ARLA/CLUSTER: Mostra-me como vives o Radioamadorismo... que eu dir-te-ei quem és.
Miguel Andrade
ct1etl gmail.com
Terça-Feira, 12 de Maio de 2009 - 18:36:29 WEST
Incentivado e estimulado pelo meu correspondente e destinatário da mensagem
original, a qual foi trocada apenas num âmbito unicamente privado, regresso
à participação activa nesta lista, após uma prolongada ausência que muito me
desespera, particularmente em relação a certos assuntos para os quais
adorava contribuir.
Pelo conteúdo que se segue ficarão a compreender o meu pudor e hesitação em
colocar este tópico aqui, de forma pública, ao alcance de todos.
A minha esperança reside no facto de que quando abrirem a mensagem e virem
que nunca mais acaba... desistam de a ler :)
Olá (...),
Como é obvio, no fim-de-semana... não pude dar a devida atenção à lista.
Já é crónico. Não há nada a fazer.
E agora já é tarde demais nem fazia sentido voltar ao assunto para o qual me
chamaste a atenção; até porque o que faz sentido já foi expresso por outros
antes de mim.
Só queria compreender qual é a ligação entre certos conteúdos e a matéria em
questão.
Não percebi metade das " indirectas ". Para mim não fazem qualquer sentido.
Quem foi prejudicado e com o quê ?
Com as decisões do Estado ?
Então os lesados que reclamem junto do Estado Português. Peçam uma
indemnização em tribunal ( que é o que está a dar ), e deixem os colegas que
não pediram as malfadas " passagens administrativas " em paz de uma vez por
todas !
Só quem precisa de um indicativo " xpto " ou de uma classe mais elevada num
PASSATEMPO, nomeadamente para poder « ser alguém na vida » é que pode dar
tanta importância a coisas insignificantes... talvez porque não consiga
salientar-se de outra forma.
Quantos colegas habilitados com telegrafia ( refiro-me aos que prestaram de
facto provas ) estão activos nesse modo ?... quantos têm dado cursos de
formação ?... quantos têm sido dinâmicos aficionados por esse MODO DE
TRANSMISSÂO ?
Talvez o nosso estimado colega António Gamito... isto sem esquecer o meu
mestre e não menos estimado Luís Catulo sejam dois bons exemplos dos que
se entreguam de facto a essa tarefa exigente que é formar em Código Morse,
isto só para falar dos mais próximos, sem querer ferir o orgulho dos
restantes ou ignorar os activos, como esse assíduo telegrafista que é o
Carlos Fonseca, nosso amigo comum.
Qual é então essa abismal diferença de importância que um modo de
transmissão pode assumir em relação aos outros ?
Quantas alternativas de comunicação há actualmente em relação à telegrafia ?
Qual é a real utilidade e conveniência da telegrafia para a continuidade e
para o desenvolvimento do radioamadorismo... que os restantes modos de
transmissão não possam compensar ?
Qual é a vantagem que a telegrafia apresenta que outros modos de transmissão
não lhe possam equiparar-se ?... sim; no que é que a telegrafia é realmente
insuperável ?
Quando me responderem a estas perguntas ( apenas algumas entre muitas ),
talvez eu compreendesse porque é que a telegrafia foi a única forma de
transmissão obrigatória no único exame prático do Serviço de Amador... até
2009.
Embora eu de facto tenha muito interesse e dê o maior valor à telegrafia e
aos que a praticam com assiduidade, também sou da opinião de que é mais
urgente que se tornassem obrigatórias, nos exames, outras matérias não menos
importantes, como condutas éticas, como técnicas de radiocomunicações
elementares, como procedimentos sobre segurança e até mesmo a prestação de
uma prova prática de cálculo e montagem de antenas simples ( com primordial
vocação para aqueles modelos mais adequados a situações de emergência )... e
tudo isto em vez da telegrafia.
Quantos colegas chegam à actual categoria A, depois de realizarem com mérito
um exame teórico e uma prova prática de telegrafia... e depois não sabem
operar em determinados modos de transmissão tão ou mais importantes ?
Quando digo importantes refiro-me à sua popularidade, eficácia, eficiência,
rendimento e até à forma mais " ecológica " como fazem uso da energia (
embora a telegrafia por código Morse em onda contínua - A1A - seja quase
imbatível neste último aspecto ).
E por fim... ainda que não tenha compreendido certas metáforas que li, como
a mensagem onde entram os « escadotes de barro », os « calcanhares », « os
aviários » e as « bolotas », ocorre-me depois disso mais um chorrilho de
perguntas...
Como não estou com fleuma para regar fogueiras com gasolina, apenas me darei
ao luxo de te deixar algumas dúvidas muito sinceras e pertinentes...
Desde quando é que, em qualquer canto escondido deste planeta, mas
particularmente neste país, as habilitações ou as divisas são sinónimo
daquilo que as pessoas que as usam realmente são ?
Achas que se existisse uma cultura de mérito eram necessários títulos,
classes, insígnias, diplomas e outras coisas que tais ?
Quantas pessoas conheces que estarão actualmente desaproveitadas nesta
sociedade; simplesmente por não terem aquilo que se convencionou para os
habilitarem a determinados privilégios ? ( embora saibam mais ou sejam
melhores do que muitos que os usam ).
Eu terei dito mesmo habilitarem ?
Ora bolas, num país de faz-de-conta o que menos importa, hoje em dia, é a
forma como se obtém um diploma.
Expliquem-me, ainda assim, como é que as habilitações podem definir a
inteligência, a capacidade, a competência, a idoneidade, a habilidade, o
talento, a proficiência e o saber real da pessoa ?... e isto não somente e
apenas na respectiva vida profissional, eu diária sobretudo até num nível
insignificante como este; um mero PASSATEMPO ( ou " hobby " para os mais
distraídos )...
É através de uma simples licença para o Serviço de Amador que poderemos
atestar determinada qualidade como pessoa ?
Se queres desafios que sejam levados a sério pela sociedade, conclui com
mérito as etapas para conseguires uma carta de navegação de recreio do tipo
" Patrão de Alto-Mar "... ou um " brevet " para pilotagem de aeronaves...
sem dúvida muito mais exigentes como é compreensível.
Não sou um libertário ou um anarquista que defenda que qualquer um deve
ignorar as convenções, mas haverá por aí até casos de telegrafistas que nem
se fazem escutar em CW, porque a respectiva classe no seu PASSATEMPO não
lhes permite, por enquanto, o uso desse MODO DE TRANSMISSÂO.
E não me refiro apenas aos militares.
Mesmo que a respectiva classe fosse a indicada, provavelmente nem
utilizariam o código Morse com a constância que estamos à espera num
qualquer de nós... pois até há pouco tempo tinham que o fazer, quase todos
os dias a nível profissional. É por isso natural, que quando chegassem a
casa, cansados, verosimilmente achassem muito mais piada experimentarem
novas potencialidades, nomeadamente ligando um computador ao seu equipamento
de transmissões do PASSATEMPO... guardando a telegrafia mais para concursos
ou para " descontrair ", de vez em quando.
Em resumo... estar habilitado ou não num determinado MODO DE TRANSMISSÃO não
deveria distinguir ninguém nem no Serviço de Amador.
Há modos de transmissão muito mais exigentes a nível técnico que ( ainda )
não fazem parte de nenhum exame prático.
Estar reconhecido pelo Estado Português numa determinada " classe " de um
PASSATEMPO não dá estatuto, não define hierarquias nem é sinónimo de
inteligência, capacidade, competência, idoneidade, habilidade, talento,
proficiência... e nunca demonstrará o saber efectivo do respectivo utente na
sua vida pessoal, profissional ou até social.
Se não concordam comigo... leias os arquivos desta lista ou escutem os "
QSO's ".
Ninguém conseguirá comprovar uma relação concreta entre os conhecimentos
técnicos dos utentes do Serviço de Amador e a respectiva classe,
particularmente com base nas provas que eram realizadas até esta data.
Não só não há uma correspondência directa ( nem remota sequer ), como essa
realidade não demonstra, com rigor, os autênticos graus de conhecimento
técnicos ou diferenças de aptidões efectivas entre os utentes do Serviço de
Amador e Amador por Satélite habilitados para operarem no modo de telegrafia
e os restantes, ou entre muitas das classes A, B e C entre si ( nomeadamente
ao nível que essas habilitações tinham o dever de atestar ).
E porquê ?
Porque muitos dos colegas evoluíram e não se candidatam mais a provas para
progredirem de classe, ou simplesmente porque as provas não possuíam, até
aqui, a rigidez e a eficácia necessárias.
Não há, nem será nunca possível e exequível acontecer, uma correspondência
verdadeira entre os conhecimentos em QUALQUER ÁREA TÉCNICA DO SERVIÇO DE
AMADOR e a classe que é reconhecida pelo Estado, pois todos sabemos sempre
muito mais daquilo que realmente gostamos, mesmo em relação a outros até
mais habilitados.
Numa sociedade menos provinciana, pretensiosa, vaidosa, imodesta, mesquinha,
pedante e com menos gente presunçosa, seria perfeitamente natural que um
académico do nível de um Prof. Doutor numa área de engenharia, o qual para
além de leccionar numa universidade sobre o assunto, trabalhasse todos os
dias com sistemas irradiantes na sua vida profissional; possuísse apenas uma
licença da actual classe C... obtida simplesmente para falar entre amigos
através de repetidoras de VHF... incógnito...
Quem não sabe de colegas ilustres, como Sua Alteza Real o Monarca de Espanha
e tantas outras figuras públicas que, ao contrário do meu mau " Real "
exemplo, passaram e passam despercebidas com indicativos perfeitamente
vulgares pelos nossos diários de estação.
O saber não se mede aos palmos meu amigo !
O que vestimos não é prova inequívoca daquilo que na realidade somos !
O mais importante num PASSATEMPO não é quem sabe mais ou quem sabe menos...
é quem ajuda a nivelar o conhecimento entre todos. É quem divulga, quem
participa, quem demonstra, quem ensina sem pretensiosismo ou vaidade, quem
cultiva na sua atitude a modéstia... mesmo quando é necessário ajudar o
próximo a encontrar o saber ou a técnica que procura para chegar mais longe
ou para ultrapassar obstáculos.
Neste PASSATEMPO a virtude não está em chegar mais alto na classe que o
Estado hipoteticamente nos reconheça... ainda que desta ou daquela forma...
com esta ou com aquela injustiça... com provas realmente adequadas e justas
ou não.
A propriedade está do lado daqueles que dão, sem cobrarem prestígio;
daqueles que sabem algo do seu pequeno cantinho e partilham de bom grado com
os restantes, ajudando a progredir o conhecimento colectivo.
Quantos mais partilharem mais engrandecem os restantes e atenuarão as
diferenças artificiais das " classes ". Quanto mais souberem partilhar, mais
interesse criam nas nossas comunicações, porque uma boa dose da comunicação
é a partilha de conhecimento.
Não é evitando ou ridicularizando os " desvalidos do saber ", que melhoramos
a qualidade do que se escuta em frequência.
Quanto menos desequilíbrios e ignorância existirem, mais aumentará
proporcionalmente a qualidade das radiocomunicações e o interesse do nosso
PASSATEMPO comum. Mais colegas aparecerão a operar, nomeadamente em áreas
consideradas exigentes ou complexas.
E o desequilíbrio começa logo quando se procuram " galões " em classes de um
PASSATEMPO, mesmo sem se saber do autêntico valor e sobre a verdadeira
importância de quem está do outro lado... um degrau mais abaixo no
Radioamadorismo ( mas sabe-se lá quantos degraus acima noutras áreas ).
Quanto à ignorância, ela não é só de quem não sabe... ela passa muito pelo
pretensiosismo de quem se quer afirmar, num mero passatempo, como superior,
nisto ou naquilo.
Caro amigo, desculpa-me por este longo desabafo, mas fico tão ultrajado com
certas formas de estar na vida que só me apetecia escrever um livro...
É porque não ?... hoje está na moda :D
73's de CT1ETL - Miguel ( alguém que se resigna em não procurar divisas ou
diplomas num passatempo, nomeadametne para provar o respectivo grau de
cultura geral, conhecimento, nível de inteligência... ou para obter o
respeito dos outros )
-------------- próxima parte ----------
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