ARLA/CLUSTER: A boa educação dos "five nine"

João Gonçalves Costa joao.a.costa ctt.pt
Segunda-Feira, 29 de Agosto de 2011 - 10:51:16 WEST


Bom dia.

Ora então, vamos lá ver.

O assunto é delicado, mas vou tentar exprimir-me de modo a poder defender as duas partes, pois sou adepto da ambas.
Tanto gosto de estar nos 80m ou 40m a falar com um colega durante  horas sobre qualquer assunto, técnica de preferência, como estar 48 horas em frente ao rádio e dar 3 mil five-nines  seguidos.

Compreendo que haja gente que simplesmente não goste de participar em competições, nem sequer assistir.

Compreendo que nos maiores concursos internacionais haja abusos  e quer queiram quer não, acabam por ocupar a banda toda.

Deixem-me falar um pouco desse malta dos contests:
Na verdade,  para muitos colegas os concursos são actividades extremamente excitantes e mobilizadoras.
Eles constituem equipas, grupos, clubes, formam associações, compram terrenos (antenna-farms) registam propriedades,
compram equipamentos de topo: Rádios, Lineares, Antenas etc etc.
Como se pode calcular, um investimento largo e sério. 

Mesmo para participar num ou dois eventos anuais, levam um ano inteiro de preparação, treino de operação (CW) e optimização das estações.
Trabalham em grupo, repartem tarefas e despesas e dedicam horas e horas do seu tempo ao longo do ano, para passarem 48 a dizer 59.
Muitas das equipas têm as estações no estrangeiro, ou longe de casa, ainda assim têm de se deslocar de avião com todas as tralhas atrás. 
Quando tive oportunidade de conhecer e participar num destes contestes, fiquei deveras impressionado com a dedicação desta gente. 

Não se trata de apenas de fazedores de 59, muitos deles na verdade carregam uma notável experiência em estudos  propagação, ganhos de antenas, diagramas de radiação, além dum talento impressionante para operar em alta-velocidade tanto SSB/CW etc.

Nada é deixado ao acaso, as estações mais dedicadas têm mapas e tabelas com previsões detalhadas e rigorosas da propagação. 
Os equipamentos que usam, são testados nesses regimes de trabalho intenso durante 48h e assim obrigam os fabricantes a ter exigências na robustez dos emissores e na performance dos receptores.

No fim, acabei por modificar a minha opinião sobre os contesters, e desde então, respeito-os muito mais.
Quem não gosta de contestes, pois têm esse direito e muitos mais que isso, tem os outros todos 48 fim-de-semana sem concursos
para as suas actividades, plenamente tranquilo.

Julgo que muitas vezes tratamos com alguma injustiça os contesters, pois devemos a eles muita da tecnologia e saber
que hoje temos como adquirida entre os amadores.

Não me parece que os naturais abusos que há nos contests sejam tão prejudiciais assim, que mereçam ser discriminados.
Basta pormo-nos  no lugar deles: se andar-mos um ano inteiro a preparar a estação para aquele evento especial, o que fariam se aparecesse um OM a ralhar convosco, porque ele costuma lá estar todos os dias naquela QRG a falar com outro.

Em Portugal por exemplo, só há 5 canais,
 canal 1- 3,727,
 canal 2- 3,756; 
 canal 3 -3,769  ; 
 canal 4 -7,060 ,
 canal 5 14,175.

Não há mais frequências, ou  pelo menos, é aqui que se passa quase todo o tráfego em português. 

Ora se vir-mos bem, o OM que lá fala todos os dias é que anda a abusar, pois já pensa que a frequência é dele e não a quer partilhar com ninguém, nem que seja um dia por ano.

É isso mesmo, haja tolerância...

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Bom fim-de-semana.


Fonte: : ct-comunicacoes-e-tecnologias






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