos diferentes", diz-nos Alexandre
Cabral, especialista em óptica do Centro de Astronomia e Astrofísica
da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa, a outra
instituição que integra o grupo português do consórcio. "Num dos modos
colecta-se a luz dos quatro telescópios, no outro o espectrógrafo
escolhe [a luz] só de um telescópio", explica o cientista. Há muita
concorrência por parte de várias equipas com projectos de investigação
diferentes na utilização do VLT e, deste modo, o espectrógrafo pode
utilizar qualquer telescópio disponível. Com este instrumento, os
astros menos nítidos serão preferencialmente observados por todos os
telescópios do VLT, que receberão assim quatro vezes mais de luz.

O subsistema a cargo de Portugal terá dez peças complexas de prismas e
lentes. A equipa já fez os desenhos das peças, agora está à procura de
empresas para as construir. O objectivo é que percam o mínimo de
fotões possíveis da luz que vem dos telescópios.

15 milhões de euros

É esta luz, vinda das estrelas, que o Espresso irá captar. O aparelho
será colocado num compartimento que ficará em vácuo, com a temperatura
controladíssima, para ser o mais estável possível. "A sua precisão é
dez vezes superior à do Harps [o espectrógrafo da geração anterior,
utilizado desde 2003]. Com o Espresso, pela primeira vez, teremos
capacidade de detectar planetas como a Terra, que estão na zona
habitável", explica Nuno Santos. Ou seja, planetas com o tamanho da
Terra, à distância suficiente da sua estrela para poderem ter água
líquida.

Tanto o Harps como o Espresso utilizam a técnica das velocidades
radiais, que permite identificar planetas à volta de estrelas. A força
gravítica do planeta a orbitar uma estrela faz com que ela oscile.
Vista da Terra, esta oscilação significa que a estrela se afasta e se
aproxima ciclicamente. Apesar de esta diferença ser uma distância
mínima, traduz-se numa pequena alteração na luz da estrela que chega
até nós. Os dois espectrógrafos conseguem ler esta alteração, mas o
Harps só consegue detectar planetas do tamanho da Terra se estiverem
próximos da sua estrela.

Para o ano, o coudé train vai começar a ser construído. A reunião que
termina nesta quinta-feira é importante para decidir aspectos
relativos à óptica, à mecânica e electrónica. Mas a parte científica
também é importante. O consórcio terá de aproveitar o melhor possível
as 270 noites para fazer ciência. Este número é o que o ESO oferece ao
consórcio por construir o aparelho. "É como se pagássemos de repente
15 milhões de euros", explica Nuno Santos, referindo-se ao preço total
do Espresso. Portugal terá de investir um milhão de euros, vindos da
Fundação para a Ciência e a Tecnologia, na construção do coudé
train.Os cientistas terão de decidir quais serão as estrelas que o
Espresso irá observar. Se vão ser astros como o Sol ou anãs vermelhas.
Por outro lado, o número de vezes escolhido para se observar cada
estrela vai limitar a quantidade de sóis que poderão ser analisados.
Nuno Santos estima que serão cem estrelas: "Mesmo que se descubra
apenas um planeta como a Terra e que esteja à distância da sua estrela
para ter água líquida, será extraordinário."

Fonte: Jornal Publico




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