ARLA/CLUSTER: O radioamadorismo e a "heresia" da protecção civil

AV radiophilo gmail.com
Sexta-Feira, 30 de Dezembro de 2011 - 00:57:59 WET


Há várias razões para este assunto da protecção civil incomodar os
radioamadores.

1. As comunicações de emergência não são actividades de radioamadorismo.
Embora desde sempre os amadores tenham usado os seus recursos para
interceptar, reportar e intervir em situações de emergência simplesmente
"porque podem", isso não torna essa actividade um fim do radioamadorismo.

2. Os radioamadores não são protectores civis.
Não têm formação, não têm treino, mas mais importante do que isso, não têm
disciplina nem disponibilidade nem, na maior parte dos casos, vontade. Em
ocorrências reais facilmente se tornam um empecilho e não se pode confiar
que apareçam se forem chamados.
Colocar uma responsabilidade dessas sobre um radioamador é muito deslocado
e injusto. Há dias um colega referia que apesar das associações
desenvolverem algum trabalho, os voluntários não aparecem. Pouco me espanta.

3. A julgar pela "voz do povo", os meios da protecção civil, quer oficial
quer amadora, estão infestados de gente que não merecem grande confiança.
Parece que este meio é conflituoso e cheio de esquemas, politiquices e
interesses.
A cada passo lemos aqui mensagens de colegas ou associações reclamando que
muito se prometeu e nada se cumpriu, que foram ou não foram convocados para
este ou aquele exercício, e também não faltam histórias de organizações que
"exploram" este mercado em benefício próprio ou de alguns.
Para muitos amadores, a ideia de se ver associado a semelhante cáfila é
assustadora.

4. Há pessoas que defendem a integração da protecção civil no
radioamadorismo. Trata-se de pessoas que já têm em si esse interesse e que
também são radioamadores. Pensam com toda a naturalidade que podem tirar
partido do dos meios do radioamadorismo para desenvolver as suas
capacidades protectoras, e fazem tudo para promover essa ideia.

5. Outras pessoas ainda, vêem na protecção civil uma forma adicional de
sustentar a sobrevivência do radioamadorismo, seja pela conquista de novos
praticantes com interesse nestas novas actividades, seja pela promoção da
ideia de radioamadorismo como serviço público.

O radioamador comum foge a sete pés destas coisas todas e com boas razões.

Como se está a verificar hoje em dia nos EUA, as tais novas aquisições que
fazem as delícias da ARRL têm contribuido pouco para o radioamadorismo. É
um bando de protectores, eventualmente bem organizado mas muito mal
informado, que obtêm as suas licenças de forma fraudulenta e impostora e
que pilham os recursos dos radioamadores para fins que nada têm a ver com o
radioamadorismo. São uns parasitas.

E quanto ao serviço público, também aí há umas palavras a dizer. Ninguém
espera que os radioamadores prestem este tipo de serviço. Os objectivos do
radioamadorismo estão bem definidos desde há 85 anos e não incluem a
prestação de serviços de comunicação a terceiros, mesmo de emergência. Esse
trabalho é responsabilidade de outros e não existe delegação aos
radioamadores para o executarem.

E é aqui que reside a heresia que tantos arrepios causa ao amador mais
corajoso quando se fala em "comunicações de urgência ou de emergência",
mesmo quando exercidas apenas voluntariamente por alguns radioamadores. Não
serão o CT1XXX ou CT2YYY a prestar esse serviço ou a efectuar essas
comunicações. Serão "os Radioamadores", e isso é que é intolerável para
muitos.
Aquilo que hoje é um gesto de boa vontade ou sobrevivência e demonstração
heróica de aptidões, amanhã é um serviço que se exige ser feito e que pode,
e deve, ser escrutinado.
Não tarda nada temos uma organização montada, com "listas, localizações,
meios, contactos", exercícios e avaliações, e até já aqui se sugeriu que a
isso somos obrigados pelo nosso novo regulamento.

Isto não quer dizer que os radioamadores não possam ter actividades desta
natureza, quer por iniciativa própria em caso de necessidade quer quando
solicitados. Não há amador que se negue a isso, tenho a certeza. Convém no
entanto deixar claro que não é essa a sua função na sociedade.
Tal como os militares podem ser chamados a apagar fogos nos casos mais
graves no pino do verão, convém que se saiba que não é essa a função deles
e que servem para outras coisas.

Mas então para que servem os radioamadores?
Como aqui lembrou sabiamente o colega Gamito, servem para "se instruirem a
si próprios, para se intercomunicarem e para efectuar estudos técnicos, a
título unicamente pessoal e sem interesse pecuniário"
A sociedade, no seu todo, investe nisto alguns recursos e sem dúvida que
espera resultados, que têm sido fornecidos ao longo dos anos.

Ainda recentemente houve mais um exemplo disso que vem bem a propósito aqui
referir.
Dos vários exercícios de protecção civil que vão ocorrendo ao longo do ano,
houve um promovido ou organizado pelo SMPC de Sintra no qual participaram
algumas organizações de radioamadores. Destas, houve uma que se destacou de
forma muito proeminente ao proporcionar a transmissão de imagem através do
repetidor de TVA de Sintra.
Enquanto os outros vão lá fazer o mesmo que os protectores civis já fazem,
e melhor, a LARS levou o produto dos tais "estudos técnicos" feitos por
radioamadores ao conhecimento e à utilização em primeira mão pelos
verdadeiros agentes de protecção civil, para que possam experimentar e ver
e daí tirar as conclusões que entenderem.

É para isto que servem os radioamadores.

73,
António Vilela
CT1JHQ


2011/12/26 CT1GZB - José Luís Proença <ct1gzb  netcabo.pt>
<...>
Não consigo entender que colegas achem uma “heresia” que alguns
radioamadores queiram voluntariamente se dedicar às comunicações de
emergência e urgência.
 <..>
-------------- próxima parte ----------
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