ARLA/CLUSTER: Fragata D. Fernando II e Gloria - CS5DFG

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Segunda-Feira, 24 de Maio de 2010 - 17:36:51 WEST


Para os colegas interessados, aqui vai alguma informação, extraída da
Revista de Marinha, última edição, a qual  poderá eventualmente tirar
dúvidas a quem as tiver.

A Fragata D. Fernando II e Glória em Cacilhas

Desde 26 de Novembro de 2007 que a Fragata D. Fernando II e Glória se
encontra em doca seca, na doca nº2 da "Parry & Son" em Cacilhas.

Após mais de doze anos a flutuar e a sofrer as agruras da impiedosa força do
Sol, do vento e da chuva no seu casco de madeira e demais estruturas, houve
naturalmente que a conduzir a local onde pudesse ser convenientemente
reparada.

Ao celebrar com a Câmara Municipal de Almada e com a AGII Atlântico um
protocolo, a Marinha de Guerra Portuguesa encontrou uma solução para uma
docagem de longa duração, que permitirá efectuar uma reparação de fundo no
casco e uma melhoria de todo o aparelho desta histórica "Nau", ao mesmo
tempo que se mantém aberta a visitas do público interessado.

Antes de abordar o momento actual da Fragata, vejamos como tudo começou:

Corria o ano de 1821 quando o Intendente da Real Marinha de Goa e Inspector
dos seus Arsenais, Cândido José Mourão Garcez Palha, propôs a Lisboa, por
intermédio do Governo-geral, a construção de uma Fragata em Damão.

Com a natural dificuldade de comunicações da época só em 1824 se recebeu de
sua Majestade o Rei D. João VI, a autorização para tal empreendimento,
ficando-lhe desde logo afectados os rendimentos do tabaco e outros meios a
disponibilizar no ano seguinte.

As razões apontadas para a construção do navio em tão longínquas paragens
assentavam no facto da mão de obra ali ser mais barata, haver experiência de
construção e ainda ao facto importantíssimo de Damão estar muito perto de
Nagar-Aveli e este enclave possuir uma imensa floresta de Teca, óptima
madeira para a construção naval.

Sabemos que foram derrubadas mais de 3.700 árvores para a construção do
navio, facto que nos nossos dias seria impensável, não só pelo custo da
madeira mas acima de tudo por questões de preservação de uma espécie vegetal
ameaçada de extinção.

Passando por várias vicissitudes decorrentes das lutas liberais e
consequentes dificuldades politicas e orçamentais no Reino, a construção
deste navio nos estaleiros Reais de Damão esteve parada por diversas vezes
até que numa última arrancada se conseguiu aprontar e lançar ao mar em 1843.
De Damão seguiu em guindolas para Goa onde recebeu então a sua mastreação e
armamento.
Em 2 de Fevereiro de 1845 partiu de Goa para a sua viagem inaugural tendo
chegado ao quadro dos navios de guerra no Tejo em 4 de Julho do mesmo ano.

Navegou durante 33 anos efectuando numerosas viagens entre Lisboa e os
territórios portugueses de além-mar, transportando todo o género de
mercadorias, passageiros, degredados e respectivas famílias e também
dignitários do Estado que iam tomar posse de lugares da administração
pública nos confins do Império ou que dali regressavam.

Em 1889 foi o navio transformado para servir como Escola de Artilharia.

Em 1938, depois de ter sido também prisão para crimes políticos e local de
julgamento de crimes dessa natureza, serviu como Navio Chefe das Forças
Navais do Continente.

Em 1940 recebe novas adaptações para ser a sede da Obra Social da Fragata D.
Fernando e é nessa situação que se encontra em 3 de Abril de 1963.

Neste desditoso dia, quando se procedia à soldadura de um tanque de gasóleo
sem que fossem observados todos os preceitos de segurança, deflagra um
pavoroso incêndio que lhe consome uma grande parte do casco e das
superstruturas.

A bordo estavam 137 jovens que aprendiam o ofício de Marinheiro os quais
foram todos salvos embora alguns sofressem pequenas queimaduras e ferimentos
ligeiros.

A Obra Social passou depois para instalações em Setúbal para onde os jovens
foram transferidos.

Entre os muitos actos de abnegação e coragem verificados durante o combate
ao incêndio, figura um, descrito no Diário de Noticias de 4 de Abril, que dá
conta da acção desenvolvida por dois Mestres de rebocadores e por três
Bombeiros dos Voluntários de Almada os quais, vendo que a Bandeira Nacional
estava prestes a ser consumida pelas chamas, se prontificaram para a
"salvar". Assim num ambiente de incêndio, enquanto os dois Mestres
movimentavam a adriça para arriar a Bandeira, os Bombeiros perfilados e em
Continência, indiferentes às chamas e ao denso fumo que já os envolvia,
prestavam a última guarda de honra à Bandeira que ali drapejava há muitos e
muitos anos.

Após o incêndio, a Fragata foi rebocada para zona onde não perturbasse a
navegação no Tejo e permaneceu adornada sobre Bombordo e meio enterrada no
lodo durante cerca de 29 anos.

O intuito de muitos Marinheiros foi desde logo conseguir a sua recuperação
mas os crónicos problemas financeiros e, admitamos, o imenso trabalho que a
obra requeria foram desvanecendo o sonho e enfraquecendo a vontade de quase
todos.

[image: D.FERNANDO-1]O então Comandante António Andrade e Silva foi no
entanto um dos que nunca esmoreceu. Muitos fins de semana, ao leme do
pequeno veleiro "O Vadio", herdado de seu pai, conduzia a sua família para
junto do que restava da velha "Nau" e por vezes, ali atracavam, comiam o
farnel preparado para a ocasião e os mais novos escutavam fragmentos da sua
história.

O Tiago, com a imaginação fértil de um garoto de 4 ou 5 anos, tocado pelos
elementos históricos relacionados com o grande veleiro, julgava até já ter
chegado à Índia.

    Doca nº 2 de Cacilhas - Ex-Parry & Son
     Em Outubro de 1990 foi constituída uma Comissão Executiva com o
objectivo de "promover, dinamizar e acompanhar a execução do projecto de
recuperação da fragata D. Fernando".

Como Chefe do Estado-maior da Armada, o Almirante Andrade e Silva, em nome
da Marinha assinou em 2 de Outubro de 1990, a bordo do N.E. Sagres, um
protocolo com a Comissão Nacional para as comemorações dos Descobrimentos
Portugueses tendo em vista a recuperação da Fragata. Seguiram-se apoios
governamentais e foi-se reunindo o suporte financeiro Mecenático de várias
Instituições públicas e privadas e de muitas entidades particulares.

No dia 20 de Janeiro de 1992, após uma operação muito trabalhosa, foi
arrancado do lodo e posto a flutuar o casco da D. Fernando o qual, depois de
operações difíceis e morosas de limpeza e selecção de madeiras, haveria de
ser colocado, meses depois, a bordo da doca seca flutuante do Arsenal do
Alfeite e rebocado para o cais do porto de Aveiro onde deu entrada em 01 de
Outubro. Vencidos inúmeros obstáculos processuais, os estaleiros da Ria
Marine em Aveiro iniciaram finalmente em 5 de Julho de 1993 os trabalhos de
restauro que iriam demorar 5 anos.

Em 28 de Abril de 1998 o navio é reintegrado na Marinha de Guerra Portuguesa
como Unidade Auxiliar (UAM 203).

Por Despacho do CEMA de 12 de Agosto de 1998 a "D. Fernando" é atribuída ao
Museu de Marinha depois de ter sido considerada Navio Histórico da Marinha
pelo Decreto-Lei nº188/98 de 10 de Julho.

Durante a sua estadia na EXPO 98 a Fragata foi visitada por quase 900.000
pessoas, tendo recebido os maiores elogios, marcando de modo significativo a
presença da Marinha naquele certame Internacional.

Após este período de exposição o navio andou um pouco por todo o lado;
esteve na Doca de Marinha, na doca do Espanhol, no Arsenal do Alfeite e
finalmente entrou em 26 de Novembro de 2007 na doca seca onde se encontra.

Os problemas de fungos, bactérias e cogumelos que durante algum tempo o
atormentaram estão debelados. Uma vez instalado um sistema de ventilação do
porão não mais se pensou nesses aborrecidos problemas.

Procede-se no momento às operações de montagem de aparelho fixo no gurupés e
na bujarrona de forma a permitir a prossecução dos trabalhos de montagem do
arvoredo que lhe falta e que lhe pertence.
Prosseguem os trabalhos de reparação do calafeto do convés e de beneficiação
de Mastaréus e vergas. A ETAR existente a bordo vai ser objecto também de
uma beneficiação. A pintura da borda interior está a ser melhorada, havendo
ainda que contar com a indispensável substituição de todos os oleados que
cobrem as escotilhas do convés. Todo este material tem cerca de 12 anos e dá
mostras de já ter ultrapassado o seu tempo útil de vida.

Desde 1 de Março de 2008 a Fragata-museu recebeu mais de 31.000 visitantes e
recolheu cerca de 50.000 Euros de receitas, sendo certo que tem recebido
muitos visitantes de modo gracioso.

Acredita-se que a missão da Fragata está a ser cumprida a julgar pelas
inúmeras referências elogiosas que tem ficado averbadas no Livro de
Visitantes.

Tem sido recebidas igualmente numerosas provas de carinho por parte da
Câmara Municipal de Almada a qual tem sido incansável para acorrer a todas
as solicitações que lhe tem sido colocadas e daí que estamos certos que o
navio se encontra bem em Almada e que aqui deverá continuar enquanto for
essa a vontade das partes interessadas e, fundamentalmente, enquanto for
procurado como destino turístico e cultural.



* *

*NOTA do Remetente:*

*Em 2008, após autorização das autoridades competentes, o Núcleo de
Radioamadores da Armada - NRA, instalou a bordo – sob sua responsabilidade -
uma Estação de Amador  com o indicativo então temporário CS8DFG, tendo em
2009 obtido o permanente CS5DFG.*

*Esta estação estará ao longo do ano, aleatoriamente activa, sendo sempre
que possível dado disso público conhecimento. *

*Até 2011 o responsável pela estação é o colega António Gamito – CT1CZT.*

* *

*O Navio já não navega. Está ali como museu da nossa história naval.*

*Está aberto a visitas todos os dias excepto à segunda-feira.*

*A entrada carece de um pagamento simbólico de 2 ou três euros;*

*O Horário é das 0900 às 1700H*
*Para mais  informações contacte o navio através do nº: 917 481 149*

Cumprimentos Radionavais a todos
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