ARLA/CLUSTER: Classe 3 uma ideia

Radiophilo radiophilo gmail.com
Terça-Feira, 24 de Agosto de 2010 - 12:58:32 WEST


Matias,

A sua clareza de espírito é admirável.

Olhando em retrospectiva os requisitos de qualificação para os radioamadores
que estão expressos na actual lei são um atestado de menoridade passado pelo
legislador não apenas aos CR7, mas à classe dos radioamadores em geral.

1. Aos CR7 desde logo, porque os considera incapazes do acto de transmitir.
Isto dito assim parece coisa simples e pequena, mas não é, e merece
reflexão.
Porque é que a Anacom decidiu deprezar quase um século de tradição adquirida
em todos os países civilizados, incluindo o nosso, para julgar, de repente e
sem explicação, que os cidadãos portugueses necessitam de 2 anos de estágio
sem exercer os privilégios "normais" dos radioamadores, antes de acederem à
transmissão? Seremos os portugueses em alguma medida inferiores aos outros,
ou ao que éramos até há poucos anos atrás? Que alteração social ou
tecnológica profunda ocorreu entretanto para justificar esta mudança? Porque
é que nós decidimos dificultar o acesso dos noviços ao espectro, quando a
generalidade dos países parece fazer justamente o oposto?

2. Uma vez que a lei não oferece explicação para este requisito devemos nós
buscá-la, senão formalmente através do contacto de qualquer das nossas
associações mais representativas, pelo menos pelo uso da inteligência e da
especulação.
Terá achado a Anacom que os novos amadores não sabem tanto da técnica como
deviam? Ou será antes uma constatação do seu mau comportamento? Ou será
outra coisa? Alguém sabe?
Eu não sei e gostaria de saber. Até porque qualquer proposta que seja
elaborada para apresentar à Anacom como alternativa à actual lei deverá,
pelo menos, responder às suas preocupações.

3. Seja qual for a razão pela qual a Anacom decidiu tomar esta medida de
excepção, ela constitui também um atestado de menoridade passado ao
colectivo dos radioamadores. A afirmação implícita é que nós não nos sabemos
organizar, nem tratar de nós próprios.
Os mais velhos não ensinam aos mais novos, nem boas práticas de operação nem
saber técnico. Não há exemplo nem autoridade. Isto devia ser motivo de
vergonha dos CT1 aos CT4 e não de regozijo. Eu falo por mim, é claro, e não
estou nada satisfeito.

4. Isto pode também ser tomado como sinal de decadência do radioamadorismo
entre nós. Se a comunidade fosse dinâmica e plena de actividades aliciantes,
não haveria tempo para os mais novos asnearem nem para os mais velhos
choramingarem. E quanto mais se gritar pela fiscalização do regulador e
menos se resolverem os problemas entre nós, mais isto poderá acontecer.

Qual é a solução? Não sei. Mas vejo que a situação pode melhorar e tomar
rumo se o colectivo dos radioamadores se organizar. Se houver mais factores
de coesão do que de divisão.
É neste sentido que eu encaro a proposta do Paulo Santos como boa, porque
promove a interação, a entreajuda, a responsabilização e a transmissão de
conhecimentos entre os radioamadores.
É claro que não pode ser exclusiva, e mantenho que deve ser perfeitamente
possível a qualquer cidadão progredir na sua carreira de radioamador sozinho
e sem ajudas de ninguém.
Mas não me choca que os radioamadores noviços sejam premiados pela sua
integração na comunidade através das associações. Não apenas beneficiariam
eles pela rápida progressão e aquisição de privilégios, como beneficiaria a
comunidade em geral pelo seu envolvimento e empenho.
Admito até que havendo maior vida associativa o famoso fenómeno de exaustão
dos respectivos dirigentes possa ser mitigado.

Se houver atropelos e os "juizesinhos" e "advogadinhos" e os
"compadresinhos" aparecerem, então eles que sejam denunciados e julgados
pela comunidade. Não creio que os erros e injustiças que se possam vir
cometer sejam piores que os que se cometem agora.

Como disse o Paulo Santos e muito bem, os noviços de hoje são o futuro do
radioamadorismo.

73,
António Vilela
CT1JHQ


2010/8/23 Antonio Matias <ct1ffu  gmail.com>

> Boas .
> A ideia que o colega Paulo CT1EWA ventilou, não é má, mas, tem muitos
> mas...
> Mesmo que se ignore as inconstitucionalidades inerentes ao associativismo
> forçado, voluntário ou oferecido, acho que não estamos a ver a questão
> essencial:
> É que estamos a tratar os novos radio-amadores como criminosos, logo à
> nascença.
> Obriga-los a mostrarem que são pessoas de bem para serem radio-amadores.
> Onde já se viu isto? uma pessoa nascer culpada  e só de depois de provar
> que é boa rês é que pode seguir vida?
> Então e a presunção de inocência?
> Julgo que deve ser o contrario, as pessoas são livres  de ser, fazer, ir,
> como , aonde bem quiserem  sem ter de ter alguém no encalço a fiscalizar.
> Qualquer amador, mesmo maçarico, maior de 16 anos é responsável por si, por
> aquilo que faz e ninguém tem o direito de o vir julgar.
> Claro, se meter o pé na argola, prejudicar os outros ou de alguma
> forma lesar alguém, esse alguém que se vá queixar à Policia
> que é o lugar indicado  para isso, e não a associação nenhuma.
>  Já imaginaram a quantidade de julgamentos sumários com  "juizesinhos"
> ,"advogadinhos", testemunhas de acusação e defesa e pois claro, talvez até
> mesmo um grupo de digníssimos jurados e um Carrasco que vai executar as
> penosas tarefas de executar o veredicto
> A quantidade de queixinhas e bufarias que isso ia dar. Para não falar na já
> conhecida e malfadada tradição dos santos da casa nunca fazerem milagres aos
> habitantes-vizinhos, antes pelo contrário.
> Já aqui ouvi aclamações que: " nunca mais queremos um Mortágua"
> Até parece que o homem era um Jack-o-Estripador ou um
> Abominável-Homem-Das-Neves, um inimigo publico a abater que desgraçou a
> Pátria.
> Que mal veio ao mundo o tipo gostar de uns copos e de Fernando Pessoa,
> nunca o ouvi ofender ninguém, e,  confesso que muitos dos monólogos até nem
> está vam maus de todo.
> A liberdade que felizmente temos no mundo Ocidental é uma garantia que
> temos de preservar: O direito à parvoíce!
> As pessoas são livres de dizerem o que bem entenderem, quem não gostar de
> ouvir, que não ouça.
> O que quero dizer com isto, é que não há legislação nenhuma nos nosso
> regulamento, que proíba ou obrigue uma radio-amador a ter este ou aquele
> tema de conversa, o que remete o coisa para a lei geral da radio-difusão.
> Assim sendo, qualquer um de nós pode estar
> perfeitamente ao radio com o assunto que bem entender.
> Além do mais, há muitos radio-amadores que simplesmente não gostam de fazer
> QSO´s ou de estar na escuta, fazem outras coisas mais reservadas, como
> a técnica. Como seriam julgados estes colegas?
> Não podemos ir pela via da inquisição nem da caça ás bruxas.
> Façam exames a sério, com examinadores a sério, com critérios sérios, mas
> deixem as pessoas serem radio-amadores, se depois algum se portar mal, é lá
> com ele.
>
> 73
> Matias
> CT1FFU
>
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