Re: ARLA/CLUSTER: Comentário à "heresia" da protecção civil

AV radiophilo gmail.com
Sábado, 31 de Dezembro de 2011 - 19:20:30 WET


Caro Filipe,

Obrigado pelos comentários. Junto algumas rectificações.


2011/12/30 Filipe Ferreira <filipect1ddw  hotmail.com>

>  *CT1DDW passa a comentar:
>  *
>  ------------------------------
> From: radiophilo  gmail.com
> <...>
> 1. As comunicações de emergência não são actividades de radioamadorismo*.(errado,
> está explicitado do Regulamento da IARU e nacional o contrário, há que
> obedecer aos regulamentos para não haver o granel que há!)*
>

Se não vir inconveniente, tratarei de responder em email separado.


> <...>
> 2. Os radioamadores não são protectores civis.
> Não têm formação, não têm treino, mas mais importante do que isso, não têm
> disciplina nem disponibilidade nem, na maior parte dos casos, vontade. Em
> ocorrências reais facilmente se tornam um empecilho e não se pode confiar
> que apareçam se forem chamados.
> Colocar uma responsabilidade dessas sobre um radioamador é muito deslocado
> e injusto. Há dias um colega referia que apesar das associações
> desenvolverem algum trabalho, os voluntários não aparecem. Pouco me espanta.
> *(visão distorcida da realidade, há radioamadores que têm formação e
> treino em socorro, existem os disciplinados e aqueles que têm um
> voluntarismo acima do razoável, que aparecem quando são chamados - não
> tomar a parte pelo todo ou vice-versa!)*
> * *
>

Penso que não me expressei correctamente. Não pretendia queixar-me de nada
nem atacar ninguém. É evidente que há amadores com elevada sensibilidade e
competência para a protecção civil, tal como há radioamadores com brevet de
pilotagem de aeronaves. No entanto isso não confere à classe nenhuma
capacidade especial para nenhuma dessas actividades.
 O que eu  pretendia dizer é que enquanto classe, os radioamadores não têm
aquelas características. Não faz parte da sua formação nem prática
operativa desenvolver capacidades de protectores civis.
Quanto à disponibilidade, não me refiro a má vontade porque sei que nenhum
amador vira as costas numa situação séria, mas sim à natureza do
radioamadorismo. Os radioamadores não cumprem horários nem andam sempre na
vizinhança das suas estações, para iso há profissionais. Os meus
equipamentos estão desligados sempre durante 16 das 24 horas do dia, e sei
que isto é verdade para muitos de nós.

*
> *<...>
>
> Como se está a verificar hoje em dia nos EUA, as tais novas aquisições que
> fazem as delícias da ARRL têm contribuido pouco para o radioamadorismo. É
> um bando de protectores, eventualmente bem organizado mas muito mal
> informado, que obtêm as suas licenças de forma fraudulenta e impostora e
> que pilham os recursos dos radioamadores para fins que nada têm a ver com o
> radioamadorismo. São uns parasitas.
>  *(discordo deste fundamentalismo, há lugar para todos no Radioamadorismo
> para quê ter esta visão redutora? E em Portugal não houve fraude na
> obtenção de licenças?)
> *
>

Concordo que as fronteiras do radioamadorismo moderno não parecem ser muito
bem vincadas mas a definição legal é a da UIT e se reflectirmos um pouco
vemos que é bastante.
Não concordo que haja lugar para todos no radioamadorismo, e se eu quiser
montar um serviço de táxis utilizando o repetidor de VHF do Montejunto o
colega imediatamente me dará razão. É um exemplo extremo porque esbarra no
termo "pecuniário" da definição, mas parece que essa é a única fronteira
que todos parecem respeitar. As expressões "a instrução individual, a
intercomunicação e o estudo técnico" não parecem ter já significado para o
radioamador, pelo menos na opinião de muitos.
Quanto á fraude em Portugal, não comento. Estava a discutir aquela
usurpação e não esta.


> <...>
>
> Isto não quer dizer que os radioamadores não possam ter actividades desta
> natureza, quer por iniciativa própria em caso de necessidade quer quando
> solicitados. Não há amador que se negue a isso, tenho a certeza. Convém no
> entanto deixar claro que não é essa a sua função na sociedade.
> Tal como os militares podem ser chamados a apagar fogos nos casos mais
> graves no pino do verão, convém que se saiba que não é essa a função deles
> e que servem para outras coisas.
> *(isto já é contraditório, antes não "podiam apagar fogos" agora sim!!!!
> Em que ficamos?)*
>

Lamento, não vejo nenhuma contradição. Creio que fui explícito no que
disse.

 Mas então para que servem os radioamadores?
> Como aqui lembrou sabiamente o colega Gamito, servem para "se instruirem a
> si próprios, para se intercomunicarem e para efectuar estudos técnicos, a
> título unicamente pessoal e sem interesse pecuniário" *(esta é uma visão
> muito redutora e individualista, então existimos só para nos recriarmos? E
> o "apagar de fogos" que referiu antes?)
> *
>

Não falei em recreio, mas sim em trabalho. Auto-instrução e estudos
técnicos são coisas que exigem esforço e representam mais-valias para a
sociedade. Não percebo como se pode desprezar isto, que é afinal o mandato
que temos e a razão porque existimos.


> * *A sociedade, no seu todo, investe nisto alguns recursos e sem dúvida
> que espera resultados, que têm sido fornecidos ao longo dos anos. *(esta
> frase não a compreendo, mas afinal a "sociedade investe" em quem? Nas
> estações e equipamentos dos radioamadores investem, e muito, os próprios e
> sem deduções à colecta! "Resultados ... fornecidos ao longo dos anos", será
> que se refere ao auxílio dos Radioamadores nas emergências?)
> *
>

Que mais não seja, a sociedade investe em nós dando-nos espectro. Não só
espectro como dá aos CBs ou aos PMRs mas fatias boas e nobres em todo o
tipo de ondas que são usadas para radiocomunicações.
Com se viu em exemplos recentes, esse espectro é cobiçado e devemos
agradecer à UIT, isto é, aos governos dos estados membros, a sua manutenção
e até expansão.
No dia em que houver uma investida séria de algum interesse comercial para
tomar de assalto o "nosso" espectro, é bom que nós amadores nos lembremos
do retorno de investimento que prestámos à sociedade e que saibamos lembrar
disso os nossos governantes. E não me refiro ao auxílio dos radioamadores
nas emergências. Recordo que o maior e mais recente assalto ao nosso
espectro partiu de legisladores norte-americanos que pretendiam utilizar um
bom pedaço de espectro em UHF que incluia a totalidade da banda dos 70 cm
para montar uma espécie de Siresp à americana. Tudo em nome das
emergências, claro. Felizmente os nossos colegas da ARRL lá foram explicar
ao senhor como são as coisas e ficou tudo em águas de bacalhau. E tenhamos
cuidado, que por cá os nossos governantes também não estão a ficar mais
cultos com o passar do tempo.

* *Ainda recentemente houve mais um exemplo disso que vem bem a propósito
> aqui referir.
> Dos vários exercícios de protecção civil que vão ocorrendo ao longo do
> ano, houve um promovido ou organizado pelo SMPC de Sintra no qual
> participaram algumas organizações de radioamadores. Destas, houve uma que
> se destacou de forma muito proeminente ao proporcionar a transmissão de
> imagem através do repetidor de TVA de Sintra.
> Enquanto os outros vão lá fazer o mesmo que os protectores civis já fazem,
> e melhor, a LARS levou o produto dos tais "estudos técnicos" feitos por
> radioamadores ao conhecimento e à utilização em primeira mão pelos
> verdadeiros agentes de protecção civil, para que possam experimentar e ver
> e daí tirar as conclusões que entenderem.
> *(já percebi, então só vale quando Radioamadores mostram coisas novas nos
> simulacros. De resto é "deixar arder que o meu pai é bombeiro"? Também se
> deixa entender que é adepto da TVA, também gosto entre outras coisas, mas
> os estudos técnicos a inovação não podem ser guardados em "caixinhas", e
> quem os realiza não se pode colocar de parte na cidadania. *
>

Apre! Não se zangue!
Eu não tenho nada a ver com o evento em causa, não sou sócio da LARS e não
pratico TVA. Bolas, assim de repente tive vergonha do exemplo que dei, dos
feitos dos nossos colegas e cheguei a pensar inscrever-me na REP.

Olhe, não sei bem como explicar melhor esta, mas atendendo aos fins para
que foi criado o radioamadorismo acho que somos mais úteis a desenvolver
meios técnicos do que a debitar mortos e feridos ao microfone. No dia em
que aqueles a quem compete debitar essas coisas não o puderem fazer e me
pedirem para o fazer em vez deles, pois fá-lo-ei com gosto. E fá-lo-ei na
minha qualidade de radioamador, não de protector civil porque disso não
percebo nada.

<...>
>

Um feliz Ano Novo a todos.

73,
António Vilela
CT1JHQ
-------------- próxima parte ----------
Um anexo em HTML foi limpo...
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