ARLA/CLUSTER: «A nossa missão é ajudar outros a dar grandes passos!»

Carlos Nora carlosnora.ct1end gmail.com
Quinta-Feira, 19 de Junho de 2008 - 08:30:18 WEST


Rede dos Emissores Portugueses
Associação Nacional de Radioamadores
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«A nossa missão é ajudar outros a dar grandes passos!» Entrevista exclusiva
de Peggy Whitson, a primeira astronauta a
liderar a Estação Espacial Internacional:: 2008-06-17 *Por Marta F. Reis*

*  [image: Peggy sente-se uma pequena parte da Descoberta do Universo
(NASA)]  Peggy sente-se uma pequena parte da Descoberta do Universo (NASA)Aos
48 anos, Peggy Whitson, a primeira mulher a comandar a Estação Espacial
Internacional (ISS), ainda não perdeu o sotaque de quem cresceu num rancho
do Iowa, no «midwest» americano. Foi em casa que, aos oito anos, viu o
primeiro passo do homem na Lua e ficou com o bichinho de querer ser
astronauta. Ao telefone de Houston, do Centro Espacial da NASA, a astronauta
norte-americana do momento – regressou em Abril de seis meses à frente da
ISS, deu uma entrevista exclusiva ao Ciência Hoje na véspera de um dia
inteiramente dedicado aos media em que se comemoram os 25 anos do voo
histórico de Sally Ride, a primeira mulher americana no espaço.*

  [image: «Nós estamos muito bem treinados! Não tenho medo no
Espaço»(NASA)]  «Nós
estamos muito bem treinados! Não tenho medo no Espaço»(NASA)Num jeito
simples, Peggy, cientista de um currículo enorme de onde saltam à vista as
distinções da NASA, o recorde feminino de "spacewalking" e o vigésimo lugar
na lista dos veteranos espaciais, disse estar muito orgulhosa por fazer
parte da História da Descoberta do Universo.

*Ciência Hoje – Costuma dizer-se que quando se vê a Terra do espaço é que se
percebe o quão frágil é o nosso planeta. É verdade?*
*Peggy Whitson* - Sim, é mesmo verdade. A atmosfera do nosso planeta é tão
fina comparativamente com o tamanho do nosso planeta. É surpreendente ver o
quão frágil e pequenos parecemos.

*CH – Ser a primeira mulher a comandar a Estação Espacial Internacional
alguma vez a fez sentir algum tipo de discriminação?*

*P.W.: -* Não. Penso que tive muita sorte. Durante todo o tempo em que
treinei, e mesmo quando estava a estudar, nas tripulações, nos meus mentores
e colegas havia sempre mulheres muito fortes. A minha mãe também é uma
mulher muito forte. Penso que as grandes influências que tive na minha vida
sempre me mostraram que era possível conseguir tudo o que quisesse. Isso
ajudou-me muito.

*CH – Como é a rotina na Estação Espacial Internacional?*

*P.W.* - Bom, há muitas coisas rotineiras mas é difícil esquecermo-nos de
que estamos no espaço - a ausência de gravidade faz com que tenhamos de
pensar de forma diferente para cada tarefa, não é como se a estivéssemos a
fazer em terra. Neste sentido, acho que não chega a haver propriamente uma
rotina - é sempre muito diferente conduzir experiências científicas ou
reparações naquele ambiente.

*CH – Quais eram as suas tarefas?*

*P.W.* - Enquanto comandante da estação a minha prioridade era a segurança
da tripulação. Mas o meu papel era mais amplo, tinha de garantir que todas
as nossas experiências estavam a ser bem conduzidas. Esta missão foi muito
específica, tivemos muita sorte porque foi um período muito activo. Tivemos
três Shuttles a chegar e tivemos de nos coordenar com eles. Durante a
expedição recebemos mais três módulos pressurizados, o que aumentou de forma
dramática o volume interno da estação. Recebemos também o primeiro Veículo
de Transferência Automatizado (ATV - Automated Transfer Vehicle) da ESA, o
Júlio Verne. Foram tempos muito ocupados.

*CH – Há diferenças entre os astronautas e as astronautas?
*
P.W. - Bem, acho que há sempre diferenças na forma como um homem ou uma
mulher olham para um problema. Acho que a vantagem de existir uma variedade
de personalidades na tripulação, com pessoas com diferentes backgrounds, é
poder aproveitar essas diferenças nas situações que vão surgindo. Há alturas
em que precisamos de uma pessoa muito meticulosa, outras em que dá jeito
alguém mais operacional, com uma perspectiva mais ampla. Penso que a equipa
ideal tem de juntar as peças todas.

*CH – Em que é que pensa um astronauta quando levanta voo?*

P.W. - Desta vez deixámos a Terra num Soyuz, uma nave russa mas, na minha
primeira missão, fui para o espaço num Shuttle (vaivém). O meu primeiro
pensamento, porque íamos no Soyus que tem um levantar muito mais macio e não
num Shuttle, em que se sente a vibração toda e o stress é muito mais rápido,
foi qualquer coisa como "já estamos a andar?"… [risos]

*CH – Nesta expedição passou seis meses na estação espacial, o que perfaz um
ano se juntarmos a missão de 2002. Além de ser um recorde para um astronauta
norte-americano, tem saudades de lá estar?*

*P.W.* - Desta vez, como já lá tinha estado, senti-me como se estivesse a
regressar a casa. Gostei muito de estar lá das duas vezes e tive a sorte de
poder desenvolver trabalhos muito diferentes. Da primeira vez que lá estive
fiz essencialmente investigação científica, já esta missão focou-se mais em
receber os novos módulos. Teve um sabor diferente e foi talvez mais
entusiasmante.

*CH- Quando está no espaço tem algum medo, alguma fobia?*

P.W. -  Nem por isso. Nós estamos muito bem treinados e o facto de já lá ter
estado antes fez-me sentir muito confortável. Os meus medos têm mais a ver
com não conseguir completar as tarefas que nos são atribuídas, para que
possam vir outros depois, para que o próximo Shuttle possa acoplar. O medo é
de não conseguir terminar o trabalho que foi planeado.

*CH – E lá, de que é que tem mais saudades?*

*P.W.* - Bom, da comida sem dúvida – é um bocado aborrecido estar sempre a
comer de latas e pacotes, além de que eu gosto de cozinhar, de inventar
pratos. Mas penso que aquilo de que mais tenho saudades é da família e
amigos, é muito importante vê-los e falar com eles. Ah, e também tenho
saudades de coisas verdes. Desta vez tivemos uma experiência com plantas e
fiquei surpreendida com a forma como ficava feliz só por poder ver uma
plantinha crescer.

*CH – No total tem 39 horas e 46 minutos de passeios fora da nave, um
recorde no que diz respeito a mulheres astronautas. Como descreve essa
experiência?*

*P.W.* - Em inglês diz-se "spacewalking" mas não é bem andar, é mais flutuar
[risos]. Temos de controlar o nosso corpo - aprendemos a fazê-lo dentro da
estação mas lá fora, quando estamos entre 130 e 180 quilos mais pesados,
temos de reaprender a mover-nos. Quando ultrapassamos esse obstáculo é quase
como desenvolver actividades dentro da estação, em que estamos mentalizados
de que não há gravidade. Quando saímos lá para fora temos novamente um
centro de gravidade, com o tempo essa mudança vai-se tornando mais simples.

*CH – É cansativo?*

*P.W.* - Sente-se a pressão do fato a proteger o corpo do vácuo do espaço -
É muito cansativo. Mas é a coisa mais espectacular … Estar no espaço é como
passar toda a vida num quarto escuro e, de repente, alguém acende a luz,
olhamos pela janela e há toda uma textura e cor que nunca tínhamos visto. Ir
lá fora quando se está a viver dentro de quatro paredes é uma sensação
única. Os russos têm um nome para os fatos espaciais que significa águia...
É talvez a imagem mais parecida que consigo dar do que é voar à volta do
planeta.

*CH – Qual é a coisa mais bonita de que se lembra de ter visto?*

*P.W.* - É uma escolha difícil. Adoro as cores e a luz dos desertos no norte
de África, é uma imagem muito quente – imagino que também seja muito quente
lá… [risos]. Mas acho que a imagem mais bonita que guardo na minha cabeça
são os corais vistos lá de cima, sobretudo nas Caraíbas, são a coisa mais
bonita que se pode ver.

*CH - Quando olha para o universo lá de cima, enquanto cientista, acredita
em Deus ou em alguma coisa para além do Big Bang?*

*P.W.* -  Acho que acima de tudo essa visão dá-nos uma perspectiva muito
especial de quem somos e de qual é o nosso lugar no mundo e no universo -
não só no mundo. É difícil voltar a pensar que o nosso planeta é o centro do
que quer que seja. Abre-nos os olhos para o quão grande e incrível é o
universo. É uma experiência iluminadora.

*CH – Esta é uma pergunta típica para um astronauta: acredita em
extraterrestres?*

*P.W.* - Tenho a certeza que há outras formas de vida por aí. Seria muito
mau se não houvesse.

*CH – Quando terminou a sua licenciatura em biologia e química e, mais
tarde, o doutoramento em bioquímica, já sabia que queria ser astronauta?*

*P.W.* - Sim, já. Eu vi o primeiro homem a andar na Lua em casa, quando
tinha 8 anos. Quando temos 8 anos, querer ser astronauta é uma ideia tão
"fixe" como outra qualquer, mas foi-se mantendo. Um ano depois de acabar o
liceu houve uma primeira classe de astronautas que tinha mulheres e acho que
foi aí que fixei o meu objectivo: ia ser astronauta.

*CH – Vê o espaço como um enorme laboratório?*

*P.W.* - Sim, um laboratório incrível. As nossas expectativas são enormes –
é um sítio único para trabalhar.

*CH – Acha que as missões tripuladas são indispensáveis na exploração do
universo?*

*P.W.* - Eu penso que a combinação das missões robóticas com as tripuladas é
o caminho a seguir. As missões robóticas ajudam a obter dados adicionais mas
acho que o resultado é melhor, conseguimos mais informação, se estivermos
envolvidos directamente, enquanto pessoas, na exploração do universo.

*CH - A Agência Espacial Europeia está a recrutar astronautas e pela
primeira vez há candidatos portugueses. Qual é a missão de um astronauta e
que mensagem tem para aqueles que querem ir para o espaço?
*
*P.W.* - A missão de um astronauta é levar uma imagem do universo da melhor
forma que podemos ao maior número de pessoas que pudermos. O trabalho de
explorar, de dar passos novos, é uma parte muito pequena do nosso trabalho.
Passamos grande parte do nosso tempo a trabalhar para que a próxima
tripulação ou o próximo veículo consiga desempenhar as suas tarefas melhor
do que nós conseguimos. A nossa missão é muitas vezes ajudar outros a dar
grandes passos.

*CH – Sente-se parte da História da Descoberta do Universo?
*
*P.W. -* Sim, sinto-me uma pequena parte e é um sentimento enorme. Estou
muito orgulhosa.


Fonte Informação: Ciência Hoje

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CT2HIV
José A. Proença
IM58KP

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