Re: ARLA/CLUSTER: Concursos SÓ em SSB?

Miguel Andrade ct1etl gmail.com
Terça-Feira, 29 de Junho de 2010 - 15:41:57 WEST


Caros colegas,

Vamos lá a ver se isto corre bem, porque nunca tentei responder a um
tópico a partir do serviço ligado à Internet. De qualquer forma, a
propósito da resposta do Matias, aqui vai o que penso, reforçando um
pouco o que o Bruno argumenta.

Apesar da divertidíssima metáfora, a qual deve ter feito as delícias
de muitos leitores, há umas quantas ideias-chave que merecem alguma
reflexão mais séria e empenhada.

Esta alegoria pode certamente, em primeiro lugar, criar alguma
controvérsia desnecessária, dado que o ponto de vista expresso " tem
uma banda passante muito estreitinha " e sobretudo porque utiliza uma
figura equídea algo polémica na tradição popular.

Em primeiro lugar torna-se óbvio que, em termos técnicos, o ponto de
vista expresso é de facto muito correcto. É impensável e indefensável
qualquer argumento que procure contradizer as inúmeras vantagens da
telefonia em Banda Lateral Única, quando comparada com a telefonia em
Frequência Modulada. E neste aspecto tanto nos poderemos referir em
termos das diferenças de alcance teórico possíveis ( com a actual
tecnologia ) como na utilização mais ecológica e eficaz da energia.

Ainda assim, há um número de realidades que deveriam ter sido
igualmente ponderadas.
De entre muitas ideias úteis para debate aqui ficam as principais :

a) Não é simples, nem rápido, nem fácil ( sobretudo em momentos de
crise ), contrariar o conformismo, incentivar a mudança ( mesmo para
melhor ) ou promover o progresso.

E porquê ?
Porque está muito em jogo.

. Os custos dos equipamentos com outras formas de emissão para além da
Frequência Modulada são desmotivadores para a maioria.

. Comparativamente com o tráfego das comunicações VHF em FM ( em parte
devido aos repetidores ), fora dos concursos e das eventuais aberturas
de propagação, os 144,300 MHz e frequências habitualmente usadas em
SSB " são um deserto despido de vida ".

. A Banda Lateral está desvirtuada pela retrógrada ideia de que é uma
forma de emissão do passado, nomeadamente quando comparada com a "
moderna " tecnologia de Frequência Modulada.

. A legislação anterior era muito restritiva neste aspecto para os
utentes da antiga Categoria D ( e mais tarde para os da antiga
Categoria C ).

. Todos os utentes que operam nas faixas dos 2 metros e dos 70
centímetros possuem um equipamento para FM, muitas vezes portátil, mas
só uma minoria tem a curiosidade de se informar sobre o que poderia
ser explorado em SSB.

. Até recentemente poucos respeitavam, em Portugal, as recomendações
da I.A.R.U. ( mesmo actualmente continuam a ter lugar diariamente os
QSO's locais em 144 MHz, utilizando-se para tal a Frequência Modulada
em canal de banda larga ).

. Há a ideia errada de que, para se operar em SSB acima dos 30 MHz,
tem que se dominar línguas estrangeiras, pois todos os contactos são
em DX internacional.

. Etc, etc, etc.


b) Sem a possibilidade de se operar em FM nos concursos, estamos a
vedar o acesso aos mesmos a uma quantidade de participantes muito
superior aos actuais detentores de meios para operarem em SSB.

Os concursos têm que ser " democráticos " e incentivarem a prática das
radiocomunicações.

. É mais útil e importante poderem todos ter a alegria de fazer rádio,
do que restringir essas oportunidades a quem possua os meios mais
adequados.

. Os concursos não são só competição ( ou não deveriam ser vistos
assim por quem organiza e por quem neles participa ).

. Num concurso os participantes podem aprender com a experiência. Quem
achar que gostaria de pontuar melhor, rapidamente compreenderá que a
polarização e o modo de transmissão contam tanto como a amplificação (
tanto da potência de emissão como para a qualidade da recepção )...
para além de uma antena eficaz, obviamente. De uma forma natural e
tranquila, os mais competidores adoptarão, por si e sem " pressões ",
a metodologia que virem ser mais convincente e útil para aumentarem os
alcances da sua estação.

. O real valor da Banda Lateral única começa na recepção dos sinais
mais débeis. Quem participa apenas pelo gozo de fazer uns quantos
contactos, não está preocupado com sinais débeis nem sobe, bem
equipado, às altitudes mais elevadas.


c) Deveremos considerar os operadores desta ou daquela forma de
emissão como " Radioamadores de segunda " ?

Essa ideia pode equivocar muitos dos leitores devido à forma como uma
das figuras equídeas representa o utilizador de FM em concursos.

. Operar apenas em Frequência Modulada pode ser apenas uma questão
financeira. Durante alguns anos possuí apenas um equipamento de 20
watts de potência de emissão na faixa dos 10 metros e um portátil FM
para a faixa dos 2 metros... porque não tinha disponível a quantia
necessária para adquirir um ambicionado multibanda, abaixo dos 30 MHz,
e um multimodo, acima dos 30 MHz.

. Operar num determinado modo de emissão não é sinónimo de maior ou
menor conhecimento técnico, maior ou menor qualidade do operador. Há
QSO's em FM tão ou mais eruditos ( ou tecnicamente interessantes ) do
que em SSB abaixo dos 30 MHz ou em qualquer modo de emissão acima dos
440 MHz.

. Há quem assuma o gosto pela operação em FM, apesar de operar em SSB
também e de reconhecer à Banda Lateral Única as virtudes e vantagens
em relação ao anterior.


d) Só precisa de um carro para competir na Fórmula 1 quem gosta de
emoções fortes ( e tem capacidade financeira para arcar com os
encargos de conduzir um bólide topo de gama ). Para evitar o trânsito
à entrada de uma grande cidade num dia de semana... é mais eficaz um
burro do que um Ferrari desportivo topo de gama.

O gosto pela evolução e o empenho que cada um demonstra em progredir é
individual e deve ser respeitado.

. Nem todos ambicionam comunicar através de reflexão lunar, fazer DX
intercontinental em telefonia nos 135 KHz, escutar sondas espaciais
longínquas, bater recordes de distância em 245 GHz, fazer televisão de
alta definição em 10 GHz, montar no " jardim " uma antena Yagui-Uda de
4 elementos para a faixa dos 160 metros, receber os seus próprios
sinais reflectidos em Marte ou operar com 100 W acima dos 275 GHz.
Mesmo o colega que há 25 anos não faz outra coisa senão cavaquear
sobre trivialidades na estação repetidora local em FM, na faixa dos 2
metros... deve merecer todo a nossa consideração.

. Hoje em dia, infelizmente nem todos se podem dar ao luxo de ter um "
quarto de rádio ", uma bancada, ferro de soldar... ou uma estação bem
equipada para concursos. Outros nem fazem sequer tenção de adquirirem
essas condições. Serão uns menos radioamadores do que os demais ?
deverão os concursos deixá-los de fora ?
Penso sinceramente que não.

Em resumo : O Radioamadorismo deve ser uma festa pluridisciplinar.

73's de Miguel Andrade ( CT1ETL )
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2010/6/28 Bruno Luengo <brujomolu  yahoo.com.br>
>
> Venho por este meio mostrar o meu descontentamento para com as associações que organizam concursos só em SSB. Então e os "pobres" que como eu só têm FM? Eu gosto de participar nos concursos, nem que sjea só pela desportiva, mas só em SSB? Pensem um bocadinho e depois digam alguma coisa.
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