ARLA/CLUSTER: Fw: (Super) telescópio das Canárias]
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Terça-Feira, 5 de Maio de 2009 - 22:18:05 WEST
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From: Tiago Duarte
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Sent: Tuesday, May 05, 2009 9:00 PM
Subject: (Super) telescópio das Canárias]
TEMAS
a Os investigadores do Grande Telescópio das Canárias começaram apenas no dia 1 de Março a fazer as primeiras observações. Mas garantem que este gigante
nasceu num dos melhores sítios do mundo para observar o céu: a partir do observatório de Roque de Los Muchachos, e com a tecnologia de que se dispõe, já
conseguiram ver uma vela acesa em Nova Iorque. Mas não é esse o objectivo. Os investigadores estão mais interessados numa espécie de regresso ao passado.
O enorme espelho de 10,4 metros de diâmetro do Grande Telescópio das Canárias (GTC), o maior do mundo, tem capacidade para descobrir segredos nunca antes
revelados sobre as estrelas, as galáxias, os buracos negros e os planetas. Recuar até lá onde o Universo era uma criança, quando tinha apenas 1500 milhões
de anos, um décimo da sua idade actual, e responder às eternas perguntas sobre quem somos, de onde viemos. Por isso dizem, sem sombra de dúvida: esta é
a maior máquina do tempo alguma vez construída.
As Canárias são vistas, desde o século XIX, como uma espécie de paraíso para a observação astronómica, graças à grande altitude dos pontos mais elevados
da ilha e ao efeito do anticiclone dos Açores, que, conjugado com o efeito dos ventos elísios, também traz até estas paragens um clima estável e ameno.
A lei do céu
Mas a escolha das Canárias para a instalação do Observatório Europeu do Norte (ENO - formado pelo Observatório de Roque de los Muchachos, em La Palma, e
pelo Observatório del Teide, em Tenerife) deve-se também ao pioneirismo do Governo local, que conseguiu ver na Astronomia uma mais-valia para o desenvolvimento
e turismo das ilhas e que criou a primeira legislação do mundo sobre o direito ao céu nocturno. Toda a iluminação pública das ilhas é de baixa intensidade
e a luz pública é obrigatoriamente inclinada para baixo, de acordo com a chamada "lei do céu". Adoptada em 1988 e aprovada em 1992, esta legislação acabaria
por ser internacionalizada em 2007 com a Declaração sobre a Defesa do Céu Nocturno e Direito à Luz das Estrelas, assinada em La Palma pela Unesco e por
um grupo de 23 países, dos quais Portugal não faz parte.
"Estamos num sítio com características excepcionais para a Astronomia. Daí o número de observatórios aqui instalados", explica Juan Carlos Pérez, director
do Instituto de Astrofísica das Canárias, que conduz a visita a Roque de Los Muchachos, uma verdadeira cidade das estrelas a 2400 metros de altitude e
em pleno Parque Nacional da Caldera de Taburiente, uma enorme cratera vulcânica sobre a qual se avista toda a ilha de La Palma.
Foi com base neste contexto que os telescópios começaram a chegar a Roque de Los Muchachos na década de 1980 e encheram a paisagem de cúpulas brancas e
prateadas, como cogumelos plantados em nuvens, que bem podiam inspirar Cervantes numa nova batalha imaginária quixotesca. Foi ali, no conjunto de telescópios
geridos por 20 países, que se observou a primeira queda de um meteorito. As imagens recolhidas chegaram à capa da revista Nature. E foi dali que também
se observou o primeiro buraco negro da história da Astronomia, em 1992, a partir do telescópio William Herschel, que, quando foi inaugurado, em 1987, tinha
o recorde do mundo de ser o maior da Europa e o terceiro maior do mundo. E era, até à chegada do Grande Telescópio das Canárias, o maior de Roque de Los
Muchachos, com os seus humildes 4,2 metros de diâmetro de espelho. Imagine-se o que não se poderá agora revelar com os 10,4 metros de diâmetro de espelho
reflector do novo telescópio.
"Temos aqui uma dimensão da nossa pequenez", diz Juan Carlos Pérez à entrada do GTC. "A atracção pelo cosmos nos nossos genes é muito forte. Eu acho que
há sempre um astrónomo em cada um de nós", diz. Foi através dos 40 quilómetros de curvas que subiram as componentes que formam as 350 toneladas do GTC
espalhadas por uma área de cinco mil metros quadrados. Todas foram transportadas da mesma maneira, incluindo as enormes placas metálicas que formam a cúpula
do telescópio - como a comporta principal de 25 metros - e incluindo também o grande protagonista desta estrutura: um espelho primário formado por um conjunto
de 36 espelhos hexagonais, cada um com electrónica própria fruto da mais desenvolvida óptica adaptativa aqui experimentada pela primeira vez, e que formam
o diâmetro de 10,4 metros do dispositivo.
Entramos na máquina do tempo. "Os telescópios são as únicas máquinas do tempo reais. Viajamos literalmente ao passado. Quando conseguimos fotografar as
estrelas, já muitas delas terão morrido", diz Pérez. Longe dos tempos de Galileu, quando, há 400 anos, o mestre italiano construiu o primeiro telescópio
para ver os objectos longínquos como se estivessem perto de nós, os telescópios modernos trabalham hoje para recolher a maior quantidade de partículas
de luz, fotões, emitidas pelos objectos celestes.
Uma pupila gigante
Tal como a pupila do olho, que na presença de muita luz diminui o seu tamanho mas que, na escuridão, aumenta para conseguir captar os fotões, também este
telescópio enorme funciona como uma pupila dilatada. De 10,4 metros de diâmetro. A maior pupila do mundo, capaz de recolher 500 giga de informação por
noite. "Mas muita dela é ruído."
Liderado por Espanha, mas construído num consórcio entre o país vizinho, o México, os Estados Unidos, o embrião do GTC foi lançado ainda nos anos 1980,
enquanto projecto, mas a sua construção acabaria por se iniciar só em 2001. Passaram oito anos até que, em 2009, este ano, em Março, os astrónomos começaram
a espreitar por esta janela com vista para o Universo mais profundo. "Ainda não há dados publicados sobre as primeiras observações já feitas. Ainda estamos
em fase de ajuste este semestre, com 60 pedidos de observação já aprovados."
Juan Carlos Pérez comenta, com orgulho, que o custo do telescópio - 105 milhões de euros - ficou 3 por cento mais barato do que o orçamentado. E 70 por
cento da mão-de-obra empresarial que o ergueu é espanhola.
Para a inauguração, marcada para 24 de Julho, quando se completam os 50 anos do regresso da missão Apolo 11 à Terra, depois do primeiro homem ter pisado
pela primeira vez a superfície lunar, está programado um concerto intitulado Música das Estrelas, com Bryan May, o guitarrista dos Queen, e Jean-Michelle
Jarre. O convite para a festa já seguiu para a Casa Branca e dizem esperar por uma resposta do Presidente Barack Obama.
O PÚBLICO viajou a convite
do Canal História
Fim
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