ARLA/CLUSTER: Afinal o que é que se passa ?

Miguel Andrade ct1etl clix.pt
Quinta-Feira, 8 de Fevereiro de 2007 - 00:55:40 WET


Meus caros e prezados colegas,

Passam-se meses, ( e ultimamente chegou a praticamente um ano ), entre
oportunidades para usar as frequências de FM na faixa dos 2 metros.
Habitualmente, os últimos QSO's nos canais aconselhados pela I.A.R.U. para
comunicações ponto-a-ponto ( leia-se " simplex " ) eram feitos " por
encomenda ", isto é, com hora marcada e para uma audiência combinada de
colegas.
A realidade passou-me por isso « de raspão » durante bastante tempo.
No entanto como bom radioamador, a minha escassa actividade é constituída
por 80% de escuta e 20% de emissão/escuta.
Há pouco tempo atrás, vá-se lá saber porquê, dei comigo a trocar outras
frequências pela pesquisa à faixa dos 2 metros em busca de vozes conhecidas.
O que tenho ouvido deixou-me escandalizado !!!
Não foi há tanto tempo assim que eu próprio usava os 145 MHz em longos e
profícuos comunicados, vários dias por semana, todas as semanas do mês.
Mas afinal o que é que se passa ?
Onde é que fiquei parado no tempo ?
Aguardo os vossos comentários sobre os dois primeiros pontos ( para início
de conversa ) :

Situação 1. No artigo 17º da Portaria nº 322/95 de 17 de Abril, pode ler-se
o seguinte... « no estabelecimento de uma comunicação, o amador deve
observar as seguintes normas :
a) Emitir o indicativo de chamada no início e no fim de cada emissão;
(...) ».
No artigo 23.º do Decreto-Lei nº 5/95 de 17 de Janeiro, ( Regulamento de
Amador de Radiocomunicações ), pode ler-se o seguinte... Coimas - 1.
Constituem contra-ordenações puníveis com coima de 5.000$ a 25.000$, no caso
de pessoas singulares, ou até 50.000$, no caso de pessoas colectivas, as
seguintes infracções : a) Não emissão ou emissão incorrecta do indicativo de
chamada; (...).
Eu sei que esta legislação está simplesmente obsoleta ( reparem que as
sanções ainda estão em escudos ), contudo é a Lei vigente e, até prova em
contrário, a vida em sociedade depende do respeito ( coercivo ou não ) da
legislação.
A minha pergunta é a seguinte...
Porque razão já quase ninguém cumpre isto ?
Meus amigos, por muito que nos irrite estar constantemente a usar o
indicativo no início e no fim de cada transmissão, não há nada a fazer... é
a Lei nacional e o costume internacional.
Certas frequências na faixa dos 2 metros tornarem-se agradáveis canais de
PMR ou LPD ( apenas divergentes em frequência mas sobretudo com mais
potência de emissão ).
Certamente estou tão desactualizado que ainda não percebi que os colegas em
causa, ( alguns deles mais do que simples colegas são também amigos ), já
estão a funcionar com um dispositivo electrónico de identificação digital de
acordo com o Decreto-Lei nº45/12 de 6 de Agosto ( para os mais distraídos é
tão somente o futuro Regulamento de Amador de Radiocomunicações aprovado em
2012 ).

Situação 2. Se os referidos canais são de comunicação ponto-a-ponto ( ditos
" simplex " ), porque razão há várias estações a emitirem em simultâneo ?
Das duas uma... ou é um avançadíssimo modo digital em Frequência Modulada
que permite múltiplas comunicações simultâneas SEM SE ATRAPALHAREM ou
interferirem ou... é uma tremenda falta de civismo e de educação.
De facto esta particularidade não é exclusiva da faixa dos 2 metros.
Nas faixas dos 80 metros e dos 40 metros é também uma doença habitual.
Não há nada mais irritante e decadente do que estar um colega a emitir num
canal de uma só via e estar o mesmo constantemente a ser interferido pelos
colegas participantes na mesma conversa, sobretudo se os " descuidados "
convivas estiverem a fazer comentários sobre quem está a emitir e não tem
possibilidade de ter acesso a estes " piropos ".
Para além da falta de respeito e da tremenda falta de ética, uma vez mais a
Lei... sim porque estes simpáticos e educados colegas terceiro mundistas que
se divertem a " apunhalar pelas costas " quem por devido direito tinha a vez
da palavra, também não identificam as respectivas estações nestas "
operações especiais ".
O que é mais estranho neste comportamento, recriminável sob todos os pontos
de vista, é que o " palhaço " que durante a sua emissão é desrespeitado
pelos jocosos comentários dos seus « amiguinhos da onça »... acaba por fazer
o mesmo em relação aos primeiros !?!
Neste interessante jogo denominado « cabra surda », algumas das expressões
escutadas foram :

a) « Epá este gajo nunca mais se cala, irra ».
b) « O Palhaço ( nome fictício ) hoje não chega a lado nenhum, ó
Cortacâmbios ( nome fictício ) qual era mesmo o sinal com que o Falabarato
( nome fictício ) estava a receber este apeadeiro ? »
c) « Arrotabojardas ( nome fictício ) e Lançachamas, vou ali e já volto,
estou há 5 minutos sem fumar e vou acender uma tocha; avisem aí o Palhaço
( nome fictício ) que eu não podia esperar nem mais 10 segundos até ele
acabar este câmbio de 3 minutos ».
d) « Alguém está ligado no MSN ? ».
e) « Atenção Tubarão estão-te a chamar no repetidor XPTO ».
f) « Vocês estão a ouvir o QSO nos 7,070 ? ».
g) « Quem é que está a falar afinal ?... não lhe estou a conhecer a voz ! ».

Estas intervenções de emergência máxima são o paradigma do que justifica a
interrupção de QUALQUER comunicação no Serviço de Amador ( independentemente
do interesse da prosa de quem está a emitir ).
Propositadamente os nomes verdadeiros foram omitidos para que esta
transmissão de ideias seja a mais justa e imparcial possível. Quanto aos
indicativos de estação... infelizmente nunca foram referidos em frequência.

Esta selecção de duas situações são apenas « a ponta do " iceberg " ».
Desde o uso indevido de frequências de acordo com as recomendações da
I.A.R.U., passando pelo extraordinário e exótico vocabulário que torna o
radioamador um estrangeiro dentro do seu próprio país e da sua própria
cultura, muito mais haveria para comentar.
Aberrações à parte, convinha perguntar... de quem é a culpa desta anarquia ?
Na minha opinião tudo começa na clara incompetência dos serviços, ditos
competentes, para fiscalizarem o espectro radioeléctrico e fazerem cumprir a
LEI.
Mas não estão livres de culpa os próprios Radioamadores. E aqui refira-se
que há o mesmo peso e a mesma medida tanto para os que prevaricam, como para
os que não concordando com esta forma de estar e de actuar limitando-se a
desaparecer para a Internet ou a arranjarem canais alternativos nos 144 MHz
( ou noutras faixas ).
Na minha inocência, e já escandalizado com tanta " criatividade " abordei o
assunto de forma civilizada numa destas " rodinhas " de amigalhaços.
Lá para a terceira tentativa de integração no QSO, ( identificando a minha
estação pelo indicativo e não com a habitual expressão « oportunidade » ),
os simpáticos convivas acabaram por me dar uma hipótese de tirar a minha
grande dúvida.
Partindo do princípio que os colegas era idóneos e não estavam a infringir a
lei, qual era o sistema maravilhoso que estavam a usar para evitarem
identificar as respectivas estações no início e no final das suas
intervenções ?
Nunca esperei foi escutar de um radioamador licenciado nos anos idos de 1970
como resposta algo como... « ó colega, não estranhe, nós somos todos amigos.
De facto tem razão, não estamos a cumprir a lei, mas como nos vemos todos os
dias no café e moramos aqui ao pé não vemos necessidade de estar sempre a
dar o indicativo de estação ».
É caso para perguntar... já que são tão amigos e vivem tão perto, não está
na altura de descobrirem o PMR-446 ?
Ah minha saudosa Banda do Cidadão do início dos anos 1980; volta que estás
perdoada !!!!
Aqui o vosso amigo nos 27 MHz já dizia o " indicativo " de estação no início
e no fim de cada emissão... e a tal não era obrigado, nem sequer sonhava um
dia realizar o dito " exame " para o Certificado de Amador nacional !
E esta hein ?


73's de Miguel Andrade ( CT1ETL )
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