ARLA/CLUSTER: Proposta para o novo sistema de exames

João Gonçalves Costa joao.a.costa ctt.pt
Quinta-Feira, 26 de Março de 2009 - 16:10:16 WET


Prezados José António Proença, CT2HIV e António Matias, CT1FFU,

Permitam-me responder-vos em conjunto para não me ter de repetir.

De forma directa e objectiva, tal como vocês certamente defendem, aspiro genuinamente para o futuro do Radioamadorismo no nosso país algo credível, seguro, justo e idóneo.

Como continuo a acreditar que o Estado tem um fundamental papel de regulação e supervisão, sendo algumas das suas responsabilidades inalienáveis em determinado momento por motivos de sustentabilidade da vida em sociedade, era sem dúvida preferível que o ICP-ANACOM, como autoridade na matéria certificasse o processo, assegurando toda a imperativa e determinante responsabilidade que lhe é exigida.

Prefiro objectivamente que os exames continuem a ser assegurados por uma entidade totalmente independente, autónoma e soberana; o que não significa que tenha que ser o próprio ICP-ANACOM a fazê-lo, podendo mesmo vir a ser delegado esse encargo noutra entidade publica... mas nunca numa ou várias Associações de Radioamadores.

Sejamos justos connosco próprios e lembremo-nos concretamente dos fins e objectivos expressos nos Estatutos, ou até do papel real desempenhado até este momento pelo associativismo nacional. Reconheçamos em primeiro lugar a evidente falta de meios e de preparação adequada, a vários níveis, para essa responsabilidade, até por parte das maiores e mais bem conceituadas organizações nacionais de amadores de radiocomunicações.

Estar a atribuir responsabilidades parciais, ou seja, delegar nas associações apenas as provas de exame até certo nível, poderia de facto ser uma solução viável, mas a relação benefícios custo não compensaria os resultados... nem acredito que o Estado Português estaria disposto a submeter-se a reivindicações de apoios que algumas dessas organizações, sem meios, logo reclamariam para que esta opção fosse aplicada no terreno, em condições minimamente aceitáveis.

Depois e não menos importante do que isso, há ainda a questão da credibilidade.

Devido ao clima de desentendimento crónico entre muitos dirigentes (mais do que entre instituições), nunca tivemos condições neste país para se constituir uma organização de âmbito nacional que falasse em nome de todos e a uma só voz (União, Federação, Confederação, ou o que quer que seja).

Neste particular, destaca-se o mal-estar crónico que ciclicamente causa tensões e atropelos às mais elementares regras por parte de alguns, em particular nestes momentos de maior debate e agitação, o que seria propício ao surgimento de suspeitas de toda a ordem.

O que pretendo sobretudo exprimir é evitar, a todo custo, que, num futuro próximo ou distante, nunca esta ou aquela associação visse a cair sobre si o ónus da desconfiança ou das acusações de favorecimento, arrastando, mais tarde ou mais cedo, todas as outras, directa ou indirectamente para o descrédito.

Estamos fartos de ler e ouvir casos de alegada corrupção ou favorecimento no país real e não quero objectivamente ver nunca nenhuma associação de radioamadores, por muito credível, certificada, competente e bem administrada que seja, envolvida nesse lodaçal de suspeições fundadas ou infundadas, as quais acabam por destruir tudo à sua passagem.

Mais a mais, temos perfeita consciência que é habitual, seguir-se a uma mudança de Direcção numa Associação  uma radical modificação na forma de gestão, de relacionamento interinstitucional, de postura perante as questões de âmbito nacional ou local, etc, etc. É como se já não fosse a mesma organização de todo, e neste aspecto em particular, o que neste mandato é verdade e é possível, daqui a dois anos, no próximo, já não é bem assim.

Para os que por optimismo e boas intenções, os quais hipoteticamente discordarão desta minha posição e estão seguros das capacidades da respectiva instituição para gerir um tal processo, em condições consideradas óptimas, seria justo ponderarem em duas questões práticas:

a) Dados as mais recentes tendências sociais em que o associativismo está a ser compelido para seguir num determinado rumo, pressionado pela conjuntura, no qual o número de sócios inscritos nada tem a ver com o número de sócios efectivos, mas sobretudo no qual o número de voluntários que estão dispostos a abdicarem do seu tempo livre para colaborarem na causa comum é frequentemente insignificante... haverá condições para se assegurarem sempre os meios humanos imprescindíveis à logística de uma tal responsabilidade, ou seriam sempre os mesmos a acudirem a tudo, umas vezes sim outras vezes não ?

b) Se quase nenhuma associação nacional teve até agora uma capacidade equivalente às estrangeiras, onde o modelo foi aplicado, para assumir as mesmas responsabilidades na formação dos Radioamadores, nomeadamente preparando os candidatos às provas para a obtenção de licença ou para progredirem de classe; como é que nos podemos comparar em termos de aptidão real para assumirmos esta responsabilidade em relação aos exames?

Para mim o futuro das Associações está na formação e não no exame dos próprios formandos.

Nós não temos objectivamente as condições que dispõe a ARRL ou outras, onde este tipo de solução foi adoptado ou ensaiado. Penso que aqui estamos todos de acordo.

Nem tão pouco temos a convicção e os meios humanos para darmos conta do recado. Acho que é mais que consensual.

Ou por outra, temos sim, temos grandes valores neste país, estão é dispersos e pulverizados pelas diversas associações e infelizmente muitos deles têm um relacionamento entre pares tão hostil que nunca conseguiriam trabalhar em conjunto ou admitir e colaborar com os esforços dos demais.

Assim e respondendo às tuas questões, José António Proença:

« Posso concluir que é para ficar tudo na mesma ? ».
Não necessariamente. Podemos encarar a hipótese do "meio-termo" e principalmente começarmos dar atenção e a aprender com as lições do passado como melhorarmos o nosso futuro.

« Posso concluir que escreveste e eu não consigo tirar nada de concreto? ».
Espero que agora consigas tirar algo de concreto. Talvez eu não tenha avançado com uma contraproposta porque haverá tempo para pensarmos melhor sobre este assunto, nomeadamente sem nos estarmos logo a "combater" uns aos outros com a primeira ideia que nos vem à mente antes de ponderarmos sobre todos os prós e os contras até em relação à nossa própria proposta.

« Posso dizer que dizes, não haver solução? » Bem, só a morte não tem solução.



João Costa, CT1FBF
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