RE: ARLA/CLUSTER: A onda curta e outros ataques ao serviço público

Afonso Marques amarques guiatel.pt
Terça-Feira, 4 de Outubro de 2011 - 18:23:08 WEST


Quando  interessa, não sabemos bem porquê,  a política ( isto é assunto puramente político ) é bem vinda a este fórum . Quando não interessa, porque pode ferir alguma susceptibilidade , então o fórum é exclusivamente dedicado aos assuntos relacionados com radioamadorismo e há que moderar ... 

A mente humana é algo complicada .

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CT1RH

-----Mensagem original-----
De: cluster-bounces  radio-amador.net [mailto:cluster-bounces  radio-amador.net] Em nome de João Costa > CT1FBF
Enviada: terça-feira, 4 de Outubro de 2011 17:42
Para: Cluster-ARLA
Assunto: ARLA/CLUSTER: A onda curta e outros ataques ao serviço público

O Governo prepara-se para cortar um vínculo importante com as comunidades portuguesas espalhadas pelo mundo, eliminando as emissões em onda curta. O pior é que está a utilizar uma argumentação pouco séria para justificar uma poupança que provavelmente não chega aos 600
000 euros anuais num contexto de custos operacionais da RTP que são superiores a 250 milhões de euros por ano.

O fim das emissões em onda curta representa apenas um dos ataques ao serviço público de comunicação social, a par dos que estão previstos para a Agência Lusa e para a RTP. Se é absurdamente perigoso para a liberdade de informar e o direito a estar informado entregar a Agência Lusa a privados, a privatização de um canal de televisão terá sérias consequências no panorama audiovisual e no perfil do serviço público do futuro, muito provavelmente  empobrecendo-o. Não se consegue perceber como é que o Governo quer fazer melhor com infinitamente menos recursos financeiros e estruturas operacionais salamizadas e enfraquecidas.

A primeira coisa que salta à vista na eliminação das emissões em onda curta é que as comunidades portuguesas são completamente desprezadas.
Nem o ministro Miguel Relvas nem o presidente da RTP, nas recentes audições que houve no Parlamento, se detiveram a pensar no prejuízo que a eliminação das emissões em onda curta poderá causar às comunidades portuguesas, nem à língua portuguesa nem à Lusofonia. Não se mostraram minimamente sensíveis ao facto de, fora da Europa, haver mais de três milhões de portugueses, sobretudo nas Américas e em África, idosos e muito dispersos territorialmente.  Nem com o facto de também na Europa se continuar a ouvir em onda curta, sobretudo nas gerações mais antigas de portugueses residentes no estrangeiro e nos que andam na estrada e estão no mar.

Se virmos a desgraça que ainda são (apesar de algumas melhorias) as emissões da RTP-Internacional, deitadas literalmente ao abandono pela administração da RTP, em profundo desrespeito pelas comunidades e com a maior displicência pelas potencialidades que um canal global como este pode ter, percebemos bem que eliminar as emissões em onda curta é coisa de somenos.


O mais grave é que neste processo parece haver uma boa dose de cinismo. O anterior Governo do PS anuiu à vontade da Administração da RTP de suspender as emissões em onda curta a partir de Junho passado.
Mas, conforme o despacho do então ministro dos Assuntos Parlamentares, era para recolher informação e avaliar a importância da onda curta.
Era uma medida de carácter temporário, mas que agora já aparece como decisão definitiva, não obstante não ter sido feito qualquer estudo que a possa sustentar. Revela-se assim uma intenção oculta por detrás da decisão de suspensão, patente no deslize que o presidente da RTP teve na audição na Comissão de Ética ao dizer: "Estamos a fechar uma forma de distribuição da RDP Internacional." Um deslize aborrecido este do "estamos a fechar".

Pouco sério é também o facto de o ministro Miguel Relvas dizer que a tecnologia está em desuso, quando o Provedor do Ouvinte e muitos outros responsáveis do grupo RTP afirmam que o Centro Emissor de Pegões está entre os mais bem apetrechados do mundo e entre os tecnicamente mais modernos. Tal como é pouco sério dizer que a onda curta está a ser abandonada, quando há mais de oitenta países a fazê-lo e perto de quinze que até têm emissões em língua portuguesa.


Para estes ataques ao serviço público os argumentos são ajustados à medida da vontade de privatizar, justificados por números nem sempre correctos e em factos pouco consistentes. O Governo desfaz-se de património do Estado sem ponderar nem acautelar as consequências. É uma lógica estranha que tem pouco a ver com aquilo que o actual primeiro-ministro dizia na  ampanha: "O meu compromisso absoluto é com a transparência." Será?"


Fonte http://www.dn.pt/inicio/opiniao/interior.aspx?content_id=2030642&seccao=Convidados



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