ARLA/CLUSTER: Parabéns por partilharem connosco as vossas ideias e inquietações que são também as nossas.

ARLA - Associação de Radioamadores do Litoral Alentej ARLA - Associação de Radioamadores do Litoral Alentej
Terça-Feira, 30 de Agosto de 2011 - 23:38:50 WEST


Caros Colegas,

Não podia, como um dos responsáveis pela moderação desta lista, deixar
passar em claro estes dois cuidados textos do Paulo Pinto (CT1ETE) e
do António Vilela (CT1JHQ), pois são do melhor que até hoje este
espaço já acolheu e eu particularmente tive oportunidade de ler aqui.

Não é técnica radioelectrica, mas é uma coisa tão ou mais importante
que isso, é literalmente «amor à sabedoria» onde se  fundamenta a
existência do nosso passatempo e quiçá, modo de vida; é o
conhecimento, é a verdade, são os valores morais e éticos, é
simplesmente a filosofia do radioamadorismo..

Se é importante a agua pura para nos matar a sede física, então tão ou
mais importante é a "agua da alma", e que enormes fontes tem o António
Vilela e o Paulo Pinto para nos dar a beber.

Parabéns por partilharem connosco as vossas ideias e inquietações, que
são também as nossas.

João Costa (CT1FBF)
Moderador da Lista ARLA/CLUSTER

Re: ARLA/CLUSTER: A boa educação dos "five nine"
CT1ETE Paulo Pinto ct1ete gmail.com
Terça-Feira, 30 de Agosto de 2011 - 21:31:34 WEST

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Vilela,

Obrigado pela continuação e aprofundamento tão brilhante da ideia veículada
no meu último *post*. Há algo que sempre me intrigou: sendo o nosso "acervo
humano" tão heterogéneo, porque não se realiza um trabalho multidisciplinar,
a larga escala? Mitigar-se-iam as debilidades inerentes a cada um de nós.
Provavelmente, os tempos modernos, não o permitem.

Abraço e 73
Paulo, CT1ETE

No dia 30 de Agosto de 2011 20:53, AV <radiophilo  gmail.com> escreveu:

> Sábias palavras, meu caro Paulo Pinto,
>
> Gostaria de continuar onde terminaste e o que a seguir vai é também um
> complemento a textos aqui escritos pelos colegas Sérgio Matias, Pedro
> Ribeiro, João Costa e Carlos Mourato, entre outros, que abordam os ataques
> comerciais, industriais e legislativos ao espectro radioeléctrico neste
> momento atribuido aos radioamadores.
>
> O espectro radioeléctrico é administrado pelas nações. Cada uma tem a
> responsabilidade, e o direito, de regular a sua utilização de acordo com os
> seus interesses, em conformidade com as leis nacionais e no respeito das
> convenções internacionais.
>
> O sucesso de em 1927, durante a conferência internacional de Washington, o
> radioamadorismo ser internacionalmente reconhecido como um serviço
> radioeléctrico organizado e regulado é algo notável. Devemos esse
> reconhecimento aos esforços das delegações da ARRL, IARU e EUA a essa
> conferência, entre outros. Desse reconhecimento resultaram atribuição de
> direitos e recursos, como sejam algumas faixas no espectro radioeléctrico.
>
> Poderia pensar-se que essa dádiva teve um carácter benevolente ou
> condescendente, mas não foi esse o caso. Os radioamadores, apesar do seu
> carácter não comercial totalmente oposto ao grosso dos serviços então
> regulamentados, eram muito bem vistos por vários motivos:
>
> 1. O radioamadorismo fornecia às nações grandes quantidades de operadores
> qualificados, não só várias vezes requisitados para as fileiras militares
> durante os tempos de guerra, mas também muitas vezes constituindo o núcleo
> inicial de novos serviços de comunicações.
>
> 2. O radioamadorismo oferecia nesses tempos serviços públicos inigualáveis.
> Sem qualquer investimento ou custo para os estados, o colectivo radioamador
> proporcionava redes de comunicações muito fortes, seguras e fiáveis que
> cobriam grandes distâncias e atravessavam vários segmentos da sociedade,
> desde o acompanhamento de explorações científicas, comunicações de
> emergência e pontuais para redes ferroviárias, difusão de notícias on
> informações de grande relevãncia, e até colaboração técnica com forças
> militares.
>
> 3. Os radioamadores contribuíam forte e desinteressadamente para o
> desenvolvimento da técnica radioeléctrica em geral, constituindo um polo de
> progresso a ser explorado pelos restantes sectores das sociedades.
>
> Estes trẽs pontos contituem, na minha opinião, o contrato colectivo
> original dos radioamadores com a sociedade. Apesar de todas as mudanças que
> o mundo em geral, e o universo das comunicações, sofreram, estas continuam a
> ser as razões nucleares pelas quais os estados se têm disposto a investir no
> radioamadorismo parte do seu precioso recurso natural, que é o espectro
> radioeléctrico.
>
> Ora isso pode mudar por vários motivos e creio que temos assistido em
> tempos recentes a várias mudanças significativas.
>
> Por um lado, as sociedades ocidentais têm vindo a trocar o conceito de
> propriedade pelo de gestão ou administração. Embora os estados detenham
> ainda toda a soberania na administração do espectro radioeléctrico, o seu
> exercício carece agora de alguma negociação e transparência. Mais ainda, os
> critérios por que se rege esta gestão são agora mais liberais e de carácter
> económico do que antes.
> Acrescenta-se ainda a este lado da equação, a pressão exercida por diversos
> interesses económicos.
>
> Por outro lado, a contribuição absoluta, e a importância relativa do
> radioamador para a sociedade parece ter diminuido substancialmente nas
> últimas duas décadas, não só pela sua despromoção, mas também pelos
> desenvolvimentos fantásticos nos sectores das comunicações públicas.
> Hoje, os radioamadores andam com frequência a reboque de vários outros
> sectores das comunicações. Pior ainda, os progressos que os radioamadores
> experimentam não são explorados em todo o seu potencial, antes pelo
> contrário.
> As técnicas são simplificadas, formatadas e pré-construidas, para poderem
> ser acessíveis. Muitos de nós, quiçá a maioria, não dispomos de
> conhecimentos, tempo, e energia para compreeder e manipular as técnicas
> radioeléctricas que utilizam. Nem a vida moderna permite, nem isso nos é
> exigido.
>
> Também ao nível das comunicações de emergência os radioamadores são uma
> fraca alternativa. Hoje muitos países dispõem já de estruturas de
> radiocomunicações de emergência profissionais, com meios modernos, treino
> adequado e regularmente exercitadas. Os amadores podem apenas contar a seu
> favor com o seu grande número.
>
> Penso que a nossa resistência aos ataques que se têm sucedido, alguns ainda
> em curso, e aos que irão ainda surgir, depende em grande medida da nossa
> capacidade de mostrar à sociedade que ainda somos úteis e que a rescisão do
> nosso contrato será uma perda para todos.
>
> Neste panorama, o abandono das nossas faixas, a CBização do
> radioamadorismo, a despromoção técnica do radioamador, a proliferação do
> radioamadorismo desportivo e exclusivamente lúdico, e ainda a vulgarização
> da linguagem e a relativização da ética entre os radioamadores, só nos pode
> trazer prejuízos.
>
> Repetindo a tua importante conclusão: "Acho que é tempo de justificarmos os
> privilégios que nos são concedidos".
>
> 73,
> António Vilela
> CT1JHQ
>
> Caros Colegas, ****
>>
>> ** **
>>
>> Permitam-me algumas considerações em relação à questão levantada. ****
>>
>> ** **
>>
>> Em primeiro lugar, penso existir na sociedade - e consequentemente no
>> espectro radioeléctrico - uma grande falta de ética e deontologia. Não será
>> necessário dar exemplos do que afirmo, pois todos nós conhecemos sobejamente
>> casos de atropelos, faltas de respeito e imoralidades nas mais diversas
>> áreas da vida social. Em tempos, algo longínquos, estava convencido que a
>> classe dos radioamadores formava um grupo de pessoas que pugnava pela
>> diferença, constituindo-se como uma pleiade de indivíduos que nutrem
>> respeito pelos seus pares e desenvolvem os seus projectos dentro do que são
>> as suas apetências, enquadradas pela lei. Não sendo eu um radioamador antigo
>> - e não podendo falar com conhecimento de causa dos anos anteriores aos 90
>> -, tenho vindo a verificar uma degradação do respeito e da camaradagem entre
>> nós. Este comportamento é concomitante com a sociedade em geral, o que me
>> sugere ser o radioamador do presente um reflexo do nosso sistema educacional
>> e do nosso sistema de valores. Se, na pós-modernidade, a crise é mais de
>> valores do que económica, o resultado só pode ser o descrito pelo colega
>> Mourato.****
>>
>> ** **
>>
>> Em segundo lugar, gostaria de abordar a questão da abordagem ao
>> radioamadorismo. Ninguém discordará do colega António, CT1TE, e da paixão
>> com que coloca a tónica no espírito de partilha técnica e de enriquecimento
>> pessoal que outrora era apanágio das bandas, como ninguém discordará das
>> vantagens de um concurso de DX, no que traz de desafiador para quem gosta de
>> investigar sistemas radiantes ou padrões de propagação. ****
>>
>> ** **
>>
>> Por último, teço duas considerações finais.****
>>
>> ** **
>>
>> A primeira tem a ver com a minha experiência pessoal. Tendo começado nas
>> bandas amadoras por ser um amante da "caça" às novas entidades DXCC e dos
>> concursos (não todos!), senti a necessidade de enriquecer os meus
>> conhecimentos técnicos e poder desfrutar de algo que para mim é
>> gratificante: a satisfação que o conhecimento proporciona. Entrando por
>> determinada porta, cedo me apercebi da dimensão do que se me deparava.
>> Aspirarei sempre a mais, ciente que as nossas capacidades permanecem, *grosso
>> modo*, inexploradas. ****
>>
>> ** **
>>
>> A segunda tem a ver com o respeito de que falava no início. Não percebo
>> porque é que as discussões têm que acabar sempre em desavenças entre os
>> participantes. Saber discutir as diferentes opiniões com abertura suficiente
>> para delas retirarmos novas ideias que nos façam questionar as nossas
>> posições é algo que demonstra inteligência. Não estou a querer dizer que
>> devemos entrar na lógica da relativização, onde tudo tem cabimento, pois
>> dessa forma cada opinião tem o mesmo valor. Estou a querer dizer que não
>> devemos prescindir das nossas mais profundas convicções, desde que tenhamos
>> sabido "digerir" outras posturas, ideias e sugestões. Se tudo for efectuado
>> dentro dos padrões éticos e do respeito mútuo, parece-me que estaremos no
>> bom caminho para mudarmos alguma coisa. Reconheço ser necessária uma boa
>> dose de paciência para lidar com algumas situações, mas, mais uma vez,
>> sempre foi e será assim em toda a actividade do ser social. Daí resultarão,
>> naturalmente, os grupos de afinidades. E se se estabelecerem pontes entre
>> esses grupos, tanto melhor.****
>>
>> ** **
>>
>> Gostava de ver uma sã convivência entre os que nutrem carinho pelo
>> radioamadorismo e que estão no *hobby* com nobres interesses. Acho que é
>> tempo de justificarmos os privilégios que nos são concedidos.****
>>
>> ** **
>>
>> Com os meus melhores 73,****
>>
>> CT1ETE, Paulo Pinto****
>>
>> --
>> Fonte: *:* ct-comunicacoes-e-tecnologias *Em nome de *CT1ETE Paulo Pinto
>>
>> ****
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