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Boas noites a todos,<br>
<br>
colega Carlos Mourato os meus agradecimentos pelo magnifico texto, está
excelente.<br>
<br>
Os meus melhores 73.<br>
<br>
CT1DRB<br>
David Quental<br>
<br>
PS: estarei no concurso INC2010 em CW.<br>
<blockquote
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<pre wrap="">caros colegas
Nos tempos que correm, a radiotelegrafia tomou o seu lugar no museu das
comunicações, como um meio utilizado no passado, e que embora pese a sua
eficácia em termos de fiabilidade de comunicações, foi ultrapassada pelos
modos digitais, que permitem movimentar pelo menos a mesma quantidade de
informação, mas com sinais mais fracos em termos de SNR. Mesmo em situações
de congestionamento, e graças a larguras de banda de apenas alguns Hz por
segundo, conseguem-se verdadeiras proezas digitais. O ouvido humano não
consegue ser sensivel a larguras de banda tão estreitas como os modernos
sistemas digitais o são. No entanto larguras de banda demasiado estreitas
implicam velocidades de transmissão muito lentas, e como tal nem sempre
apropriadas a determinados fins, tal como comunicações de socorro e
emergência.
Tal avanço tecnológico , a nivel de electronica e software, levou ao
abandono por parte dos serviços oficiais, das comunicações em código de
Morse. Ao fazerem isso, abandonaram simultâneamente um dos elementos mais
importantes, durante mais de uma centena de anos, do panorama das
comunicações. A figura impar e sem paralelo dos telegrafistas.
É dos telegrafistas e da telegrafia em relação aos meios modernos de
comunicações, que vos venho aqui falar. Desses homens e mulheres, que
anónimamente faziam de interface entre dois pontos que necessitavam de
comunicar. Muitas vezes essas comunicações salvaram vidas e bens, sem que
nunca ninguem conhecesse o verdadeiro rosto do "elo mais forte" da
comunicação entre o "salvador" e o "salvado". Durante quase 200 anos, esses
operadores de telegrafia, fosse por radio ou por fios, fizeram o mundo
evoluir, levaram boas e más novas aos quatro cantos do mundo. Lançaram
pedidos de socorro e gritos de alegria no ar. Tudo em nome dos outros....Em
pról dos outros. Eles eram apenas um elo da cadeia. Hoje, apenas os
radioamadores lhes prestam homenagem, mantendo em pleno funcionamento
emissões radiotelegráficas, com a eficácia de sempre, e sempre prontas a
fazer valer os seus insuperáveis valores.
Os serviços comerciais, alheios aos aspecto técnicos, e fiabilidade das
comunicações, especialmente as de emergência, sedentos de aliviar despesas
com funcionários, acreditando muitas vezes em relatórios de pseudo
especialistas que se movimentam num mar de interesses, aconselhando uma
mudança para o "digital", embarcando inconscientemente em "modas", colocam
cada vez mais de lado o verdadeiro valor do ser humano. Nas comunicações, e
em nome da eficácia, os sistemas de radiotelegrafia, mostravam-se demasiado
simplistas para sobreviver. Alem disso eram precisos verdadeiros
especialistas em telegrafia, para assegurar um serviço eficaz.
Os engenheiros mais jovens, homens com uma visão mais modernista, e que
nunca conheceram as verdadeiras virtudes da telegrafia, trataram de
implementar a todos os niveis sistemas cada vez mais complexos e
automáticos, de modo a dispensarem cada vez mais a capacidade interventiva
do ser humano, enquanto elemento de decisão. Construiram autenticas teias,
completamente incompreensiveis para uma só pessoa, altamente dependentes de
tudo e todos, e cada vez mais complexas técnicamente, o que leva à
inevitável perda de controlo sobre todo o sistema. Por outro lado, a
probabilidade de cortes na comunicação por avaria, nos sistemas modernos é
imensamente mais elevada do que nos simples sistemas radiotelegraficos
utilizados no passado, porque as ligações já não são feitas ponto a ponto, e
o elemento principal já não é o ser humano. Hoje uma cadeia de comunicação,
entre dois pontos, mesmo que seja a curta distância, implica um manancial
enorme de meios técnicos, entre equipamentos e software, e não é raro, que
para se comunicar a um ou dois quilometros, através dos sistemas modernos,
a informação tenha que percorrer centenas de quilometros, porque a gestão
da comunicação é feita num qualquer servidor instalado ninguem sabe bem
onde, e muitas vezes num lugar distante, e onde se chega através de varios
meios como cobre, feixes hertezianos, fibra óptica etc. Ora todos esses
meios técnicos intermédios, entre dois terminais de comunicação, acabam por
serem pontos onde potencialmente pode vir a acontecer uma avaria, e como
cada um é um "elo" da cadeia de comunicação, basta uma falha num para que a
comunicação se quebre. Não é de desprezar também, que a operação de tais
meios, implica operadores com alguma especialização e conhecimentos na área,
pois um mau operador, pode comprometer seriamente a eficácia das
comunicações nestes meios modernos. Se a tudo isto juntar-mos uma calamidade
natural que comprometa o funcionamento de alguns pontos da cadeia de
comunicação, veremos que é um risco elevado, estar dependente dos modernos
sistemas de comunicações. Certo é que os meios modernos de comunicação,
proporcionam um elevado débito de informação, e são capazes de veicular
dezenas, senão centenas de Mbps. Todavia este aspecto é apenas interessante,
no ponto de vista comercial, em que o que conta é o comércio de largura de
banda versus quantidade de informação. Tambem só é viável em situações pré
determinadas, onde os eventos sejam todos previstos e esperados. Na outra
face, existem as situações, em que a grande quantidade de informação não tem
interesse e nem sequer é desejável. Falo nos casos das comunicações de
emergência, de socorro, de perigo de sinalisação etc. Neste tipo de
comunicação, pretende-se trocar ou receber informação através de meios
simples e altamente fiáveis. Essa informação deve ser apenas a essencial
para permitir a tomada de decisão rápida e inequivoca, com vista a responder
prontamente à gravidade do evento. Deve ser uma informação clara, precisa,
sem demoras de interligações e latências, e suportadas por sistemas unicos e
simples que comuniquem entre si, de uma forma autónoma, sem recursos a
sistemas intermédios, e de preferência completamente controláveis pela
capacidade interventiva do ser humano. É aqui que a radiotelegrafia com os
seus transmissores na forma mais simples, e os radiotelegrafistas
experientes, como muitos que temos entre nós radioamadores, continuam a
mostrar ao mundo e aos "senhores da era digital", que a telegrafia é um meio
de comunicação, tão simples como importante, tão fiável como eficaz, que por
muito que se tentem justificar os milhões gastos em alta tecnologia, nunca
desaparecerá, e fará sempre parte do mundo das comunicações, como a mais
simples, rápida, económica, fiável e eficaz maneira de comunicar, mesmo nas
condições mais adversas. Todavia as eternas virtudes da radiotelegrafia, não
existiam senão fosse a enorme capacidade do cérbero humano de se adaptar aos
mais diversos ambientes de escuta, muitas vezes povoados de todo o tipo de
ruido, onde apenas o telegrafista experiente e atento, consegue discriminar
aquele sinal importante, transmitido de um lugar longinquo, onde alguem tem
necessidade de ser escutado.
A todos os radiotelegrafistas, que o são ou que o foram, pela vossa
capacidade de comunicar de uma forma tão simples quanto eficaz, por serem
capazes de transformar o vosso sentido auditivo, em mensagens entre os
homens, por transformarem a ponta dos vossos dedos em sinais de informação
claros simples e precisos, pelo lugar impar que ocupam no mundo das
comunicações, e por todas as vidas que salvaram, pelas alegrias e tristezas
que fizeram chegar ao destino, pelo vosso desinteressado e anónimo trabalho
ao longo de quase 200 anos, aqui deixo a minha homenagem como simples
cidadão do mundo.
73 de CT4RK
Carlos Mourato
Sines
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