ARLA/CLUSTER: A telegrafia na era moderna

David Quental ct1drb iol.pt
Sexta-Feira, 10 de Dezembro de 2010 - 20:32:20 WET


Boas noites a todos,

colega Carlos Mourato os meus agradecimentos pelo magnifico texto, está
excelente.

Os meus melhores 73.

CT1DRB
David Quental

PS: estarei no concurso INC2010 em CW.
> caros colegas
>
> Nos tempos que correm, a radiotelegrafia tomou o seu lugar no museu das
> comunicações, como um meio utilizado no passado, e que embora pese a sua
> eficácia em termos de fiabilidade de comunicações, foi ultrapassada pelos
> modos digitais, que permitem movimentar pelo menos a mesma quantidade de
> informação, mas com sinais mais fracos em termos de SNR. Mesmo em situações
> de congestionamento, e graças a larguras de banda de apenas alguns Hz por
> segundo, conseguem-se verdadeiras proezas digitais. O ouvido humano não
> consegue ser sensivel a larguras de banda tão estreitas como os modernos
> sistemas digitais o são. No entanto larguras de banda demasiado estreitas
> implicam velocidades de transmissão muito lentas, e como tal nem sempre
> apropriadas a determinados fins, tal como comunicações de socorro e
> emergência.
> Tal avanço tecnológico , a nivel de electronica e software, levou ao
> abandono por parte dos serviços oficiais, das comunicações em código de
> Morse. Ao fazerem isso, abandonaram simultâneamente um dos elementos mais
> importantes, durante mais de uma centena de anos, do panorama das
> comunicações. A figura impar e sem paralelo dos telegrafistas.
> É dos telegrafistas e da telegrafia em relação aos meios modernos de
> comunicações, que vos venho aqui falar.  Desses homens e mulheres, que
> anónimamente faziam de interface entre dois pontos que necessitavam de
> comunicar. Muitas vezes essas comunicações salvaram vidas e bens, sem que
> nunca ninguem conhecesse o verdadeiro rosto do "elo mais forte" da
> comunicação entre o "salvador" e o "salvado". Durante quase 200 anos, esses
> operadores de telegrafia, fosse por radio ou por fios, fizeram o mundo
> evoluir, levaram boas e más novas aos quatro cantos do mundo. Lançaram
> pedidos de socorro e gritos de alegria no ar. Tudo em nome dos outros....Em
> pról dos outros. Eles eram apenas um elo da cadeia. Hoje, apenas os
> radioamadores lhes prestam homenagem, mantendo em pleno funcionamento
> emissões radiotelegráficas, com a eficácia de sempre, e sempre prontas a
> fazer valer os seus insuperáveis valores.
> Os serviços comerciais, alheios aos aspecto técnicos, e fiabilidade  das
> comunicações, especialmente as de emergência, sedentos de aliviar despesas
> com funcionários, acreditando muitas vezes em relatórios de pseudo
> especialistas que se movimentam num mar de interesses, aconselhando uma
> mudança para o "digital", embarcando inconscientemente em "modas", colocam
> cada vez mais de lado o verdadeiro valor do ser humano. Nas comunicações, e
> em nome da eficácia, os sistemas de radiotelegrafia, mostravam-se demasiado
> simplistas para sobreviver. Alem disso eram precisos verdadeiros
> especialistas em telegrafia, para assegurar um serviço eficaz.
> Os engenheiros mais jovens, homens com uma visão mais modernista, e que
> nunca conheceram as verdadeiras virtudes da telegrafia, trataram de
> implementar a todos os niveis sistemas cada vez mais complexos e
> automáticos, de modo a dispensarem cada vez mais a capacidade interventiva
> do ser humano, enquanto elemento de decisão.  Construiram autenticas teias,
> completamente incompreensiveis para uma só pessoa, altamente dependentes de
> tudo e todos, e cada vez mais complexas técnicamente, o que leva à
> inevitável perda de controlo sobre todo o sistema. Por outro lado, a
> probabilidade de cortes na comunicação por avaria, nos sistemas modernos é
> imensamente mais elevada do que nos simples sistemas radiotelegraficos
> utilizados no passado, porque as ligações já não são feitas ponto a ponto, e
> o elemento principal já não é o ser humano. Hoje uma cadeia de comunicação,
> entre dois pontos, mesmo que seja a curta distância, implica um manancial
> enorme de meios técnicos, entre equipamentos e software,  e não é raro, que
> para se comunicar a um ou dois quilometros, através dos sistemas modernos,
>  a informação tenha que percorrer centenas de quilometros, porque a gestão
> da comunicação é feita num qualquer servidor instalado ninguem sabe bem
> onde, e muitas vezes num lugar distante, e onde se chega através de varios
> meios como cobre, feixes hertezianos, fibra óptica etc. Ora todos esses
> meios técnicos intermédios, entre dois terminais de comunicação, acabam por
> serem pontos onde potencialmente pode vir a acontecer uma avaria, e como
> cada um é um "elo" da cadeia de comunicação, basta uma falha num para que a
> comunicação se quebre. Não é de desprezar também, que a operação de tais
> meios, implica operadores com alguma especialização e conhecimentos na área,
> pois um mau operador, pode comprometer seriamente a eficácia das
> comunicações nestes meios modernos. Se a tudo isto juntar-mos uma calamidade
> natural que comprometa o funcionamento de alguns pontos da cadeia de
> comunicação, veremos que é um risco elevado, estar dependente dos modernos
> sistemas de comunicações. Certo é que os meios modernos de comunicação,
> proporcionam um elevado débito de informação, e são capazes de veicular
> dezenas, senão centenas de Mbps. Todavia este aspecto é apenas interessante,
> no ponto de vista comercial, em que o que conta é o comércio de largura de
> banda versus quantidade de informação. Tambem só é viável em situações pré
> determinadas, onde os eventos sejam todos previstos e esperados. Na outra
> face, existem as situações, em que a grande quantidade de informação não tem
> interesse e nem sequer é desejável. Falo nos casos das comunicações de
> emergência, de socorro, de perigo de sinalisação etc. Neste tipo de
> comunicação, pretende-se trocar ou receber informação através de meios
> simples e altamente fiáveis. Essa informação deve ser apenas a essencial
> para permitir a tomada de decisão rápida e inequivoca, com vista a responder
> prontamente à gravidade do evento. Deve ser uma informação clara, precisa,
> sem demoras de interligações e latências, e suportadas por sistemas unicos e
> simples que comuniquem entre si, de uma forma autónoma, sem recursos a
> sistemas intermédios, e de preferência completamente controláveis pela
> capacidade interventiva  do ser humano. É aqui que a radiotelegrafia com os
> seus transmissores na forma mais simples, e os radiotelegrafistas
> experientes, como muitos que temos entre nós radioamadores, continuam a
> mostrar ao mundo e aos "senhores da era digital", que a telegrafia é um meio
> de comunicação, tão simples como importante, tão fiável como eficaz, que por
> muito que se tentem justificar os milhões gastos em alta tecnologia, nunca
> desaparecerá, e fará sempre parte do mundo das comunicações, como a mais
> simples, rápida, económica, fiável e eficaz maneira de comunicar, mesmo nas
> condições mais adversas. Todavia as eternas virtudes da radiotelegrafia, não
> existiam senão fosse a enorme capacidade do cérbero humano de se adaptar aos
> mais diversos ambientes de escuta, muitas vezes  povoados de todo o tipo de
> ruido, onde apenas o telegrafista experiente e atento, consegue discriminar
> aquele sinal importante, transmitido de um lugar longinquo,  onde alguem tem
> necessidade de ser escutado.
> A todos os radiotelegrafistas, que o são ou que o foram, pela vossa
> capacidade de comunicar de uma forma tão simples quanto eficaz, por serem
> capazes de transformar o vosso sentido auditivo, em mensagens entre os
> homens, por transformarem a ponta dos vossos dedos em sinais de informação
>  claros simples e precisos, pelo lugar impar que ocupam no mundo das
> comunicações, e por todas as vidas que salvaram, pelas alegrias e tristezas
> que fizeram chegar ao destino, pelo vosso desinteressado e anónimo trabalho
>  ao longo de quase 200 anos, aqui deixo a minha homenagem como simples
> cidadão do mundo.
>
> 73 de CT4RK
> Carlos Mourato
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