ARLA/CLUSTER: A HISTÓRIA DO NAUFRÁGIO AO LARGO DA FIGUEIRA DA FOZ, TAL COMO SE PASSOU (vide página da ARCP em: http://ct2hky.no-ip.biz/arcp2006/index.html)

João Gonçalves Costa joao.a.costa ctt.pt
Quinta-Feira, 15 de Fevereiro de 2007 - 13:46:56 WET


UMA HISTORIA DE RADIOAMADORISMO

    Aqui fica um resumo da uma história de um cidadão que tem como hobby o radioamadorismo e que faz essa actividade com muito gosto e grande convicção.

    Tendo estado durante a tarde nas instalações da Associação que faz parte ARCP (Associação de Radioamadores Costa de Prata) dirigiu-se a casa ligando os seus equipamentos do hobby pelo qual "gasta" muito do seu tempo. Quase de imediato, e pelas 19h00  começa a ouvir um pedido de socorro no canal 16 do VHF marítimo. A escuta deste canal deve-se ao facto da Figueira da Foz ser um porto marítimo com alguma actividade. Pensando que se tratava de alguma brincadeira de mau gosto, e que com certeza as autoridades marítimas portuárias iriam com certeza responder a esse mesmo pedido. O pedido de socorro era repetido aproximadamente de 10 em 10 minutos e identificava a embarcação como sendo "Way of Life" (Modo de vida em português), e dava umas coordenadas que tinha alguma dificuldade em entender. Percebia unicamente as partes iniciais 40.09 qualquer coisa Norte e 8.58 qualquer coisa oeste.

    Por volta das 19h45 depois de vários pedidos recebidos e sem qualquer resposta de ninguém, comecei a pensar no que fazer. O que me pareceu mais obvio foi avisar as autoridades locais. Recorrendo a um jornal local, na sua secção "Contactos Úteis" encontrei o número que me pareceu ser o mais ajustado Guarda Fiscal. Fiz o primeiro contacto às 10/02/2007 19:46:05 233407340 (registrado no operador móvel) ao qual relatei que estava a ouvir no canal 16 do VHF marítimo um pedido de socorro da embarcação "Way of Life" já à algum tempo e que ninguém lhe estava a responder, se podiam ir lá fazer escuta e responder à mesma. Quem me atendeu do outro lado e até este momento parecia bastante interessada no assunto, chegando mesmo a dizer "Vou informar o oficial dia!", mas a parte das perguntas intermináveis estava a chegar, "É da capitania? Quem está a falar?", neste momento e considerando que o alerta estava dado e que não iria merecer qualquer crédito decidi desligar e tentar outra alternativa e talvez um reforço da situação. 

    Foi então que consegui fazer o contacto com outro colega da mesma associação que lhe expliquei a situação, mais habituado a estas situações telefonou directamente para o 112, foi de imediato reencaminhado para a emergência médica, atendeu uma senhora doutora, que não me recordo do seu nome, e passei a explicar: "Boa noite, olhe não sei se estou a ligar para o sitio certo, as só resta esta opção, como tal, resolvi ligar", a senhora muito interessada e simpática perguntou-me o nome, eu que respondi com o primeiro e ultimo, e logo de seguida disse-me para lhe dizer o que se estava a passar, foi então que eu: "Olhe! Eu sou Radioamador, e escutei um pedido de socorro á mais de meia hora atrás de uma embarcação que se está a afundar ao largo do cabo Mondego aqui na Figueira da Foz, e até ao momento ninguém lhes passou cartão, olhe que eles vão morrer todos!!!" a senhora muito prontamente pediu-me para não desligar que ia ver o que se podia fazer, aguardei vários minutos em espera, tendo sido a seguir aconselhado a, em situações semelhantes, ligar sempre o 112 que depois ele reencaminhavam as chamadas para o local indicado, e "agora vou transferir a sua chamada para o Centro de Socorro resgate e salvamento de Lisboa (suponho que é assim o nome correcto), disse a senhora doutora do serviço de emergência médica", tendo eu que aqui deixar este agradecimento, "obrigado por ter ajudado a salvar estas 3 vidas", então do outro lado, no Centro de Socorro resgate e salvamento de Lisboa um senhor pergunta-me o nome, o numero de telefone, morada, e é nesta altura que eu hesitei se deveria de continuar a dar a informação, pois fiquei recioso de que algo de grave me pudesse vir a acontecer caso alguma coisa não fosse como eu contava, perguntei se alem do numero de Bilhete de Identidade, seria preciso mais algo, tendo de imediato sido pedido que conta-se o que se estava a passar, ao que lhe respondo "Eu sou Radioamador, e escutei com outro colega, um pedido de auxilio de uma embarcação que se está a afundar aqui na Figueira da Foz, ao largo do cabo Mondego" foi então que o senhor me pergunta se eu sabia as coordenadas que estavam a ser transmitidas, tendo apenas dito que como me encontrava em estão move não sabia ao certo, foi então perguntado se sabia pelo menos o nome da embarcação, tendo eu pedido ao senhor para aguardar um momento que ia entrar em contacto via rádio (dentro da banda amadora, e no repetidor local da Figueira da Foz - RV53) com o outro colega, para saber se ele tinha essa informação, então " ALÔ CT2J.. É CT2H.. ; AQUI CT2J.. ESTOU NA ESCUTA ; SABES O NOME DA EMBARCAÇÃO QUE SE ESTÁ A AFUNDAR? ; AQUI CT2J.. SIM SEI, É "WAY OF LIFE", QUER DIZER "MODO DE VIDA" EM PORTUGUÊS ; OK CT2JA.. OBRIGADO E ATÉ MAIS JÁ DE CT2H.." foi então que senti, que o senhor que estava do outro lado do telefone, acreditou mesmo na veracidade dos factos, agradecendo-nos, pedindo para continuar a dar informações da mesma forma que tinha sido agora feito, caso as tivéssemos mais algo ou que eles não conseguissem o contacto com a embarcação, tendo assim terminado o meu telefonema de alerta a quem acredito ter sido a pessoa certa, o meu "obrigado por ter ajudado a salvar estas 3 vidas".

    Logo de seguida, cerca das 20H00, se começa-se a ouvir a "Lisboa Rádio" a chamar a embarcação bem como a Capitania da Figueira da Foz. O espaçamento entre pedidos de socorro estavam cada vez mais distantes em termos de tempo. Mas... Finalmente o pedido de socorro novamente! E desta vez a capitania ouviu-o! Graças a DEUS! Finalmente a historia estava validada e tudo apontava para um final feliz! E nós os dois mais felizes ficamos, pois sentimos que provavelmente já não iríamos ser presos, não era um falso alarme, mas sim uma historia verídica tal como se estava farto de tentar contar.

    As comunicações estavam a correr bem, e a capitania tive o mesmo problema que também me tinha deparado, não era perceptível a parte final das coordenadas mas após algumas tentativas foram entendidas! De terra tentavam fazer alguns sinais para a embarcação tentar dar algum ponto de referencia, mas não conseguiam, o que era estranho visto que no ponto que me encontrava conseguia por vezes localizar uma pequena luz. Gritei intuitivamente ao rádio a localização da luz. Nestes entretanto foi pedido o número de tripulantes e o sexo dos mesmos. Eram três, tratava-se de yate sem vela, sem motor e a meter água, o sexo dos tripulantes nunca se chegou a conhecer. Foi então pedido o lançamento de um verylight por parte das autoridades. Mais uma vez aparentemente ninguém consegui ver o mesmo, foi então que voltei a gritar que era à esquerda do cabo Mondego por cima de um dos cafés da praia para quem estava no meio da avenida! Voltou uma voz afável agradecendo e dizendo que já tinham igualmente localizado, contudo outra voz se ouviu solicitando informações de quem estava a dar tais indicações, de quem se tratava ,etc. Com isto tudo já passava das 21h00. Foi dada indicação à embarcação que o salva vidas não tinha condições de saída e que vinha um helicóptero da marinha. O tempo previsto para o socorro era 45 minutos. 

    Foi montados entretanto dois centros, um na subida da serra da boa viagem, na zona conhecida como farol velho ( no miradouro) e outro onde possivelmente o helicóptero poderia aterrar perto do hospital junto à praia.

    Já passava algum tempo das 22h00, quando chegou o helicóptero! Tentou-se mais contactos via rádio com os tripulantes da embarcação que não deram qualquer efeito. O helicóptero pediu então silencio e começou a executar as operações de socorro.

    Quase a chegar à 23h00 o helicóptero informa que já tem os tripulantes em segurança e que se encontram em boas condições. Já se encontravam a receber alguma alimentação e água. Ao fazer a aproximação à possível zona de aterragem os mesmos disseram que não havia condições, sendo as alternativas Monte Real ou a Portela. Depois da troca de mais umas questões e visto que os tripulantes estavam bem de saúde, foi dada a informação para se dirigirem à Portela.

    Assim acaba esta historia em bem! Na comunicação social começou a sair informação da grande operação de sucesso, de como a capitania do porto da figueira da foz, marinha de guerra e os bombeiros se tinham portado tão bem. Sendo duvida que o final é feliz, contudo ficam algumas perguntas que ficam sem resposta:

    - Porque nenhuma autoridade marítima estava a fazer escuta na canal 16 do VHF marítimo? 
    - Embora se compreenda o role de questões, mas porque não se partiu logo para a escuta e tentativa de contacto? 
    - Diz-se que o helicóptero estava na zona de Aveiro a proceder igualmente a um salvamento, não existiam outros meios?     -Porquê demorou mais de uma hora? Não existiam outros meios?

    Desta vez  vão chamar novamente criminosos aos radioamadores (como aconteceu a quando da publicação desta noticia no Jornal Noticias) quando fazem escutas daquilo e doutro? Pelo menos e neste caso se prova que ainda bem que alguém tem como hobby o radioamadorismo, e principalmente, que dedica muitas horas do dia á escuta.

 

ESTA FOI A HISTORIA REAL, E QUE SE PASSOU NO DIA 10 DE FEVEREIRO DE 2007, QUE TEVE UM FINAL FELIZ, SE ASSIM NÃO FOSSE, LÁ TERÍAMOS QUE COMPARA-LA COM O CASO IDÊNTICO OCORRIDO NA REGIÃO DA NAZARÉ Á NÃO MUITOS TEMPO ATRÁS.

APÓS TUDO ISTO, A HISTORIA FOI CONTADA DE VÁRIAS FORMAS E EM DIVERSOS ÓRGÃOS DE COMUNICAÇÃO SOCIAL QUE DEIXO AQUI EM BAIXO PARA LEREM, COMPARAREM, E TIRAREM AS VOSSAS CONCLUSÕES.

DIÁRIO DE COIMBRA

JORNAL AS BEIRAS

JORNAL NOTICIAS

JORNAL DE NOTICIAS DE SEGUNDA-FEIRA

JORNAL DE NOTICIAS ONLINE

O MÉRITO DESTE TIPO DE SITUAÇÃO É DE TODOS OS RADIOAMADORES, TODOS NÓS ESTAMOS DE PARABÉNS, SENDO QUE APENAS HOUVE DUAS PESSOAS QUE DERAM A CARA E/OU A IDENTIDADE, MAS FOSSE PASSADO COM QUEM QUER QUE FOSSE, FELIZMENTE, E MUITO PROVAVELMENTE TERIA TIDO O MESMO PROCEDIMENTO, ASSIM SENDO, MAIS UMA VEZ SE PROVA QUE OS RADIOAMADORES ESTAREM NA ESCUTA DE FREQUÊNCIAS RESERVADAS PARA USO DE ENTIDADES OFICIAIS, NÃO É UM CRIME, TALVEZ ISSO SIM, UMA MAIS VALIA PARA GARANTIR A INTEGRIDADE DE VIDAS HUMANAS.

ESTE DOCUMENTO FOI ELABORADO POR DOIS RADIOAMADORES SÓCIOS DA ARCP E QUE QUISERAM DESTA FORMA PARTILHAR COM TODO A COMUNIDADE RADIOAMADORA, E DAR AQUI PUBLICAMENTE UM EXEMPLO, PARA QUE EM SITUAÇÕES SEMELHANTES, NENHUM RADIOAMADOR TEMA AS CONSEQUÊNCIAS QUE PODEM ADVIR DE UM ALERTA QUE TENHA DE FAZER. EXPRESSAMOS AQUI TAMBÉM O NOSSO MUITO OBRIGADO AO COLEGA RADIOAMADOR QUE NOS ENVIOU OS RECORTES DOS JORNAIS QUE AQUI DISPONIBILIZAMOS.




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