Re: ARLA/CLUSTER: Sobre a nova legislação

Mariano Gonçalves ct1xi sapo.pt
Terça-Feira, 9 de Janeiro de 2007 - 21:30:28 WET


Meu estimado Carlos Neves,

A propósito do seu comentário «só quis frisar que a discussão sobre os CBs e
«Radioamadores é contraproducente» estou inteiramente de acordo consigo. A
questão é mais profunda.

Tal como você, também eu tive problemas, por não saber.
Quando eu me iniciei como amador, fui rádio-escuta durante vários anos
(CT0307).
E fui escuta, porque podia receber o serviço emissor dos postos de amador
(radioamadores) através de um aparelho de radiodifusão em ondas-curtas,
porque naquela época só se emitia em AM (a esmagadora maioria das estações
em todo o mundo) e eu nem sequer possuía um receptor de radiocomunicações.

A minha passagem a amador emissor, foi clandestina.
Fiz um emissor sem estar legalizado, e passado cerca de 30 dias fui detido e
todo o material apreendido.
Resta dizer que eu nasci e morava a apenas 1.000 metros do centro de
fiscalização radioeléctrica dos CTT, a DSR, em Barcarena. Curiosamente,
foram os próprios fiscais da DSR e o director do centro de fiscalização
radioeléctrica (o sr. Vardasca) que me apoiaram e ajudaram a ser legalizado.
Aquilo era crime.

O que quero dizer, é que a maioria daqueles que experimentaram estes
domínios do conhecimento, raramente o conseguiram alcançar por vias
regulares, mediante enquadramentos escolares, pedagógicos ou apoios dos
organismos públicos ou mesmo privados (apoios associativos).

A questão da cultura, e a falta dela, resulta das opções pessoais de cada
um: de quem não se quer valorizar, e daqueles que optam por outras culturas
e atitudes. Quanto à educação não comento a falta dela.

As entidades oficiais, a administração central, a DSR e o ICP tiveram sérias
responsabilidades, naquilo que concerne ao serviço de amador, e do facto de
terem facultado passagens administrativas a milhares de pessoas que não
estavam, não estão, e, supostamente, nunca se irão qualificar nestas áreas
tecnológicas e da Rádio, nem como operadores de rádio e comunicações, já que
não são possuem qualificações técnicas.
Penso que isto responde à sua questão. O resultado é tudo aquilo que hoje se
observa nas faixas de amador, nas faixas do serviço rádio pessoal (o CB) e
em todos os lugares, inclusive agora nos PMR ou LPD em UHF.

Existiram fortes lobbys entre directores e grupos infiltrados na REP e a
própria DSR, para fazerem passar a classes onde era exigida a telegrafia,
promovendo radioamadores que nunca souberam a prática da telegrafia nem
técnica. Designadamente de grupos de amadores fortemente ligados a concursos
e diplomas de DX (porque disso precisavam). Claro que atrás desses amadores
foram milhares de outros, com ou sem interesse de possuir uma qualificação
que não tinham, mais grave, onde o Estado comprova que essas pessoas são:
«qualificadas para a prática da telegrafia por código de Morse».

Compreendo a posição da actual direcção da ANACOM; e penso que estarão a
tentar corrigir todos os erros que foram cometidos durante estes últimos 30
anos, incluindo o da qualificação administrativa e a ausência de
qualificação técnica.

Um dia destes temos de ir beber umas ponchas, eu tenho cá o mexelhete.

Um abraço amigo,

Mariano



----- Original Message -----
From: "ct3fq" <ct3fq  ct3team.com>
To: "Resumo Noticioso Electrónico ARLA" <cluster  radio-amador.net>
Sent: Monday, January 08, 2007 9:09 PM
Subject: Re: ARLA/CLUSTER: Sobre a nova legislação


>
> Caro Mariano, penso que não me está a atirar pedras.:-)
>
> Que fique esclarecido que eu fui CB pirata (o crime já prescreveu!)  e
> isso não me perturba nada.
> Eu Tinha 14 anos (1976) e utilizava o CB como os  miúdos de hoje
> utilizam o  Messenger na Internet. Queria lá saber de tecnologia! Aquilo
> servia apenas para falar, para namorar,  para chatear os taxistas e
> fugir ao jipe dos Serviços radioelectricos! Rebelde? Sim... Que esperar
> dum miudo de 14 anos? Que conhecesse as leis de Maxwell e o vector
Poynting?
>
> Uma certeza tenho: Se eu nunca fosse CB, nunca seria radioamador!Como?
> Nem sabia que existiam!
> A comunidade CB da altura tinha piada,  e a titulo de curiosidade,
> informo-o  que o primeiro aparelho de SSB da Madeira pertenceu ao, agora
> CT3BX, (era um Tokay de 23 canais) e nós gozavamos dele "porque  o radio
> tinha a modulação estragada e não se percebia nada do que ele dizia".
> Esta era a geração CB Madeirense da altura! É condenável?
>
> Caro Mariano, que fique também esclarecido, que concordo consigo sobre
> os radioamadores cada vez mais  incultos (não confundir cultura com
> educação) . Mas de quem é a culpa? Não será nossa? Dos mais velhos que
> ignoraram e desprezaram completamente as novas gerações da altura? Da
> ANACOM  que para se livrar dos CBs, facilitou os exames de amador?
>
> Caro Mariano, conheço radioamadores  que nem sabem qual a cor do
> positivo duma fonte de alimentação!É triste?
> Mais! Conheço um CT3 que quando lhe disseram que a estação precisava de
> terra foi buscar um cântaro de flores. Cómico? Hilariante?
>
> No meu post anterior, só quiz frisar que a discussão sobre os CBs e
> Radioamadores é contraproducente! Nada mais...
>
> As minhas desculpas se entendeu de modo diferente...
>
> Um Abraço.
>
> CT3FQ
> Carlos Neves






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