ARLA/CLUSTER: Re: Para nao se falar sempre da mesmas coisas por estas bandas...

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Sexta-Feira, 10 de Agosto de 2007 - 14:29:21 WEST


Artigo de Nuno Markl - para a geração dos 30

A juventude de hoje, na faixa que vai até aos 20 anos, está perdida. E está 
perdida porque não conhece os grandes valores que orientaram os que hoje 
rondam os trinta. O grande choque, entre outros nessa conversa, foi quando 
lhe falei no Tom Sawyer. "Quem? ", perguntou ele.

Quem?! Ele não sabe quem é o Tom Sawyer! Meu Deus... Como é que ele consegue 
viver com ele mesmo? A própria música: "Tu que andas sempre descalço, Tom 
Sawyer, junto ao rio a passear, Tom Sawyer, mil amigos deixarás, aqui e 
além..." era para ele como o hino senegalês cantado em mandarim.

Claro que depois dessa surpresa, ocorreu-me que provavelmente ele não 
conhece outros ícones da juventude de outrora. O D'Artacão, esse herói 
canídeo, que estava apaixonado por uma caniche; Sebastien e Soleil, 
combatendo os terríveis Olmecs; Galáctica, que acalentava os sonhos dos 
jovens, com as suas naves triangulares; O Automan, com o seu Lamborghini que 
dava curvas a noventa graus; O mítico Homem da Atlântida, com o Patrick 
Duffy e as suas membranas no meio dos dedos; A Super Mulher, heroína que nos 
prendia à televisão só para a ver mudar de roupa (era às voltas, 
lembram-se?); O Barco do Amor, que apesar de agora reposto na Sic Radical, 
não é a mesma coisa. Naquela altura era actual... E para acabar a lista, a 
mais clássica de todas as séries, e que marcou mais gente numa só geração:

O Verão Azul. Ora bem, quem não conhece o Verão Azul merece morrer. Quem não 
chorou com a morte do velho Shanquete, não merece o ar que respira. Quem, 
meu Deus, não sabe assobiar a música do genérico, não anda cá a fazer nada.

Depois há toda uma série de situações pelas quais estes jovens não passaram, 
o que os torna fracos: Ele nunca subiu a uma árvore! E pior, nunca caiu de 
uma. É um mole. Ele não viveu a sua infância a sonhar que um dia ia ser 
duplo de cinema. Ele não se transformava num super-herói quando brincava com 
os amigos. Ele não fazia guerras de cartuchos, com os canudos que roubávamos 
nas obras e que depois personalizávamos.

Aliás, para ele é inconcebível que se vá a uma obra. Ele nunca roubou 
chocolates no Pingo-Doce. O Bate-pé para ele é marcar o ritmo de uma canção.

Confesso, senti-me velho...

Esta juventude de hoje está a crescer à frente de um computador. Tudo bem, 
por mim estão na boa, mas é que se houver uma situação de perigo real, em 
que tenham de fugir de algum sítio ou de alguma catástrofe, eles vão ficar à 
toa, à procura do comando da Playstation e a gritar pela Lara Croft.

Óbvio, nunca caíram quando eram mais novos. Nunca fizeram feridas, nunca 
andaram a fazer corridas de bicicleta uns contra os outros. Hoje, se um 
miúdo cai, está pelo menos dois dias no hospital, a levar pontos e fazer 
exames a possíveis infecções, e depois está dois meses em casa fazer 
tratamento a uma doença que lhe descobriram por ter caído. Doenças com nomes 
tipo "Moleculum infanticus", que não existiam antigamente.

No meu tempo, se um gajo dava um malho muitas vezes chamado de "terno" nem 
via se havia sangue, e se houvesse, não era nada que um bocado de terra 
espalhada por cima não estancasse.

Eu hoje já nem vejo as mães virem à rua buscar os putos pelas orelhas, 
porque eles estavam a jogar à bola com os ténis novos. Um gajo na altura 
aprendia a viver com o perigo. Havia uma hipótese real de se entrar na 
droga, de se engravidar uma miúda com 14 anos, de apanharmos tétano num 
prego enferrujado, de se ser raptado quando se apanhava boleia para ir para 
a praia. E sabíamos viver com isso. Não estamos cá? Não somos até a geração 
que possivelmente atinge objectivos maiores com menos idade? E ainda nos 
chamavam geração "rasca"...

Nós éramos mais a geração "à rasca", isso sim. Sempre à rasca de dinheiro, 
sempre à rasca para passar de ano, sempre à rasca para entrar na 
universidade, sempre à rasca para tirar a carta, para o pai emprestar o 
carro. Agora não falta nada aos putos.

Eu, para ter um mísero Spectrum 48K, tive que pedir à família toda para se 
juntar e para servir de presente de anos e Natal, tudo junto. Hoje, ele é 
Playstation, PC, telemóvel, portátil, Gameboy, tudo.

Claro, pede-se a um chavalo de 14 anos para dar uma volta de bicicleta e ele 
pergunta onde é que se mete a moeda, ou quantos bytes de RAM tem aquela 
versão da bicicleta.

Com tanta protecção que se quis dar à juventude de hoje, só se conseguiu que 
8 em cada dez putos sejam cromos.

Antes, só havia um cromo por turma. Era o totó de óculos, que levava porrada 
de todos, que não podia jogar à bola e que não tinha namoradas.

É certo que depois veio a ser líder de algum partido, ou gerente de alguma 
empresa de computadores, mas não curtiu nada.







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