ARLA/CLUSTER: Re: Amadores de Rádio, cultura e competência
Mariano Gonçalves
ct1xi sapo.pt
Domingo, 26 de Novembro de 2006 - 09:52:55 WET
Carlos,
Os exemplos tecnológicos são bem paradigmáticos, vejam este exemplo
recorrente, acerca do CW:
http://www.youtube.com/watch?v=hH_KKa8vJ-Y
73, Mariano
----- Original Message -----
From: "Mariano Gonçalves" <ct1xi sapo.pt>
To: "Resumo Noticioso Electrónico ARLA" <cluster radio-amador.net>;
<ct1etl clix.pt>; "Carlos Mourato CT4RK" <radiofarol gmail.com>
Sent: Sunday, November 26, 2006 9:44 AM
Subject: Amadores de Rádio, cultura e competência
> Bom dia,
>
> Meu caro Mourato, eu peço-te desculpas de me intrometer no Vosso diálogo,
> acerca deste assunto.
> Mas o cota, também gostaria de contribuir para esse debate, com um pouco
do
> meu ponto de vista pessoal.
>
> Sou amador de rádio desde 1965, iniciei-me como rádio-escuta ainda muito
> jovem, e só depois, por motivos conjunturais, quer técnicos, quer
> financeiros, eu pude fazer o exame, construir e instalar a estação que me
> permitiu passar a ser rádio-emissor.
>
> Eu fui detido em 1966 pelos fiscais radioeléctricos da DSR dos CTT, por
ter
> construído e empregue um emissor clandestino. Eu morava a cerca de 1.500
> metros do centro de fiscalização de Barcarena.
> Foram os próprios fiscais e ainda o antigo director do centro de
> fiscalização o Sr. Vardasca, quem me ajudaram a resolver legalmente este
> assunto, e foram eles depois que me ofereceram mais material de rádio e
> incentivaram para continuar.
> Isso marcou a minha opção e vida profissional.
>
> Durante estes tempos, com a passagem dos anos de 1960 para os anos de 1980
e
> 1990 ou sejam dos tempos da auto-construção da estação, para a compra da
> estação de rádio, acabámos todos nós por nos apercebermos que afinal os
> amadores de rádio não são todos iguais e que existem tipos diferentes de
> amadores a fazer diversas formas de radioamadorismos. Uma diversidade
> cultural que nos enriquece, e que devemos respeitar, mas que deve ser
> regulada.
>
> Considero que poderão existir hoje três formas de ser amador da Rádio:
>
> Radioamadorismo Técnico - dirigido para os aspectos da cultura da ciência
e
> tecnologia, está na géneses legal e cultural do Radioamadorismo, e que é
> geralmente praticado por auto-didactas das ciências, por estudantes e
> profissionais dos ramos da electrónica e rádio, informática, física, das
> telecomunicações e do aeroespacial, entre outras.
>
> Radioamadorismo Desportivo - o amador da competição (comporta já alguma
> componente lucrativa e comercial, algum profissionalismo mesmo) está
> dirigido para os concursos e a competição entre amadores desportistas (do
> QSL, diplomas, taças e etc.) é geralmente praticado pelas outras
profissões
> que não são necessariamente do sector técnico, os melhores DXers
portugueses
> eram médicos, advogados, comerciais, hoje são executivos e etc.
>
> Radioamadorismo de Lazer e Tempos Livres - praticado por quem não sabe
> técnica, nem quer fazer competição ou desporto, mas por alguém que se
gosta
> de intercomunicar (agora já o faz pela Internet e até pelo GSM) por quem
> gosta de operar através de meios radioeléctricos. Por quem se inicia na
> rádio como amador, em geral são jovens e ou já cidadãos jubilados. Por
quem
> apenas quer passar algum do seu tempo livre ligado em torno da rádio, seja
> como receptor ou como emissor. Antigamente ele era praticado por
fazendeiros
> e pessoas que careciam das radiocomunicações de âmbito mais pessoal,
> sobretudo em África e na América, nos grandes territórios onde não existem
> as telecomunicações nem as estruturas dos meios exteriores de transmissão
> (telefones, televisão, Internet e etc.).
>
> O problema da legislação, é conseguir inserir toda esta diversidade de
> saberes, de conhecimentos e competências, e que são tão vagos e
> multifacetados, no mesmo pacote legislativo, com regras, com deveres e com
> direitos iguais para todos os amadores, quanto todos são afinal tão
> diferentes.
>
> Pessoalmente entendo que não se querendo, nem se sabendo dos aspectos
> técnicos da radioeléctricidade, no mínimo, que se saiba ser Operador
Amador
> de Rádio, e para tanto, que se dominem todos os requisitos e procedimentos
> exigíveis legais e técnicos, de igual forma que a um qualquer profissional
> treinado, seja militar ou civil.
> Os amadores de rádio, no geral, revelaram em muitos aspectos e ao longo de
> mais de 100 anos, possuírem mais e melhores competências, que muitos
> profissionais dos sectores. Não é nada que não se possa ter como objectivo
> cultural.
>
> Entendo que todo o Amador de Rádio deve necessariamente prestar Serviço
> Público e de Voluntariado. É um direito e um dever de todos os cidadãos.
>
> Considero o código de Morse um património e uma cultura a não perder.
>
> Reconheço que o Morse não deveria ser mandatório, contudo, quem o domina e
o
> quer treinar e praticar, deveria ser reconhecido e contemplado por esse
> esforço pessoal e cultural.
> Acho adequado que seja limitado o acesso a uma classe A, para quem não
saiba
> nem queira praticar o código Morse ou outra disciplina das
> radiocomunicações. É apenas isto, aquilo que afinal ainda distingue
aqueles
> que se esforçaram e quiseram aprender de todos os restantes que nunca o
> fizeram.
>
> Considero que não se deve impedir o acesso de todos os amadores e todas as
> classes a todas as faixas de frequência e serviços, pelo mero facto de
estes
> não estarem habilitados à prática do Morse ou outras disciplinas. Existem
> outras formas de limitar e regular as diferenças entre competências e
> dedicação de cada amador.
>
> De referir que do meu tempo, diversos amigos pessoais e colegas que são
> professores universitários e catedráticos da área da engenharia, foram
> impedidos pela DSR e ICP de prosseguirem a sua trajectória de amadores de
> rádio, isto por não terem querido fazer os exames de Morse da classe E
para
> a C, nos anos de 1970, refiro por exemplo CT1ZK - Prof. Carlos Neta do
ISEL
> e CT1ZO - Prof. Dr. Eng. Simões Piedade do IST.
>
> Agora eu pergunto: quantos milhares de amadores passaram depois de 1975
para
> as classes C, B e até para a classe A falsamente habilitados e
qualificados
> para a prática de Morse, que na realidade nunca souberam praticar Morse,
> agravados do facto de que nem sequer possuem conhecimentos de técnica.
> Alguma coisa esteve e continua mal durante estes últimos 30 anos.
>
> O modelo antes imposto pela DSR e seguido pelo ICP nos últimos 30 anos,
> reflecte hoje o laxismo e a incapacidade estrutural do radioamadorismo em
> Portugal (ainda pior em Espanha). Isto comparativamente com a excelência
> cultural e tecnológica do radioamadorismo que se desenvolve e pratica nos
> EUA, Japão e Alemanha por exemplo.
>
> Para concluir:
>
> Parece-me que a ANACOM possui hoje um conjunto de pessoas e de
profissionais
> bem mais despertos e empenhados que outrora. Entendo que alguns deles são
> pessoas muito competentes e interessadas, com elevado sentido cívico e
> profissional, susceptíveis mesmo de conseguirem promover e gerar mudanças
> essenciais ao desenvolvimento e modernização do Radioamadorismo em
Portugal,
> o mesmo seria dizer, pela elevação da Cultura da Ciência e da Tecnologia,
> estes são factores determinantes para o desenvolvimento sócio-económico do
> país mais pobre e do povo menos qualificado da União Europeia, esperemos
que
> sim, que seja possível.
> Bom já o mesmo não se poderá dizer quanto ao movimento associativo e
> federalista, que morreu ou está moribundo.
>
> Um abraço,
>
> Mariano, CT1XI
>
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