ARLA/CLUSTER: O que esta acontecendo com as rádios de onda curta ?

João Gonçalves Costa joao.a.costa ctt.pt
Segunda-Feira, 12 de Julho de 2010 - 19:14:54 WEST


Há 25 anos atrás a onda curta era a fonte preferida para obter-se informações e
noticias internacionais mais utilizadas pelos meios de comunicação em todo o
mundo.

Praticamente 24 horas por dia o serviço mundial da BBC de Londres mandava
informações para os quatro cantos do mundo principalmente a noite na frequência
de 6.175 kHz. Juntando-se a BBC estava a Rádio de Moscou que era porta voz do
antigo regime comunista que imperava no pais. Dentre as mais conhecidas na época
estavam a rádio Voz da América, Rádio Netherlands, Deutsche Welle (direto da
Alemanha), e também a Rádio Berlin internacional.

Se quiséssemos saber o que estava acontecendo em Cuba, Bombay (atualmente
Mumbai), e Tel Aviv, bastava sintonizar diretamente a Radio Havana ou a radio
Kol em Israel.

Naquela época a BBC estimou uma audiência de mais de 120 milhões de ouvintes
semanais em todo o mundo. As pesquisas mostraram também que a maioria desta
audiência se encontrava fora dos Estados Unidos. Mas na época que não existia a
internet nem rádios nem TV via satélite a onda curta era o local onde milhares
de cidadãos Americanos buscavam suas informações.

Faça um teste e observe os sinais recebidos nas faixas de ondas curtas e você
Radioamador e Radio escuta observara que estas faixas mudaram muito. Nos Estados
Unidos e na Europa algumas das principais emissoras simplesmente desapareceram
ou reduziram seus horários de transmissões. Atualmente o serviço mundial da BBB
não transmite sua programação em onda curta para a America do Norte e para a
Europa. Tivemos um baixo índice de audiência nas faixas de onda curta nos
continentes Europeus e Norte Americano disse Andy Sennitt. Andy e um dos
pesquisadores de onda curta mais respeitados em todo o mundo e trabalha como
editor chefe da Radio Netherlands que mantém a pagina Media Network na internet.

Media Network iniciou seus trabalhos em 1981 com um programa de onda curta
semanal. Este programa chegou ao fim no ano 2000 e atualmente pode ser ouvido
somente via internet.

É muito fácil culpar a internet e a TV via satélite pela diminuição da audiência
nas freqüências de onda curta. Mas o que ninguém sabia é que a onda curta já
possuía seus próprios problemas e necessitava de atualizar-se para sobreviver em
nosso meio tão evolutivo, disse Larry Magne.

Larry Magne era produtor da revista Passaport to World Band Radio que era um
guia de freqüências que continha todas as estações de onda curta em todo o
mundo. Esta revista circulava nas bancas em vários países e por 25 anos nos
ajudou na busca de rádios mas encerrou sua publicação no ano de 2009.

Alcançamos o pico de audiência das rádios de onda curta no ano de 1989 quando
aconteceu o fim da guerra fria, disse Larry Magne. A partir deste ano as
audiências nas freqüências de onda curta diminuíram bastante.

A transmissão em onda curta e nas faixas de onda longa são muito caras para
mante-las e desde que a guerra fria terminou alguns governos do ocidente
chegaram a conclusão que não seria mais necessário um gasto enorme de dinheiro
com transmissões, produções e na manutenção de equipamentos. Em conseqüência
disso varias estações encerraram seus trabalhos em onda curta. Outras emissoras
destinaram seus sinais para as paginas da internet ou via satélite diminuindo os
gastos.

Magne acredita que o serviço mundial da BBC de Londres contribuiu
consideravelmente na diminuição dos sinais em onda curta tanto no continente
Europeu como no continente Norte Americano.
Em 2001 o diretor do serviço mundial da BBC, Mark Byford, disse que as
transmissões de AM e FM locais, os rádios via satélite e a internet colocaria um
fim nas transmissões de onda curta. (Mark Byford atualmente é subdiretor geral
da BBC)

Depois que a BBC de Londres finalizou suas transmissões em onda curta para os
Estados Unidos aconteceu um efeito dominó onde varias emissoras de onda curta
desligaram ou diminuíram suas transmissões para aquele continente. O resultado
atualmente é que os Americanos não recebem muitos sinais de onda curta. O espaço
destinado a estações de noticias nas freqüências de onda curta hoje é utilizado
por igrejas e programações religiosas.

Kim Andrew Elliot, ex-colaborador da Voz da America, disse que na época em que a
BBC encerrou suas transmissões em onda curta para os Estados Unidos os ouvintes
daquele pais recebiam toda sua programação confortavelmente por estações
retransmissoras na faixa de FM e toda esta programação era dirigida para aquele
pais e também os ouvintes não se preocupavam com a dificuldade em receber os
sinais pois recebiam através de seus rádios e através de emissoras na faixa de
FM.

Em uma de suas pesquisas para o Internacional Broadcasting Bureau, Kim Andrew
observou que vários ouvintes migraram das ondas curtas para a faixa de FM, e que
isso aconteceu também em vários países do continente Europeu.

Uma pesquisa de Kim Andrew em 2009 mostrou que os ouvintes no Camboja, que
escutavam a Voz da America em ondas curtas, 63 por cento preferiam escutá-la
através das emissoras afiliadas em FM, 31 por cento escutavam através de
emissoras afiliadas na Tailândia, e só 6 por cento escutavam a Voz da America
pelas ondas curtas.

Já em outra pesquisa em 2003 feita na índia mostrou que 7 por cento da população
dizia que escutava rádios em ondas curtas e outros 7 por cento escutavam rádios
de outros países em FM. Em 2008 a mesma pesquisa feita na índia mostrou um
resultado bem diferente, 18 por cento escutavam noticias em FM e apenas 2 por
cento em ondas curtas.

Atualmente a legislação de comunicações na Índia restringe as emissões de sinais
de outros países nas rádios FM e essas rádios não podem transmitir programas
informativos. Isso significa que as rádios Voz da America, BBC, RFI e outras
emissoras internacionais perderam suas emissoras afiliadas nestes países.

A RADIO DE ONDAS CURTAS NOS DIAS DE HOJE

Estamos no ano de 2010 e a BBC e as rádios internacionais estão facilmente
disponíveis pela internet ou via satélite. Atualmente a maioria dos jornalistas
e repórteres se dirigem a internet na busca de informações.

Mas tanta ganância em ganhar dinheiro através de emissoras afiliadas que tem
interesse em divulgar noticiário internacional esta com seus dias contados disse
Kai Ludwig.

Com freqüência muitas estações de onda curta encerram suas transmissões porque
estas freqüências já não são tão interessantes. Um exemplo é a radio Livre da
Europa que perdeu por completo suas afiliadas na Ucrânia quando as radios
mudaram sua programação e passaram a transmitir somente musica contemporânea.
Também quando uma emissora local possui programas de rádios internacionais essas
emissoras cobrem somente um determinado local ou uma determinada região
dificultando a compreensão dos ouvintes em determinadas matérias e também não se
compara o alcance mundial da onda curta disse Kai Ludwig.

Noticias vindas pela internet com certeza agregaram um ponto valioso para o
desenvolvimento de muitos países mas muitas paginas de noticias comumente erram
assustadoramente mostrando a falta de competência de seus produtores.

Também muitas estações de radio religiosas que utilizam a onda curta não estão
ganhando dinheiro com ela.

Nas ultimas transmissões da radio Voz Cristã o locutor disse: Esta me ouvindo ai
? , será que tem alguém me ouvindo do outro lado ?
A radio Voz Cristã retirou sua programação religiosa na Alemanha e na Austrália.

A rede HCJB do Equador já não nos envia sua grade de programação em onda curta e
a Evangeliums Rundfunk associada alemã da Trans World Radio já não transmite
sinais em onda curta disse Kai Ludwig.
Muitos tinham esperança de que os salvadores da onda curta seriam os receptores
de onda curta digitais, que com a norma (DRM) Digital Radio Mundiale,
facilitaria a recepção de sinais naquelas freqüências tão ruidosas.

Infelizmente a DRM atrasou em uma década o lançamento de seus equipamentos
digitais e quando os lançou foram muito poucos aproveitados no mercado.
Obviamente outro problema que surgiu para o agravamento do radio digital para as
ondas curtas foi que as fabricas desses receptores não cumpriram sua parte no
negocio que era a de desenvolver receptores baratos para toda população.

Com todos esses problemas os analistas prevêem que em breve as rádios de onda
curta na Europa e nos Estados unidos encerrarão suas transmissões retirando seus
programas aos poucos. Mas ainda existem sinais sendo transmitidos para África,
partes da Ásia e America Latina. Esses sinais continuarão sendo transmitidos até
que esses países desenvolvam tecnologias e infra estrutura que possibilitem a
sua população receberem sinais de outras emissoras estrangeiras com mais
qualidade.

Apesar de todos os gastos para se manter um transmissor de onda curta sejam
muito altos e os problemas de recepção serem um agravante o radio em onda curta
possui uma vantagem muito grande sobre a internet e sobre o radio via satélite.
A grande vantagem é que nas transmissões de onda curta analógica é impossível
bloquear o sinal e toda a noticia chegará em sua totalidade. Já na internet as
noticias podem ser dirigidas e moderadas pelas autoridades locais com a criação
de um filtro especial que enviaria somente noticias com interesse pessoal ou
interesse governamental para a população.

As transmissões via internet podem ser facilmente bloqueadas através de técnicas
de geolocalização utilizando protocolos IP que bloqueiam acessos a determinados
sites e a determinadas informações.
Os sinais de radio, recebidos via internet, e enviados para uma emissora
afiliada podem ser facilmente bloqueados por governos que tem por objetivos
bloquearem as informações vindas de outros países.

Um exemplo simples é a radio AZADIQ no Azerbaijão que possuía várias afiliadas
em varias rádios FM locais que tiveram seus transmissores desligados em 2008
logo após uma critica feita por jornalistas de outros países as eleições daquele
pais. Essas medidas também afetaram as transmissões das rádios Voz da America e
o serviço mundial da BBC no pais.

Todas as transmissões enviadas pela internet ou via satélite para estações
retransmissoras terrestres podem ser bloqueadas pelos seus governos ou pela
legislação de telecomunicações de cada pais.
Entretanto a onda curta analógica bem executada penetra em qualquer ponto da
Terra quando os outros meios de comunicação falham. Com isso as emissoras
internacionais podem registrar seus comentários da forma que quiserem e sem
censura.

Segundo Lech Walesa, Vaclav Havel e outros lideres da famosa cortina de ferro
esta capacidade de furar esses filtros da censura dando acesso as principais
noticias e informações do mundo foram as principais razões e principais
ferramentas utilizadas para acabar com o Comunismo na Europa.

No mundo atual as noticias são censuradas na Corea do norte, Iran, Arábia
Saudita, Vietnam, Cuba, China entre outros países. E a informação sem censura
segue sendo hoje tão importante quanto na época da guerra fria.

MAURICIO BERALDO 
Py4mb  amsat.org 
http://br.groups.yahoo.com/group/ISSFANCLUBEBRASIL/



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